segunda-feira, 2 de novembro de 2009

HERANÇA ESTAPAFÚRDIA

Duarte Coelho Pereira era filho bastardo de Gonçalo Coelho com a plebéia Catarina Duarte. Os Coelho eram muito importantes, na região situada entre o Douro e o Minho. Ser filho bastardo, naquela época, era uma parada indigesta. O cara tinha que ter “peito” e ser bem protegido pelo pai. Caso contrário, não tinha vez para nada. Para começar, coitadinho, teve que ser criado, intra-muros de um mosteiro (o de Vila Nova de Gaia) por uma tia que era a prioresa. Mas, apesar da bastardice, o cabôco parece ter sido filho predileto de Gonçalo, que cuidou de encaminhá-lo direitinho na vida, colocando-o numa série de expedições portuguesas, mundo afora. Veio ao Brasil, em 1503, tendo o pai como comandante da expedição. Depois disso, o rapaz foi á Índia e, entre 1516 e 1517, imagine, foi embaixador de Portugal, no Sião. Chegou a ser, por seis meses, embaixador em Paris! Esteve na China e em Málaca, onde construiu a Igreja de Nossa Senhora do Oiteiro, que, hoje, faz parte do patrimônio histórico da Malásia. Voltou a Portugal, em 1527, e, em 1532, foi escalado para comandar a frota lusa encarregada de afastar os franceses da costa brasileira.
Pelos inúmeros serviços prestados à nação portuguesa recebeu de presente, em 10 de março de 1534, 60 léguas de costa no Brasil, correspondendo aos atuais estados de Pernambuco e Alagoas, que formava a capitania de Pernambuco, também chamada de Nova Lusitânia. A Colônia do Brasil foi divida em 15 Capitanias Hereditárias (passavam de pai para filho, netos, bisnetos e assim por diante) e a de Duarte Coelho era a maior de todas. Rapaz de sorte, não foi?
Dono das terras, o Donatário de Pernambuco não perdeu tempo (outros nem ligaram, aqui não pisaram) aportou – acompanhado, já, de uma consorte esposa, D. Brites de Albuquerque, do cunhado Jerônimo de Albuquerque, mais uma parentela e algumas famílias do norte português – às margens do canal de Santa Cruz, ao sul da atual cidade de Igaraçu, por ele fundada. Lá está a igreja dos Santos Cosme e Damião, também por ele construída e a primeira do Brasil. O sujeito era organizado prá caramba.
Desbravando as terras que ganhara, dirigiu-se mais para o sul e ao chegar numa certa colina encantou-se com o panorama e fundou, em 12 de março de 1537, uma cidade sede do seu “reino” a qual deu o nome de Olinda. Este nome foi tirado de um romance que ele estava lendo na ocasião, Amadis de Gaula, cuja heroína se chamava Olinda. Nada daquilo que se fala popularmente de “Ó linda situação para se construir uma cidade!”. Pura fabulação!
Governou por quase vinte anos, desde seu castelo, (incendiado pelos holandeses, no século seguinte), localizado no alto da Colina, onde hoje funciona um barzinho, frequentado, dizem, pela chamada turma alternativa, denominado Cantinho da Sé. Veja só, que coisa!
Pernambuco, junto com a Capitania de São Vicente (atual estado de São Paulo) foram as que mais se desenvolveram. Talvez as únicas.
Duarte Coelho veio disposto a fazer a vida dele e da sua patota no Brasil. Trouxe da Ilha da Madeira uns caras experientes na produção agroindustrial de açúcar e, de lá para cá, este vem sendo o principal produto de exportação de Pernambuco. Aliás, inicio da indústria brasileira.
A história conta que o bastardinho trabalhou duro para dominar suas terras, aliando-se logo aos guerreiros índios Caetés, proprietários originais da região. Comeu da “banda podre” para estabelecer a ordem na Capitania. Lutou pra cachorro e por todo lado. Com os Tabajaras, outra tribo do pedaço, foi preciso fazer o casamento do cunhado Jerônimo com a filha do cacique. A noivinha recebeu o nome cristão de Maria do Espírito Santo e se tornou o símbolo da paz entre a tribo e os colonizadores. Pense na figura sendo transformada nessa noiva e nova cristã. Acho que foi daí, com certeza, que começou a aparecer a raça e o sabor da morena tropicana, no dizer de Alceu Valença. Mas, meus amigos, no meio dessa história toda, Duarte Coelho teve a idéia expansionista de ceder parte das suas terras, no trecho que hoje é a cidade do Recife (na época, uma simples colônia de pescadores). Expandindo a fronteira agrícola da capitania, Dom Duarte nem imaginava que, quinhentos anos depois, um bando de engraçadinhos, dirigentes do burgo olindense e amparados por documentos ditos oficiais, viessem cobrar dos recifenses, uma cidade de há muito emancipada, capital do estado de Pernambuco, uma tal Taxa Foral! Isto, quer dizer que nobres bairros recifenses não são terras próprias do município e, sim, de Olinda! Pode um negócio desses, a esta altura do campeonato? O Recife se encontra numa agitação incomum. Com razão. Como se não bastassem os inúmeros impostos e taxas que são cobrados da população local, vem, agora, Olinda cheia de direito cobrar mais uma taxa ... Ah! tem mais: como se trata de taxa foral, segundo dizem, não implica em benfeitorias. É uma história tão mal contada que causa a coletiva repulsa dos recifenses. A confusão está grande! É um tal de PAGA e NÃO PAGO, sem fim. E tem outra: não atinge somente o Recife, mas, também, Jaboatão dos Guararapes e o Cabo de Santo Agostinho. Eu só quero ver no que vai dar. Eu, que não pago! Isso é o que eu chamo de herança estapafúrdia.
Sinceramente, Duarte Coelho, por onde vosmicê andar, me diga como se deixa um negócio desarrumado desse jeito? Ou este negócio é também uma fabulação, que está sendo, oportunistamente, usada pelos modernos administradores da Marin dos Caetés?
Notas: Fotos do Google Imagens e informes históricos tirados do Wikipédia, a enciclopédia livre.

8 comentários:

Luciana Altino disse...

Ótimo artigo! Que ideia mais maluca
é essa de Olinda? Eu ainda não sabia desse fato!
Gostei de aprender sobre Duarte Coelho - o bastardinho era
bom no pedaço!
Um beijo
Luciana Altino

Mônica Mercês disse...

Amigo Girley,
Ótimo saber que também NÃO irás pagar esse absurdo!!!Parece que o legado do bastardo, organizado e expansionista, Duarte Coelho, está sendo "aproveitado" por gestores de criatividade ilimitada.
Mônica Mercês

Edvaldo Arlego disse...

Caro Girley,
Muito oportuno esse seu belo artigo. Aliás,
quem primeiro levantou essa lebre foi o confrade e
ex-prefeito Germano Coelho, que queria cobrar do Governo
Holandês, as custas pelo incêndio de Olinda. Na época,
talvez como um "cala boca" os batavos fizeram a
doação de vários instrumentos para a escola de música
Sol Maior, dirigida e fundada pela também confrade Leny
Amorim. E ficou só nisso. É possível que o inoperante
prefeito de Olinda esteja desviando a atenção do povo
olindense da sua fraca administração com esse sonho de
Ícaro. Só um reparo. A data de olinda é 12 de março de
1535 e não 1537, que ficou sendo a data de fundação do
Recife, vez que foi no Foral de Olinda que o nome da
povoação do Recife apareceu escrito pela vez primeira.
Abraços, Arlégo.

Ina Melo disse...

OI GIRLEY,

BOA NOITE,
TINHA LIDO ESSA CONFUSÃO DE OLINDA, MAS VOCE MOSTROU-SE UM EXCELENTE PESQUISADOR. CONTINUE DESCOBRINDO OUTRAS HISTÓRIAS.
LEIA MULHER INVISIVEL NO MEU BLOG. VOCE DEVE CONHECER ALGUMAS.
ABS INA

Susana González disse...

Me encanto la historia, muy interesante. No me quedo claro si el municipio paga el impuesto y si lo hace a quien?. Cuentanos más de estas historias. Besos Susana González

Unknown disse...

Ótimop artigo Girley, bastante oportuno.
Domingos Sávio - Petrolina

joe disse...

Girley
Cada vez mais tenho saudade de Sergio Porto, o Stanislau Ponte Petra do FEBEAPA. Não pagarei pelo terreno da casa de Candeias. Isto é maluquice de Renildo Calheiros.
Faltou você comentar o cão chupando manga que era o cunhado Jerônimo. ~Ele teve mais de 50 filhos entre Pernambuco e Maranhão
Abs Joe

Corumbá disse...

Grande Girley:

Como sempre, excelente artigo! Há tempo tento descobrir a origem do nome Olinda pois aquele papo de "ó linda situação" não fazia o mínimo sentido.
Sanou minha dúvida, valeu mesmo.
Parabéns pelo belo artigo.

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