Com muita frequência, nos últimos anos, vem se falando de um
processo de desindustrialização do Brasil. Associações de classe empresarial,
pesquisadores acadêmicos e analistas econômicos vêm alertando para os evidentes
sinais desse processo. Custos dos investimentos, custos dos insumus básicos de produção e de
energia, encargos sociais e trabalhistas, logística, imposto sobre o lucro,
juros altíssimos – inclusive os incidentes sobre o capital de giro –,
burocracia e marcos regulatórios, mão de obra despreparada e, por fim, a concorrência
dos produtos importados, de modo geral a preços competitivos e tecnologicamente
superiores, são os fatores mais evidentes causadores do problema. Tudo junto resulta no popular clichê de Custo Brasil. É um país diante de um desafio colossal para se situar entre as economias industriais
mais notáveis do mundo moderno. Pensar que no Brasil, segundo dados apurados
pelo Banco Mundial, uma empresa de porte médio chega a pagar o absurdo
percentual de 69,2% de imposto total sobre o lucro já é o bastante para
entender a questão. Enquanto isto, nos países da America Latina e Caribe este
mesmo percentual chega aos 48,3% e os países membros da OCDE (Organização para
a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) a taxa de percentual não passa dos
44,5%. É dose! O industrial brasileiro vive, isto é, sobrevive de teimoso que
é...
Tem estupidez maior do que uma empresa gastar 2.600 Horas,
por ano, no ritual dos pagamentos de impostos? No Brasil é assim! Nos países concorrentes
se gasta menos de 10% disto. Este dado foi colhido em “Doing Business 2010 – Brazil”, do Banco Mundial. Depois disso, nem preciso lembrar sobre
o que se reserva para o consumidor.
São essas coisinhas acima descritas que provocam essa
espantosa invasão de importados no nosso mercado doméstico derrubando as vendas
dos produtos nacionais e provocando a consequente queda da produção industrial
nacional. O mercado doméstico esta recheado das bugigangas ching-lings
ou mesmo dos mais sofisticados bens de capital ou de consumo durável. Lendo um
trabalho divulgado pela ABIMAQ – Associação Brasileira da Indústria de
Máquinas, encontrei informações que deixam qualquer industrial de “cabelo em pé”
e sem sossego para dormir: um equipamento tipo Centro de Usinagem, Made in China é vendido no mercado
internacional pelo equivalente a 10% do que se produz no Brasil. Ainda que se
leve em conta a desconfiança que se tem da qualidade do produto chinês e os
custos da produção por lá, é de se considerar que eles concorrem. E como
concorrem... O mesmo tipo de equipamento produzido na Alemanha – que sabe produzir
com qualidade – é mais barato 33% do que o produto brasileiro. Isto se repete
na grande maioria das máquinas e ferramentas. É indiscutível que estamos num “mato
sem cachorro”.
Neste fim de semana passado senti de perto como a coisa se
dá. Precisei substituir as torneiras da cozinha de casa, já gastas após vinte
anos de uso. Fui ao mercado e me deparei com produtos dos mais variados preços.
Foi preciso muita calma e a ajuda de um “consultor” para concluir a compra.
Preços altíssimos dos produtos fabricados aqui perto e preços tentadores dos
produzidos pelos caras dosoinhosapertados,
do outro lado do mundo. Fiquei num dilema de lascar. Eu tinha razão. Afinal estava
prestes a fazer um investimento para durar, pelo menos, dez anos. Gostei pra
caramba do design e da funcionalidade das torneiras chinesas, confesso. Mas, indo
prá lá e vindo pra cá, persistia uma dúvida atroz. Levo esta ou
aquela? Meu espírito
nacionalista soprava forte nos meus ouvidos, empurrando-me para o produto mais
caro. Depois de relutar e sob influência do meu “consultor” garrei das duas chinesas e corri para o
caixa. Veja a foto de uma delas, ao lado. KKKK Acreditem: paguei a metade do preço das similares torneiras brasileiras.
Com design mais convincente (para meu gosto, é claro), mesmo tempo de garantia,
tecnologia atualizada (revestimento interno de cerâmica, evitando a oxidação),
me dei por satisfeito. Espero que funcionem por muito tempo. Defendi meu bolso.
E os brasileiros estão fazendo isto a toda hora. E a indústria nacional? Que se
cuide! Exija a reforma fiscal, reforma da Previdência, melhor infraestrutura, e outras reformas necessárias.
Notas: Foto do Blogueiro.
Informações colhidas no site da Abimaq.
6 comentários:
Caro Girley:
Muito interessante a sua colocação. Também, as vezes, falo a mesma opção, todavia, em matéria de veículos, sou mais os fabricados por aqui ou de origens do Japão, Méximo, EE.UU ou mesmo a da Argentina, onde os produtos apresentam as melhores qualidades no desempenho e acabamento. Quanto a questão tributário, entendemos ser uma questão que os nossos parlamentares não levam a sério, ficando os projetos engavetados, atendendo sempre os interesses dos governadores que não aceitam reforma nenhuma. Se fosse escrever sobre isto, levaria muito tempo. Abraços ALMIR REIS
Caro Girley,
A economia brasileira está doente. Pagamos preços extorsivos em quase todos os itens sejam bens de consumo ou de capital, serviços, etc. Só a título de exemplo, dados recentes mostram que a despeito de pagarmos as maiores tarifas do mundo, temos velocidade de banda larga inferior a da Coréia do Norte (nem sabia que este animal existia lá). A indústria e comércio apresentam suas queixas, o governo faz de conta que está fazendo a sua parte e os consumidores continuam consumindo bovinamente sem questionar se estão e pior, se podem pagar os preços exigidos. A hora do garçom apresentar a conta vai chegar mais cedo ou mais tarde, independente do menu ter sido de primeira. Como alguém já disse com muita sabedoria, quando a maré baixa é que se vê quem estava nadando pelado. Isto vale tanto para uma sociedade quanto para cada um de nós, individualmente.
Abraços,
Celso Cavalcanti
Caro Girley:
Muito interessante a sua colocação. Também, as vezes, falo a mesma opção, todavia, em matéria de veículos, sou mais os fabricados por aqui ou de origens do Japão, Méximo, EE.UU ou mesmo a da Argentina, onde os produtos apresentam as melhores qualidades no desempenho e acabamento. Quanto a questão tributário, entendemos ser uma questão que os nossos parlamentares não levam a sério, ficando os projetos engavetados, atendendo sempre os interesses dos governadores que não aceitam reforma nenhuma. Se fosse escrever sobre isto, levaria muito tempo. Abraços ALMIR REIS
Meu primo Girley Brazileiro é um economista de mão cheia, com experiência desde os tempos da Sudene.
Este artigo no seu blog retrata uma lei que nenhum esquerdista pode revogar, a lei do mercado. O Brasil, e principalmente os seus governantes, anda muito esquecido dessa lei, trazendo transtornos para todos...
Obrigado Girley pelo material de primeira.
Rildo Pragana
Na hora da compra o preço fala alto. Esquecemos o patriotismo. Agora, essas torneiras não estão preparadas para a água da Compesa. O cloro logo destroi. Falo isso por experiência própria.
Eric Oliveira
É verdade @ericoliveira com menos de um ano uma delas deu defeito. A água passava direto e não teve solução. Tive que substituir por uma Deca com garantia de dez anos. Foi dinheiro perdido.
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