...e quando a noite chegava meu avô mandava um encarregado
ligar o motor gerador de energia e as luzes brilhavam dentro de casa. O ploc-ploc do motor, no fundo da
propriedade, dava um “fundo sonoro” rotineiro que somente silenciava às dez da
noite, quando, segundo os costumes locais, era hora de dormir. Era uma rotina
de vida bem comum da minha infância (ôxente, neste caso, faz muito tempo não!),
em Fazenda Nova (180km. distante do Recife), e que, de modo geral, se repetia nas
comunidades interioranas do Nordeste. Aliás, do Brasil. À medida que nos
afastávamos do Recife a energia elétrica ia rareando e entravamos nas brenhas,
onde gozei férias deliciosas. Mesmo assim, sem energia elétrica contínua,
vivia-se feliz e tranquilamente Lembro a graça que era ouvir rádio ligado a
uma bateria de automóvel e a geladeira
alimentada por querosene. Prá que mais?
Quando o motor era desligado e o breu se instalava, acendíamos candeeiros ou
velas e corríamos para cama. Felizes, que só!
A chegada da energia gerada pela Hidroelétrica de Paulo
Afonso, para acender e mover o Nordeste se constituiu no maior acontecimento da
segunda metade do século passado. O mundo se transformou e ninguém pode mais dispensar a eletricidade.
Na quinta feira passada, quando um apagão afetou metade do
Brasil, incluindo o Nordeste, (vide mapa lá em baixo) relembrei com um quê de saudade, aqueles dias da
infância, misturado a um estado de perplexidade. Como não tenho candeeiros nem
esses modernos focos de luz à bateria, recorri a uma vela tirada de uma
decoração da casa.Quando a energia caiu, pouco antes da meia-noite, eu estava
a caminho do aeroporto para levar meus filhos para um embarque. No meio da
escuridão vi-me ameaçado pela insegurança que reina no Recife. É nessas horas
que os malandros caem em campo. A sorte foi que os semáforos funcionaram muito
bem alimentados por baterias duráveis. O aeroporto se constituiu numa ilha
iluminada graças a um gerador próprio. Ainda bem, porque as aeronaves que se dirigiam ao Recife
tinham como aterrissar. Na estação de passageiros, porém, o clima era de
desordem. Uma fila descomunal de pessoas que aguardavam a volta da energia para
pagar o estacionamento ensaiava um tumulto e dava o tom do desmantelo. Diante
do tumulto a saída foi liberada e naquela noite – enquanto durou o apagão –
ninguém pagou estacionamento. A empresa tomou prejuízo enorme. Veja, a seguir, o panorama do Recife na noite fatídica. Ainda bem que era noite de lua.
O exemplo do estacionamento do aeroporto é insignificante se
comparado a outros serviços prejudicados e espalhados pela Região. Quantos
bares e restaurantes fecharam antes da hora e tomaram prejuízo? Quantas
cirurgias, inclusive as de emergência, deixaram de ser feitas. Mortes podem
ocorrer numa hora dessas. Quantas indústrias pararam suas produções e foram
obrigadas a rodar jornadas extras. Quanto isto e quanto aquilo? Veja o mapa da escuridão, a seguir.
Num mundo movido pela força elétrica, o Brasil parece não
ter ciência dessa referência e terminou relegando a segundo plano o trato
adequado ao seu sistema de geração de energia. Faltou planejamento, faltam
investimentos, falta manutenção das redes e do sistema nacional de interligação.
É o que se comenta. Hoje, até mesmo o Governo espera placidamente que ocorra um
apagão a qualquer momento e qualquer lugar do país. Haja irresponsabilidade... Semana passada, por exemplo, fiquei pasmo ao ouvir falar de
que o final da novela da TV (Avenida Brasil) poderia provocar um apagão dada a demanda de energia que provocaria. Achei aquilo incrível. Montou-se uma
prontidão e o problema não ocorreu.
No caso do apagão de 5ª. Feira, “foi uma coisa improvável”
afirmou o Ministro das Minas e Energia. Como improvável? Que tropeço desse
cidadão! Depois, constatou-se que foi um curto circuito num ramal entre o
Maranhão e Tocantins. Um curto por falta, seguramente, de manutenção! Mas, já
falaram em boicote armado pela oposição. Vejam só, já querem politizar o
problema. D. Dilma foi Ministra da pasta e deve estar “comendo um galo” porque não foi previdente. Te
vira presidenta! Dê duro nessa frente.
Agora, que dá medo disso ocorrer em tempo de Copa do Mundo
ou Olimpíada, isso dá... As cassandras, aliás, estão soltas torcendo por isso!
Deus nos livre dessa vergonha.
NOTA: Fotos obtidas no Google Imagens
2 comentários:
Caro Girley,
Os recentes apagões "acidentais" têm mostrado-nos como a nossa matriz energética é frágil, face ao crescimento econômico do Brasil (não resiste nem a um "pibinho").
Não precisa ser especialista para ver que mesmo sendo positivo o fato de termos uma matriz limpa - maior parte da energia gerada pelas hidroelétricas, ao mesmo tempo fica evidente a urgência em adicionar outras fontes (que não seja a nuclear, pelo amor de Deus!!! o Brasil não suportaria uma Fukujima no nosso quintal, quebraríamos de vez).
Somos privilegiados em sol e ventos e aí está a solução - energia limpa, gerada próxima aos locais de consumo dispensando grandes investimentos em redes de transmissão, baixíssimo impacto ambiental, cadeia produtiva de insumos e componentes explorável internamente, etc, etc.
Durante a COP15 em 2009 na Dinamarca, a China reconheceu o óbvio, que era a maior poluidora do planeta e parou de chantagear o mundo exigindo dinheiro para interromper a sujeira. Em dois anos passou a ser a maior produtora de tudo ligado a energia limpa - painéis solares, aerogeradores, smart-grid, etc, já estando próxima a ultrapassar a capacidade produtiva dos Estados Unidos e da Europa, que começaram a explorar esta área bem antes desse inocente e desinteressado "mea culpa".
Poderíamos aproveitar a experiência bem sucedida deles e transformar um problema real em uma grande oportunidade econômica.
Um abraço.
Celso Cavalcanti
Como disse Napoleão Bonaparte:
'Quando a China despertar, o mundo estremecerá'.
Pois é, a China despertou para a energia limpa e que fazemos nós?? colocamos gente sem omínimo interessequerno país,quer no seu povo. Omeliante Edson Lobão e sua "trupe", levam mais do que fazem ou deixam..
É colega, parece que vamos ficar adormecidos em "berço explendido" para sempre...
A Holanda que é um país pequeno e que tem bastante energia, se dá ao luxo de ter moinhos de vento e painéis solares aténos condomínios mais simples...
abs,
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