sexta-feira, 6 de maio de 2011

TERRA DOS AFOGADOS

O óbvio acontece no Recife e o drama se repete na zona da Mata Sul do estado. Exatamente como eu previa no ano passado, no mês de junho, quando vaticinei (tô é arretado...) que os governantes logo esqueceriam as tragédias da época.
Hoje, enquanto a capital está submersa no mar da irresponsabilidade administrativa, o interior desaparece por não verem cumpridas as promessas redentoras. Num ano de eleições, como foi 2010, prometeram o céu. Graças a isso, ganharam as eleições! Não foi? Deram como agradecimento o ônus do abandono...
Qualquer cidadão recifense sabe que, com uma chuvinha de nada a cidade submerge e o pânico se instala nas pessoas e nos motoristas em face da desmedida desordem reinante. E se algum “espírito de porco” semeia um boato, como o de ontem (quinta feira, 5 de maio de 2011) a cidade se transforma na antevisão do inferno.
É incrível o que acontece nesta cidade: o inverno chega destruindo e quando, aos poucos, vai dando lugar ao sol do verão, que volta a brilhar e esquentar os “quengos” dos administradores da cidade, levando-os, aparentemente, ao ponto de fusão, eles se esqueçem de limpar as galerias pluviais, os rios e canais e, por fim, as ruas da cidade, cada vez mais imundas. O resultado sai caro e é cobrado no inverno seguinte.
O Recife é hoje uma das cidades mais sujas do país. Uma vergonha! Uma cidade abandonada. O Burgomestre está muito mais preocupado com as futricas políticas do que com os seus eleitores, entre os quais não me incluo, porque meu voto ele jamais teve ou terá. Alheio às responsabilidades de administrador, enquanto a cidade se afogava, ele estava dançando num tablado flamenco de Madrid. Ele dançava por lá e nós “dançávamos” aqui... gostasse do entre aspas?
Moro numa zona tida como nobre da cidade, ironicamente chamado de bairro dos Aflitos. É nesta época de chuvas que entendo melhor a denominação. Vivo permanente e literalmente aflito, porque se a chuva me pegar em casa, fico ilhado e se me pegar na rua, não consigo voltar para casa. Em dias de chuva os vizinhos mais descontraídos praticam esqui aquático e tiram os barcos da garagem e navegam esportivamente pelo leito do rio, digo, da rua. Quer ver uma coisa

inacreditável? Meu filho, voltando de viagem, alta noite da última sexta-feira (29.04.2011), não pode vir para casa por falta de táxis e, diante da cidade afogada, ficou retido no aeroporto. Sem outra alternativa, terminou indo dormir num hotel, em Boa Viagem. Até por segurança, é claro. Aqui prá nós, é de lascar!
Quer ver outra coisa estúpida: um centro de compras no bairro de Casa Forte, aqui bem próximo, está há dois dias fechado por conta da inundação que sofreu, no andar térreo. Olha essa foto aí, a seguir. Um canal, na lateral do prédio, transbordou e invadiu as lojas térreas, a casa de força e caixas de elevadores. Um desastroso prejuízo para quem se municiou de mercadorias e se preparou para faturar na venda de presentes do dia das mães. Quem vai pagar o “pato”? O contribuinte! É claro! Aquele mesmo que paga IPTU caro e ISS inaceitável, que abarrotam os cofres da Prefeitura. Esses são os idiotas que, numa crise de amnésia e no entusiasmo da festa eleitoral a cada quatro anos, votam nos irresponsáveis, responsáveis pela situação calamitosa que vivem hoje. O ideal seria que as eleições ocorressem na época do inverno rigoroso. Eu queria ver irresponsável ganhar eleição. No minimo trocariam de irresponsável... ai, doeu... E na Zona da Mata Sul do estado? Meu Deus! Não posso esquecer o trabalho de ajuda que realizamos no ano passado, com Shelterboxes, do Rotary International, tentando minimizar o sofrimento daquela gente pobre e saturada de tantas e repetidas enchentes. Taí! Admiro essa gente corajosa e moldada com um barro da cor da esperança. Inocentes, acreditam piamente que os governantes vão dar uma solução ao problema e, no inverno seguinte, estarão livre do pesadelo. É doloroso ver que, a cada desastre, sem ter outra coisa a fazer, enterram os mortos, reconstroem ou limpam a casa atingida até o teto, compram novas tralhas e voltam a se instalar no mesmo sitio. Até quando, gente?
Duas coisas para terminar: será que o que foi prometido, hoje, pelo Governo do Estado vai sair do papel? Prometeu construir não sei quantas barragens no interior. Tomara que ele cumpra. Depois, disso, uma perguntinha que não cala: se essa coisa do Recife submerso acontecer numa semana ou dia de Copa do Mundo, em julho de 2014, em que vai dar? Deus que nos acuda, nessa terra dos afogados!



NOTA: Fotos obtidas no Google Imagens

12 comentários:

Hugo Caldas disse...

Girley
Hoje o nobre amigo está realmente insuperável. Com a corda toda. Também, não é pra menos. Vosmicê iniciou a sua bela peroração com a adequadíssima palavra "óbvio". Isso me relata ao grande Nelson Rodrigues quando cunhou "o óbvio ululante" hoje perfeitamente aplicável aos petralhas que nos governam. Tomei a liberdade de postar a sua (e nossa) ingignação no Blog do Hugão. Veneza Brasileira mas nem tanto! Meu abraço. Hugo

Angela Barreto disse...

Sobre "Terra dos Afogados", como recifense também aflita, apesar de morar no bairro de Setúbal, venho te agradecer pelas justas considerações e justíssimas críticas ao atual prefeito João da Costa, cuja administração foi a pior que o Recife já teve em todos os tempos.
Pela nossa desgraça, graças ao apoio do ex-prefeito e atual deputado federal João Paulo, esse estrupício de administrador, que nunca foi político, foi eleito e empossado, mas com as graças de Deus e do povo nunca mais outra vez, em tempo algum, nem serve sequer para ser gari da prefeitura do Recife, quanto mais para ser prefeito de uma cidade como o Recife.
Só nos resta rezar POR UM MILAGRE, E QUE ESTE INVERNO seja mais amenizado pelas chuvas, porque o que estamos vivendo já é considerado CALAMIDADE PÚBLICA.
SOCORROOOOOOOOOOOOOOOO, JESUS!!!
SALVA-NOSSSSSSSSSSSS!!!
Abraços, com a minha admiração e grande apreço.
Ângela Barreto

Antonino Duarte disse...

Amigo Girley,
Falta nesse país uma nova revolução francesa. É preciso pendurar nos postes cabeças.
Abraços
Antonino Duarte

Adilson Carneiro disse...

CARO GIRLEY
Nehuma cidade aguenta essa carga de precipitação pluviometrica. comparando com nós TOMAMOS MAIS DE 30 LITROS DAGUA POR MES MAS NÃO DE UMA VEZ.
Realmente falta um planejamento para represar as aguas . quando o prefeito não entende das coisas o povo se lasca. O BRASIL TEM QUE TIRAR O PT DO PODER NO ENTANTO NADA EXISTE DE MAIS INCOMPETENTE QUE A NOSSA OPOSIÇÃO.
FENOMENOS CLIMATICOS SÃO OBRA DOS HOMENS. SENHOR JOÃO CARLOS QUE SE CUIDE POIS AQUELE SHOPPING RIO MAR ESTA NA CALHA DO CAPIBARIBE JUNTO COM O MAR MAIS NA FRENTE.
Suas palavras no artigo foram objetivas mas precisa chegar a grande imprensa que é vendida porque o governo LULLA torrou 10 bilhões em propaganda, e assim jornalista é igual a p#&@, vendidos ao governo.
Ainda ,mandou 61 bilhões para os paises outros e o nosso povo que se FFFF. E a imprensa nada fala . O FILHO DE LULLA COMPROU UMA FAZENDA POR 47 MILHÕES DE REAIS EM SOROCABA e de nada isso o afetou.
Voce devia ter uma coluna em jornal, como esse daqui, de 25 centavos, que logo com seus artigos venderia tudo.
PRECISO QUE VOCE ME AJUDE A FAZER O BLOG DA CORRUP$$ÃO.
meu abraço
Adilson Carneiro

Zilton Antunes disse...

Meu caro Girley, concordo com as críticas formuladas no artigo Terra de Afogados. Também moro nos Aflitos, sinto o drama dos moradores do bairro, apesar de ser aposentado e, por consequência, ter mais autonomia para administrar minha rotina. Porém, esta semana o caos no trânsito era tanto que desci para ver o que estava provocando tamanho congestionamento e confusão. Nem precisei ir muito longe, para constatar que era o eterno alagamento por trás do Colégio São Luís, o qual se estende do Museu do Estado à confluência das ruas Alfredo Borba e Paulino Gomes de Souza. Um problema antigo, bastante conhecido e esquecido, sobretudo pelas autoridades municipais.
Um fraternal abraço e continue sendo este admirável crítico e defensor dos direitos de nossa comunidade. Zilton

Regina Pinto Ferreira disse...

Olá Girley!
1. A Terra dos Afogados e a minha rua foi dos carros afogados, carros foram parar com rodas na calçada, bombeiro foi chamado para tirar pessoas do bar na esquina da rua. No dia seguinte as pessoas estavam tirando água dos carros com balde e outros chamaram o reboque. Um caos. Fiquei livre graças a Deus e a garagem.
2. Taxi é outro dilema, quando chove os taxis desaparecem. Ou não atendem o telefone ou simplesmente não chegam.
3. E se o trânsito "normalmente " é péssimo, quando chove ninguem anda. Já temos ruas estreitas, carros novos diariamente aumetando o nº nas ruas, os recifenses estão comprando carros cada vez maiores, observo que em cada carro tem apenas uma ou duas pessoas, o transporte público da pior qualidade, não há ciclovias. E ai, qual a solução?
bj, Regina Pinto Ferreira

Danielle MOnteiro disse...

Boa noite querido professor,
A situação está insustentável e apesar de todo o caos, acredito que no médio e longo prazo nós (e quando digo nós me refiro à sociedade em parceria com o poder público, ONGs e empresários) seremos obrigados à pensarmos objetivamente em soluções para esses problemas... e apesar desse prefeito João da Bosta ser um fraco, ninguém conseguirá resolver esses problemas sozinho e da noite para o dia... conversando com especialistas na área de geologia e florestal, tomei conhecimento que seria necessário (pra começar), um reflorestamento no entorno da cidade e a formação de pequenos bosques na região metropolitana do Recife para conter parte da água; porém, tem que ser devidamente planejado, tem as áreas certas, as espécies de mudas corretas para cada área, enfim, não pode ser decidido e realizado por meia dúzia de autoridades incompetentes no assunto, eles terão que montar uma equipe interdisciplinar com geólogo, engenheiro florestal, biólogo, especialistas em recursos hídricos, em transportes, em logística, economistas, enfim... não dá mais para fingir, não adianta dizer que vai "reconstruir Palmares ou Água Preta" se não houver um planejamento correto, com técnicos que não se vendam, porque o resultado agora vem um ano depois, com novas enchentes...em caráter de emergência não precisa de licitação, então, proponho que o Sr. Governador, em quem eu ainda acredito que tenha boa vontade, convide e contrate os melhores de cada área para resolver esse problema, agora eu digo "os melhores", e não os amiguinhos de A ou B. Concomitantemente a disciplina de educação ambiental deverá se tornar obrigatória nas escolas municipais e estaduais, além de ações específicas junto às comunidades carentes e que residam próximo de rios e encostas, inclusive, podemos criar algumas cooperativas de catadores nessas comunidades para que ao invés de jogarem o lixo nos rios, ganhem dinheiro vendendo esse "lixo" como plástico, papel e etc. para empresas que trabalham com essas matérias-primas...
Não dá mais para continuarmos nossa "dancinha" como se nada estivesse acontecendo... quero viver num AMBIENTE harmônico, equilibrado, pois para quem não sabe ESSE DIREITO É FUNDAMENTAL... está instituído na lei.
Grande abraço,
Danyelle Monteiro

ORLANDO CHALEGRE disse...

Prezado Giley:

Aqui estou novamente fazendo comentários sobre suas palavras, que como sempre, são muito providenciais e elucidativas. Não obstante a distância em que me encontro do meu querido Recife/Pernambuco, não deixo de me informar sobre o que acontece no dia a dia da terra onde se encontram meus filhos e amigos como você. É profundamente lamentável, mas temos que admitir a realidade que acontece nos poderes constuidos da nossa cidade, do nosso estado e porque não dizer do nosso país. Vemos constantemente nossos governantes se arrudiarem de acessores medíocres, sem a competência devida para darem soluções realmente definitivas a problemas que afetam o povo que os elegeu, numa demonstração de total menosprezo àqueles que os puseram no comando de suas cidades, estados e país. Vemos constatemente a nomeação de pessoas que não têm a menor capacidade para assumir determinados cargos, mas como são filiados ao partido e/ou aos seus coligados ou colaboraram com as eleições, são premiados com posições nos diversos escalões de governo para se benficiarem das benesses que eles lhes oferecem. Lembro-me muito bem que desde meu tempo de estudante, na década de 70que as soluções para os problemas que afligem o Recife e ajacências, eram discutidas nos meios tecnicos e tenho certeza que as soluções são perfeitamente conhecidas nesses meios, porém como elas não são produzidas por pessoas com vínculos políticos, ou por pessoas que não pertencem aos quadros dos partidos de situação, são esquecidas ou mesmo arquivadas. Os governos sabem muito bem que as universidades possuem um potencial incomensurável para estudar e desenvolver projetos que podem solucionar muitos desses problemas. Senhores políticos, vamos acordar para a realidade e começar a conquistar seus votos com atitudes concretas e palpáveis, pois o povo está cansado da estratégia da promessa.

Abraços

Orlando Chalegre

Mauro Gomes disse...

Caro Girley,

Temo que as mudanças no clima vireram para ficar. Se for assim, no próximo ano amargaremos mais um suplício desses visto que não existem alternativas de curto prazo.

Mauro Gomes

Tarciso Calado disse...

Girley. Parabens pelo ARTIGO. - TERRA DOS AFOGADOS- Estou enviando, à todos os meus contatos e amigos. Tarciso Calado

Ronaldo Carneiro disse...

Caro Girley - parabéns pelos temas levantados em seu blog. Abs. Ronaldo Carneiro (Portugal)

Maria disse...

Acabei de receber o link para o seu Blog atraves da Angela.

Fico impressionada ao saber que Recife continua a mesma: choveu, o caos se instala. Alias, recordei-me que ha mais de 30 anos perto do Mar Hotel, em Boa Viagem, onde moram os meus famiiares, sempre ficam tambem ilhados quando chegam as chuvas. Nao foi diferente dessa vez. Minha mae, com 87 anos, sem poder sair de casa pois o carro e a rua estavam cheios de agua imunda. Perdeu entao compromissos medicos.

Cruzemos os bracos e aguardemos as proximas chuvas? Parece que e tudo o que podemos fazer.

Que pais e esse????

Recados das Urnas

Para alivio nacional o processo eleitoral deste ano está chegando ao fim. Muita coisa rolou e muitos recados foram dados pelos eleitores. Em...