A ressaca da derrota brasileira nos gramados sul africanos aos poucos vem passando. Mas, aqui, em Pindorama mesmo, tem gente – em Pernambuco e Alagoas – longe de sair de uma ressaca violenta, decorrente das enxurradas de junho passado. O quadro ainda é doloroso. Ou melhor, é a cada dia mais complicado. O cenário é de um fim de guerra ou terremoto, dada a destruição que restou. São, mais ou menos, 150.000 almas sofredoras. É desolador e sem perspectivas em curto prazo. As pessoas padecem e se desesperam aguardando ajudas que só chegam à duras penas e à custa de muitas dificuldades. O pior é que, à medida que o tempo passa, a vida em abrigos sem estrutura adequada e em ambiente promíscuo, aliada à falta de higiene, doenças infecciosas se alastram complicando mais ainda o quadro. Uma cena sem precedentes.
Diante de governos impotentes – quase sempre apontados como os maiores responsáveis pela desgraça – o cidadão comum, individualmente ou reunidos em ONGs, armam mutirões de solidariedade, para fazer chegar aos flagelados ajudas emergenciais, que terminam sendo as mais importantes.
Na cena desses mutirões, algumas coisas saltam aos olhos de uma sociedade perplexa com o ocorrido: a primeira é o lamentável fato de que, mesmo diante das tragédias coletivas e de proporções dantescas, surgem indivíduos, sem caráter, que, de algum modo, tentam tirar proveito da desgraça alheia.
Repugnante a atitude de políticos que, em Alagoas, decidiram fazer chegar doações apenas para seus correligionários, isto é, no seu curral eleitoral. São figuras abjetas, fazendo campanha eleitoral no leito da desgraça! Foi preciso parar as distribuições de donativos, para impor ordem na praça. Para esses, só mesmo, uma resposta negativa nas urnas, coisa que os ingênuos não atentam fazer.
Outro caso tão repugnante quanto o de Alagoas foi o de um canalha, no Agreste pernambucano, que, por telefone, buscou empresários e pessoas físicas pedindo contribuições para uma ação de assistência aos flagelados. O vivaldino dava o número de uma conta bancária e aos poucos viu os depósitos chegando. Quando a conta já somava mais de cinco mil reais, alguém descobriu a farsa e o elemento deletério foi desmascarado e preso.
Mas, a maldade não fica por aí, porque, pasme, no meio dos donativos arrecadados, passando por triagem antes da distribuição, vão sendo encontradas inusitadas peças como brinquedo e utensílios domésticos quebrados e imprestáveis, produtos alimentícios fora da validade, roupas sujas, eletrodomésticos quebrados e sem possível conserto e, por incrível que pareça, fraldas descartáveis usadas! Esses “gentis doadores” parecem ter aproveitado a oportunidade para fazer faxina em casa.
Quanta miséria reunida, num mesmo espaço e com diferentes formas: a do flagelado, o ladrão, o mau político e o doador sem escrúpulo (delicadeza de caráter). Como pode? ...
Mas, como nem tudo está perdido e ainda existe o que costumo chamar de oposição do BEM, eis que algo diferente e competente surge nesse cenário de dor. Falo, agora, da vitoriosa ação do Rotary Club International, com seu Programa Shelterbox. Inédito no Brasil, a ajuda humanitária que essa admirável entidade internacional oferece faz, indiscutivelmente, a diferença nessa campanha de apoio aos desabrigados de Pernambuco e Alagoas.
Trata-se de uma esplêndida forma de imediata ajuda às comunidades atingidas por desastres da natureza (terremotos, inundações, tsunamis, ou similares), criado pelo Rotary International, na Inglaterra, proporcionando alivio e dignidade a pessoas desabrigadas. Foi assim, por exemplos, depois dos terremotos do Haiti e Chile, desastres na Ásia e agora ajudando nordestinos desabrigados por conta de inundações. Caixas contendo tendas de 25m², para abrigo de até dez pessoas, utensílios domésticos, colchões, fogão, depurador de água, ferramentas, brinquedos, material didático, entre outros itens são levados a pontos dos mais distantes do planeta, onde populações sofrem desastres coletivos. Aos poucos, 1.000 caixas estão sendo distribuidas em Pernambuco e Alagoas.
Orgulho-me de pertencer a essa Entidade que reúne mais de 1,2 milhão de cidadãos no mundo inteiro, dispostos a prestar serviços humanitários “dando de si, antes de pensar em si”. O BEM existe e pode ser exercitado por amor ao próximo e, nesse sentido, o Rotary International é uma referencia mundial.
NOTA: Foto obtida no Google Imagens
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14 comentários:
Caro Girley:
Bela narrativa que me fez muito bem, pelo amor e pelo sentimento de revolta que certas atitudes nos causam. Estava pensando em escrever sobre isso, mas não preciso mais.
A respeito do Rotary, você ainda me deve esta, lembra?
Grande abraço,
Corumbá
Você disse tudo, amigo. Vou copiar seu artigo e remeter a todos os meus contatos.
Forte abraço,
Philipe
Caro Girley,
Sem dúvida foi uma das iniciativas mas preciosas. Parabéns a todos os que fazem o Rotary pelo belo trabalho desenvolvido.
Mauro Gomes
Companheiro Girley:
Parabéns mais uma vez pela visão crítica e posicionamento ético sobre o assunto. Como dizem, é nas situações de desespero que realmente conhecemos a essência dos homens.
Abraço, Vitor Hugo
Caro Girley:
Parabéns por su última postagem en el blog do GB. Pese al sufrimiento que causan las situaciones límites, siempre tienen una consecuencia positiva, que es la de desenmascarar ladrones, aprovechadores y canallas de toda condición, y la de resaltar acciones de bien, como la encomiable iniciativa del Rotary, comunidad a la que tú perteneces con mucho orgullo.
Jorge Morandi (Argentina)
Caro Amigo e Companheiro Girley:
Temos acompanhado daqui, deste cantinho europeu, os flagelos da natureza nessa linda terra nordestina. Ontem aí, amanhã aqui ou em qualquer outro lugar deste planeta, que devia ser predominantemente verde.
Aproveito para lhe transmitir o meu desapontamento por não nos ter telefonado (a mim e/ou à Inêz) aquando da sua recente passagem por esta ANTIGA, MUY NOBRE, LEAL E SEMPRE INVICTA CIDADE DO PORTO.
Fiquei também muito surpreendido pelo conteúdo da sua postagem no seu Blogue sobre o painél que viu de publicidade a uma água mineral em que aparece uma "carpideira". Óbvio que se trata de propaganda inteligente assente numa figura mítica, mas há muitas, muitas, décadas desaparecida da cena verdadeira, tal como os então denominados "gatos-pingados" - figuras profissionais que acompanhavam os funerais.
Não consigo entender como o Companheiro não percebeu que se tratam de painéis publicitários que pululam - aqui no Porto - nas estações do Metro (metrô) e que assentam num imaginário das gerações atuais, incluindo a minha, que já não assistiu à vivência dessas mulheres.
Azar maior nosso - de Portugal - seria se se tivesse referido a que os Correios de cá ainda andam a cavalo e tocam a corneta quando chegam para entregar as cartas, pois é esse o conteúdo dos painéis de publicidade dos CTT, ou ainda se se tivesse reportado à publicidade a uma marca de vassouras que exibe uma bruxa a cavalgar uma dita (vassoura), mas em cima do autoestrada, simbolizando que se trata de uma vassoura super-rápida.
Um abraço amigo e fraterno
Carlos Jorge Mota / Inêz Mota
(Portugal)
Companheiro Girley,
Muito oportuno os seus comentários a respeito do sofrimento dos "pernambucanos" nas areas atingidas pela enchentes. E a pronta intervenção de RI atuando com um programa de ajuda inedito no Brasil
SDS
Carlos Antonio Domingues
Companheiro Girley:
Parabéns mais uma vez pela visão crítica e posicionamento ético sobre o assunto. Como dizem, é nas situações de desespero que realmente conhecemos a essência dos homens.
Abraço, Vitor Hugo
Girley, que bom que no mundo ainda existam pessoas pensando em outras como você e não somente nos seus interesses eleitoreiros como atuam nossos representantes. Vamos sim continuar ajudando a quem passar na nossa frente lembrando-nos sempre que Deus nunca pediu que tenhamos sucesso, a única coisa exigida é que sejamos fiéis. Obrigada pela solidariedade durante essa enorme tragédia. ana maria menezes Boa Viagem
Caro Gilley, falam que Voltaire dizia que "o mundo só teria jeito quando se enforcasse o último militar com a tripa do último padre". Não sei se isso foi dito por ele pois, como historiador, desconhecimento qualquer documento escrito por ele que tenha tal afirmação, entretanto, se ele de fato disse tal frase, hoje diria um pouco diferente: O MUNDO SÓ TERÁ JEITO QUANDO SE ENFORCAR O ÚLTIMO POLÍTICO COM A TRIPA DO DERRADEIRO ELEITOR. Eu não concordo, até porque, na última declaração de bens dos atuais candidatos a cargos eletivos, exceto Collor, nenhum deles tem um patrimônio digno dos cargos que ocuparam, fato que me faz concluir que os "razoáveis" salaria que perceberam foram aplicados inteiramente em benefício do povo. Abraços, Arlégo.
Prezado Companheiro Girley,
Parabéns pelo artigo que você escreveu sobre o Dar de sí antes de pensar em sí, fazendo referência a situação dos flagelados em Pernambuco e Alagoas.
Aproveito para pedir sua autorização, permitindo que este brilhante artigo venha a ser publicado em nosso Boletim Semanal do RC de Campinas Sul, Distrito 4590. Obrigado
Saudações Rotárias
Paulo Celso Motta
GI 2012/2013
Meu caro Comp. Girley,
Parabéns pelo comentário sobre a Shelterbox no seu blog.
Acredito que estaremos iniciando com as tendas em Palmares na quarta-feira ou quinta-feira.
Um abraço,
Leandro Araujo
(Governador do Rotary D4500)
Belíssima atitude do Rotary, sem falar da criatividade da doação.Fico feliz de saber que ainda existe pessoas que se preocupam com o sofrimento alheio.
Parabens ao clube e a seus comentários inteligentes e bem colocados.
Valdilene Silva
Prezado Girley
Vivi com atenção seu sofrimento pela falta de patriotismo entre nós que somente se manifesta durante o campeonato mundial de futebol e a exploração em cima dos flagelados pela ultima enchente.
Esta capacidade de se indignar e mostrar a realidade das lideranças políticas atuais que se lucupletam com a ignorancia e boa fé de muitos brasileiros é uma luz e esperança de que pode haver mudanças.
Como admirador e rotariano desde 1974 gostei da divulgaÇào da acão do Rotary International e a colaboraÇao dos companheiros dos clubes locais. A mídia simplesmente ignorou esta ação.
Continuo a crer que a maioria ainda não perdeu a fé em um país justo e solidário como voce bem coloca, mas precisamos rapidamente mudar este quadro e temos que agir.
Parabens amigo
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