quinta-feira, 5 de maio de 2016

Um país condenado à esperança

Cansei de refletir sobre a crise. A palavra impeachment e tudo que a esta se relacione já me causa fadiga. A frequência de novos e bombásticos episódios deixam-nos, pobres mortais, em completo clima de perplexidade. Nem bem faço uma reflexão sobre um lance e surge outro que suplanta os anteriores. No Brasil de hoje, cada amanhecer é precedido de expectativa. Fico desapontado com esse ambiente e resto tentando entender cada coisa e o conjunto da “obra”. Entre os muitos episódios, aquela votação na Câmara dos Deputados ainda não saiu da minha cabeça. Lembrando o humorista Sérgio Porto, sob o pseudônimo de Stanislaw Ponte-Preta, foi um verdadeiro FEBEAPÁ, isto é, um Festival de Besteira que Assolou o País. É bem verdade que teve muita gente que adorou e se divertiu muito. Fico me perguntando: seria cultural? Aliás, em meio aquilo tudo, lembrei também de outro mestre do humor que foi Millôr Fernandes quando disse acreditar que “quando o Criador criou o homem, os animais em volta não caíram na risada por uma questão de respeito” e para completar uma outra máxima dele e que gosto demais:  “a diferença entre a galinha e o político é que o político cacareja e não bota ovo”.
Como filho de Deus dei-me ao prazer, para desanuviar a mente e oxigenar o cérebro, de perambular, recentemente, por uma livraria, em São Paulo, onde passei o feriadão de Tiradentes, catando os lançamentos. Deparei-me com um livro que trata de esmiuçar biograficamente cada presidente que comandou a República do Brasil, desde Deodoro até Dilma. Pense numa coisa oportuna. Trata-se de uma obra interessante, embora que, em alguns trechos, o autor usa da liberdade literária com alguma dose de parcialidade. O livro denomina-se “Guia Politicamente Incorreto dos Presidentes da Republica” da autoria de Paulo Schmidt (Leya Editora, S. Paulo, 2015/16). É um trabalho de pesquisa interessante e serve inclusive como livro de consulta para aqueles que se interessam pela história republicana brasileira. O mais interessante é perceber logo nos primeiros capítulos – na verdade, primeiras biografias – que o Brasil ao longo da Historia foi dirigido por inacreditáveis “lapas de doidos”, com raras exceções intercaladas. Corruptos, ignorantes, pervertidos sexuais, sádicos, ladrões, carolas e desajustados mentais foi o que não faltou. Por outro lado, fica claro na obra, que todo(a) sujeito(a) que ocupa a cadeira da presidência acha que pode tudo. É certamente cultura política brazuca. O autor garante que os presidentes brasileiros acham-se com mais poder que imperadores romanos ou reis da Babilônia. E, desenhando o perfil de cada um, diz que Campos Sales e Nilo Peçanha tinham vergonha e escondiam a ascendência negra. Delfim Moreira era louco de pedra. Artur Bernandes criou um campo de concentração no Amapá para onde deportava seus oposicionistas. A vida sexual de Getúlio Vargas influenciou seu governo ditatorial. A renúncia de Jânio foi uma manobra política mal engendrada e terminou dando errada. Collor, já sabemos, praticava bruxaria contra os inimigos políticos. E Lula, vejam só, foi “dedo duro” na ditadura militar. Ainda não acabei de ler, mas imagino o que vem nos capítulos finais.   
O mais insólito de tudo é lembrar que, desde a tenra idade, sempre ouço falar do futuro promissor que se reserva para o Brasil. O país do futuro! Suas riquezas naturais, seu bravo e inteligente povo trabalhador e a vontade de crescer apontam para um tempo de fartura e continuo progresso. Mas, com essa cambada severgonha quando isto acontecerá? Ou somos uma Nação condenada à esperança?


NOTA: Foto da autoria do Blogueiro

4 comentários:

Cristina Henriques disse...

Esqueceu de falar de Sir Ney?Em Codó/MA (salvo engano)tem um centro de bate-bombo 24h muito frequentado por tal familia.A energia daquela cidade é esquisita.VOu todo ano lá,meu filho e o pai de meus filhos ainda estão lá trabalhando.E era esquisita a energia da cidade SLUIS/MA desde 85 quando fui lá pela 1a.vez.Um tal de acender vela para um e outro,ir na igreja e ter culto,desagregação familiar(raras exceções).A familia do sir Ney tem vida comentada de boca em boca.O tal 'poder'...
Engraçado é que o marimbondo tem regra rigida com comportamento dos filhos apesar de trabalhar por fora no quesito finanças.

Gedião Vargas disse...

Afinal, eu sempre esperei não ser o único da "voz (do) que clama no deserto"! Afinal, existem brasileiros conscientes de que nosso País carece de uma mudança de paradigma: o que o Girley Brazileiro acaba de nos sugerir com sua leitura sobre os presidentes da República é que temos o dever de mudar o rumo político do nosso País, temos a obrigação de alterar a estrutura administrativa do nosso Estado e temos a necessidade de redefinir a Identidade brasileira, sem alterar nossa noção de Pátria nem nosso sentimento de Povo. O que nos propõe é revisitarmos nossa história para dali retirarmos a lição essencial que nos cumpre aprender e pôr em prática neste momento de mudança, e que é REAPRENDER A VOTAR em pleno gozo da liberdade política individual, sem receios, sem subserviência. E para além da reaprendizagem do voto consciente, o mergulho na nossa história vai demonstrar o quanto o Povo brasileiro tem em vão esperado por "dias melhores". Como o Girley Brazileiro, eu e muitos outros, milhões de brasileiros, fomos gerados, criados, formados, educados sob "o mito do Brasil do futuro"...Até mesmo o Prof. Maílson da Nóbrega, (levado talvez pelo entusiasmo promovido pela renovada quimera desenvolvimentista de meados da primeira década do novo século) editou um livro com o título sugestivo "O Futuro chegou", onde explorava (justamente mas sem o referir porque, creio, o termo é de agora) este nosso "mito"... No entanto, continuamos "na mesma": crescemos umas décimas em alguns indicadores, baixamos em outros, mas no essencial, continuando a ser este Povo multifacetado, bem-humorado, brilhante por vezes, soturno em outras... mas fraco de intelectualidade, superficial o suficiente para não se interessar senão pelo imediato, sempre levado pelo outro mito até hoje nunca justificado de que "Deus é brasileiro"! Embora sabendo muito bem, estamos esquecendo de que - mesmo que "Ele" fosse brasileiro - Deus não interfere na vida dos mortais: somos nós que devemos tomar conta do nosso destino! Não há que confundir e muito menos misturar política com religião! Por isto, e em resumo, caso não levemos a efeito a MUDANÇA - necessária, radical, corajosa, decidida e imediata, vamos continuar incorrendo nos mesmos erros que a história demonstra termos cometido. Que o ser-humano seja imperfeito é assertiva comum; e isto significa que nossos anteriores presidentes da República e a atual presidente tiveram têm - e tê-lo-ão os futuros - a sua "face negra", seus inconfessáveis defeitos, seus recônditos vícios. No entanto, para que seja Representante único de seu Povo, para que se torne imagem exclusiva da Nação e chefe supremo de seu Estado, este/a presidente deve ser escrutinado ANTES de ser eleito, para que seu Povo, sua Nação e seu Estado não corram o risco de ter surpresas no futuro! Agradeço ao Girley Brazileiro por me permitir, agora, usar um dito humorístico também, mas lusitano, que diz: "há mais marias na terra", para significar a pluralidade de ideias e a comunhão de interesses!

Julio Torres (Chile) disse...

Excelente tu comentario que además es sorprendente. El discurso lleno de promesas lo hemos venido oyendo en todos nuestros países. Lo trágico-como tu dices- es que sigue siendo una esperanza al igual que la vida eterna. El asunto es que no tenemos tiempo para seguir esperando. Un abrazo Julio Torres (Chile)

Adierson Azevedo disse...

Ao chegar essa sexta-feira, me concedi o direito de me deliciar ao ler a nova coluna do Blog do Girley Brazileiro. Eu também, desde pequeno, me acostumei com os arroubos de triunfalismo inconsequente de nossos dirigentes máximos. Durante minha adolescência, nos EUA, recebia revistas Manchete falando das grandes inaugurações e do projeto Brasil Potência.
Após a Redemocratização, vieram o Plano Cruzado com os fiscais do Sarney, o Collor, com jeitão de Indiana Jones, o Plano Real que quase se acaba em 1998, o Lula com sua esperança vencendo o medo em 2002, e todos os triunfalismos da Era Petista, tipo, "nunca antes nesse país", a "marolinha", entre outros. Até mesmo agora, quando a vaca já está no brejo, os defensores de Dilma ainda tentam chamar tudo de golpe, que o processo é inválido, e que tem que ser anulado porque afastaram o Cunha.
Por isso me deixei deliciar com essa coluna e me pergunto: Será que estamos todos condenados a esperar por um futuro que nunca chega? Boa leitura e bom fim de semana a todos!!
Adierson Azevedo

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