terça-feira, 9 de novembro de 2021

Economia Criativa

Ando colocando a cara no mundo tentando, com todos os cuidados, voltar ao normal. É curiosos como essa coisa de ficar “dendecasa” vicia. A internet facilita demais as coisas da vida e o cidadão chega a perder o “desembaraço” costumeiro de cair na rua, ir ao supermercado, ao shopping e outros lugares comuns. Preguiça ou a idade? Tenho achado que o transito está pior. Parece que todo mundo resolveu sair de vez. Até a cidade parece outra. Fico na dúvida: sou eu somente ou todo mundo sente essa estranheza? Bom, deixa pra lá... o assunto de hoje é outro. Como ia falando, tenho colocado a cara no mundo e, neste fim de semana passado, circulei em restaurantes e bares da vida. Mais do que isso, a convite do meu filho e minha nora, fizemos, com minha esposa, uma escapada pela zona da mata de Pernambuco indo à cidadezinha de Tracunhaém (formigueiro em tupi-guarani) localizada a 80km do Recife, com a intenção de ver de perto a produção de cerâmica utilitária e figurativa da cidade. O local é berço de muitos ceramistas famosos, com famas nacional e internacional. Até ja foi cenário de novela da Rede Globo de televisão (Coração Alado, com Tarcísio Meira no papel principal).
Uma boa rodovia federal (BR-403) nos leva praticamente até lá. Paisagens exuberantes da Mata Atlantica e dos canaviais pernambucanos para encher a vista de quem passa. A cidade é bem pequena, com menos de 15 mil habitantes e o IDH gira em torno de 0,650. É, certamente, uma taxa mediana. Acredito que a proximidade da Região Metropolitana do Recife facilita a vida daquela gente que pode não ser tão difícil. Apesar disso, circulando pelas suas ruas estreitas, altos e baixos, poucas praças, os sinais regionais de pobreza chegam a ser visíveis. Mesmo assim é de se enaltecer as inteligências e habilidades artístico-culturais de um povo que soube capitalizar as chances de desenvolver o que se chama, modernamente, de economia criativa, com base na arte da cerâmica de terracota (barro cru ou queimado) que terminou projetando a cidade no resto do Brasil e no Mundo.
Mestres da mão-no-barro se tornaram famosos e fizeram história deixando um legado que vem sendo preservado com orgulho e muita criatividade por uma gente hospitaleira. Entre esses se destacam: Zezinho, Nuca, Dona Nóca, Mestre Zuza, Maria de Nuca, entre vários outros. É formidável admirar de perto as formas cerâmicas que são boladas pelas calejadas dos artesãos locais e perceber a pegada de uma gente que se dedica, de corpo e alma, numa forma lúdica de viver e economicamente efetiva para seu digno sustento
Um traço marcante na arte cerâmica de Tracunhaém ficou “imortalizado” pelas mãos de Nuca (falecido em 2015) e seus discípulos (foto logo acima), que é o Leão Cacheado. Virou clichê de todos os documentários e afiches que se referem ao sitio cultural da cidade e, inclusive, do estado de Pernambuco. Seus trabalhos já foram expostos no exterior e seus leões cacheados estão pontificando em praças públicas, como no Primeiro Jardim, da praia de Boa Viagem, no Recife, e no Jardim do Sitio de Burle Max, no Rio de janeiro. Foi uma bela escapada, no fim de semana, e uma boa oportunidade de observar de perto um exemplo de economia criativa. Sugiro que visite Tracunhaém para ver um Pernambuco raiz. NOTA: As fotos ilustrativas são da autoria do Blogueiro.

7 comentários:

Jorge Fernando de Santana disse...

Amigo Girley, parabéns por mais um texto relevante. Relevante pela temática. Relevante pelo estilo. Relevante pela oportunidade do seu chamamento a que atentemos para os valores que possuímos e não cultivamos devidamente. Louvo sua convocação ao resgate desses valores.

IEDA Almeida disse...

Poxa, Girley !
Ando com muita vontade de ir a Tracunhaem , ando assim também … dendicasa . Saindo aos poucos. Vontade de comprar uma família. ( Jesus menino, Maria e José), para colocar no Jardim da nossa casa)
Cansei de árvore de natal .
Por acaso, chegaste a ver alguma?
Adoro esse leão cacheado .
Você sempre nos inspirando nas viagens!
Um forte abraço para vocês!

Jose Mário Galvão disse...

Fique tranquilo, a sensação da liberdade é essa mesmo kkkkk. Mas vá com parcimônia pq não está nada resolvido ainda, o bicho está pegando mundo afora.

José Paulo Cavalcanti disse...

Parabéns ao redator e fotógrafo. Tudo muito bom. Leve. E bem escrito. Abraços.

Ina Melo disse...

Bom dia amigo! Tenho me perguntado muito isto: será que mudei com a Pandemia? Aos poucos vamos deixando o casulo que nos foi imposto e, de repente não temos mais vontade de sair por aí. Esses quase dois anos no silêncio de Aldeia, com pouquíssimas idas a BV, está acontecendo algo estranho. Quando volto estou cansada como se tivesse participado de uma maratona. Logo eu, que adoro uma festa, ver pessoas. Aí lá vem a pergunta que dói na alma. Será que estou velha? Será que só a natureza nos desperta à atenção? Abraços e continues a nos deleitar com as tuas crônicas

Jocildo Bezerra disse...

Parabéns! O amigo discorre com maestria sobre um atraente recanto Pernambucano. A primeira vez que estive ali foi em julho de 1970.

Cristina Carvalho disse...

Gostei do post sobre Tracunhaém, seus ceramistas e suas belas e criativas cerâmicas. Estive lá há muitos anos e fiquei encantada. Tenho pretensão de voltar. Tema muito interessante para nós pernambucanos, pois a ceramica com seu leão cacheado, atravessou fronteiras levando o nome do nosso estado para “além mar”. Parabéns Girley!!!

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