O recente desabamento de três prédios no centro da cidade do Rio de Janeiro, um dos quais de grande porte, com vinte andares, expôs de modo cruel o jeito irresponsável de ser da grande maioria dos brasileiros. Tudo baseado na velha e muito conhecida história do “jeitinho brasileiro” para que tudo seja alcançado, ainda que em prejuízo de alguém ou de muitos, como foi o caso em questão.
É revoltante saber, conforme as averiguações legais e constatações divulgadas, que aquele prédio maior foi tratado de modo agressivo e contrário a todas as regras técnicas de engenharia e convenções legais estabelecidas. Ali, aparentemente, cada condômino fez reformas absurdas, trabalhou um puxadinho, derrubou paredes,“podou” vigas e reduziu pilares estruturais, ao seu bel prazer, conforme as suas necessidades de layout. Além disso, abriu vãos descomunais para implantar janelas não previstas no projeto original, deformando arquitetonicamente um edifício do melhor estilo primeira metade do século 20, tão comum naquela área central do Rio. Tudo feito a base de “projetos” de reformas sem qualquer avaliação ou efetiva participação de engenheiros e calculistas e, sobretudo, alheios aos traços originais da construção. Certamente à base do olhômetro e num esquema do tipo derruba aqui e levanta ali.
Causou-me asco ver um mestre de construção, de obras em curso no edifício que desabou, declarar à reportagem que nunca esteve com um engenheiro orientando as obras de reforma de uma empresa de informática e que seguiu as ordens do proprietário da dita empresa.
O sindico do prédio posou de inocente – dando uma de Lula – dizendo que não sabia de nada e que ficou surpreso com o acidente. Agora se sabe que ele mesmo havia concluído, pouco antes do acidente, uma reforma no vigésimo andar e os entulhos de demolição sequer haviam sido retirados de cima do edifício. Sabe-se lá o que não havia por lá. No meio de tantos escombros do que vale essa porção lá de cima.
Prédios desabam pelo mundo afora, é verdade. Mas desabam por outros e diversos motivos. Nem, por isso, devem ser motivo de consolo ou desculpas para nosso caso.
O caso do Rio de Janeiro expôs o Brasil na mídia internacional, que já vive permanentemente de olho nas coisas negativas que ocorrem por aqui. Isto dói no espírito do brasileiro responsável, empenhado em mostrar o que de bom e positivo existe entre nós.
O outro lado do caso, deveras triste, restou estampado nas fisionomias de dor e tristeza das pessoas que perderam entes queridos ali soterrados e que tiveram interrompidos projetos de vida, de forma brutal e, como se diz popularmente, de maneira idiota.
Já agora, oito dias depois da tragédia, um novo horror se divulga a respeito de cinco pessoas desaparecidas e que supostamente têm seus restos mortais dilacerados e misturados aos escombros retirados pela empresa de limpeza urbana carioca e jogados num aterro de detritos na Baixada Fluminense. Meu Deus! Que horror! O que passará pelas cabeças desses familiares traumatizados pelas perdas? Vai ver estão sendo devorados pelos abutres.
É comum se dizer que “o brasileiro só fecha a porta depois de roubado”... Inspirados nessa sabedoria popular, bem que poderíamos lançar uma campanha nacional contra os puxadinhos e reformas que se multiplicam pelo Brasil. E, quando houver, que sejam rigorosamente fiscalizados e multas pesadas sejam aplicados aos contraventores. O jeitinho brasileiro tem que ser limitado ou abandonado. Tem que ser abolido das cabeças do Brasil. Essa maneira de viver nem sempre dá certo. Há sempre um dia qual a casa cai! E, neste caso, caiu!
NOTA: Foto obtida no Google Imagens
quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012
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5 comentários:
Caro Girley:
Aqui estou, fazendo meu primeiro comentário do ano no seu Blog. Como o assunto por vc abordado tem tudo a ver com minha profissão, não podia deixar de me manifestar. Fatos como este, que não é o primeiro e infelizmente não será o último, está relacionado à muitos fatores além daqueles já citados por vc. Mais uma vez somos vítimas da memória brasileira, que facilmente esquece os acontecimentos e consequentemente as lições que fatos como este nos deixa. Lamentavelmente sabemos que após o carnaval ninguém mais falará sobre o ocorrido. Mencionar as irregularidades cometidas pelos construtores, proprietários e poderes públicos seria abusar do seu espaço, mas que fique aqui meu lamento pelos descasos cometidos diariamente neste País do esquecimento e do jeitinho. Abraço a todos.
Orlando Chalegre
Caro amigo, agora com a chega do Carnaval, tudo passa desarpercebido, só querem cair na farra e os politicos, mal de importam do acontecido.
Isto é nosso Brasil
Amigo Girley
Assistimos perplexos...03 prédios desabaram num piscar de olhos!
Poeira, muita poeira que encobriu a queda de mais um ministro!
Pelo visto, um jeitinho daqui, um troquinho de lá... e muita casa caindo! Muitos ministros caindo! Já são sete. Êpa! Sete não é a conta do mentiroso? Adjetivo nada mais apropriado para...Não? Penso, logo desisto...um dia a casa cai? Não, ela já caiu. Cabe a nós juntarmos os caquinhos e soerguê-la, mas lógico, com uma construtora formal, com bom(boa) arquiteto(a), um(a) engenheiro(a), ART do Crea, mestre de obras pedreiros e ajudantes registrados, bem alimentados e com toda documentação para o habite-se. Utopia? Não! Só depende de NOSSAS atitudes.
PS. Sábado, 21h, receita para relaxar depois de uma semana pauleira - ler o blog do GB, acompanhado de um bom John...depois um bom banho para tirar a POEIRA!
Abraços
Edna Claudino
Girley,
Veja que interessante, uma senhora, residente em um prédio, em frente ao edifício Liberdade, foi entrevistada, ao vivo, pela Globo, e pediram para a mesma relatar o que viu.
No meio da entrevista, a repórter da Globo perguntou se ela "algum dia imaginou que isso pudesse acontecer" na frente da casa dela. A resposta afirmativa, que há 30 anos o prédio inclinou, com as obras do metrô, foi inesperada pela repórter e pelo estúdio da Globo.
O mais curioso, é que a tal notícia, com o vídeo, que vinculava os dois fatos, desapareceu, misteriosamente, do site da globo (www.g1.com) e nenhuma vinculação mais foi feita, nem há mais o link para a matéria.
Simplesmente o fato foi ignorado, depois de ser lançado ao ar, na rede.
Veja no link, ao final, que o túnel do metrô, foi escavado na frente e passa sob a rua do prédio que caiu.
Mais que obras de reformas, mais que janelas, mais que puxadinhos, um prédio estreito, de vão aberto, sofrer uma inclinação de cerca de um palmo (segundo a moradora da mesma rua), para um dos lados, é, no mínimo, um fator a ser considerado e não eliminado, principalmente se não houve monitoramento, ao longo dos 30 anos.
http://oglobo.globo.com/rio/edificio-que-desabou-no-centro-sofreu-inclinacao-em-1976-3798403
Celso MF
Professor,
Vi com pesar as imagens na TV, mas fiquei mais perplexa ainda com o comentário de um de seus leitores, de que "o prédio inclinou há 30 anos com as obras do metrô" e ninguém fez nada...
Abraço,
Danyelle Monteiro
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