Apressado, desci do carro e adentrei na delicatessen favorita, na Avenida Rosa e Silva, zona nobre do Recife. Empurrei a porta de vidro e dei de cara com dois senhores deitados rostos colodos ao chão. “Ôxente! Quequi vocês estão fazendo aí, deitados na passagem?” perguntei intrigado. A resposta foi cruel, veio pelas costas na forma de um revólver e gritos ameaçadores do tipo: “É um assalto, passa a carteira e o celular!!!! Vai seu p....!!!!!” Incrédulo, com a “ficha enganchada, sem cair de imediato”, fui acuado e começando a enxergar, devido aos berros do primeiro ladrão, secundado por outro mais agitado, ainda. Graças a Deus entendi que estava inserido em mais uma cena do banal quotidiano

Os assaltantes saíram correndo. Aliás, sumiram no meio do mundo deixando uma multidão congelada – era hora do rush, todo mundo voltando para casa e o engarrafamento de sempre – a ver tudo na maior passividade. Incrível! Embora ordenado a deitar no chão do estabelecimento comercial, não cheguei a fazê-lo, porque os meliantes se escafederam açodadamente, deixando as vítimas em estado de choque a se erguer lentamente. Olhei prumladoepruoutro, marquei retirada, entrei esbaforido no meu carro, ordenando partida ao filho no volante. “Que foi que houve? Tá todo mundo saindo adoidado, daí de dentro...” referindo-se à retirada dos ladrões. Expliquei o ocorrido e meu ingênuo herdeiro deu partida em velocidade, ameaçando perseguir os larápios. “Qual nada rapaz, larga de valentia... baixa essa bola” argumentei estressado, claro, mas buscando controlar a situação. Puro arroubo da juventude! "Tudo que eu entreguei já era... o importante é que estou vivo!" esbravejei. E de quebra perguntei: “Qual foi o melhor: sair daqui inteiro ao seu lado ou você ter que me enterrar amanhã, com uma bala na testa?”
Na noite passada, lembrei-me de Drumond porque tropecei numa pedra no meio do caminho. Uma “pedra” em forma de indesejado assalto. Só lembrando: “No meio do caminho tinha uma pedra/tinha uma pedra no meio do caminho/tinha uma pedra no meio do caminho/tinha uma pedra” .
O danado é que a gente ouve falar que é comum, que todo mundo já foi assaltado e que não devemos nos surpreender caso sejamos apanhados. Mas, é duro viver a situação. Por que eu? Trabalho, contribuo para o desenvolvimento do país, pago meus impostos em dia, tenho uma vida regrada e solidária com a Pátria e com os compatriotas, sigo na risca os ditames da Constituição, faço caridades, amo ao próximo como a mim mesmo e, ainda assim, tenho que me sujeitar a coisas dessa natureza. Natureza perversa, meu Deus! Tudo por lamentável falha da gestão social da Nação: falta de educação, de saúde coletiva, inclusive mental, de formação profissional, de meios de vida dignos, de investimentos produtivos e geração de empregos. Temos uma terra rica, cheia de potencialidades e mal aproveitadas.
Outro dia, a proposito da insegurança reinante, cheguei a dizer que havia perdido a esperança e fui criticado. Mas, como alimentar esperança, sendo covardemente atingido no que mais sagrado existe que é a privacidade, o direito à propriedade, o de ir e vir e, até, de viver?
Outubro vem por aí e, novamente, a sociedade vai cobrar providencias aos postulantes a cargos eletivos. Vai ouvir promessas entusiasmantes e, depois, quando novembro chegar, vai reiniciar outro longo período, de quatro anos de espera, para se encher de novas promessas... inúteis.
Resta apenas pedir proteção aos santos e arcanjos. A Deus por fim, para que Ele vá retirando as pedras do caminho. No meio do caminho você sempre pode encontrar uma pedra. No meio do caminho...ontem, eu tive uma pedreira.
NOTA: Foto colhida no Google Imagens