quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Megalomania Pernambucana

Tenho acompanhado, com freqüência, o noticiário sobre os preparativos para a Copa de 2014, aqui no Brasil.

Muitas coisas chamam a atenção, pelo ufanismo e gigantismo que se promete, com a imprensa escrita, falada e televisionada comentando largamente. E ainda estamos em 2009. Imaginem quando a coisa estiver mais próxima. Ninguém vai fazer mais nada, neste país do futebol! Tudo indica que não será uma coisa corriqueira. Vai ser um acontecimento imbatível e inesquecível.

Posso entender que nessas horas a imaginação corre frouxa e propostas mirabolantes podem, muito bem, se multiplicar. Mas, precisa ter muita grana para bancar um negócio desses. Fico espantado com as somas, multiplicações e divisões de dinheiro sobre as quais se fala a todo hora. Num canal de TV, ontem à noite, focalizaram um encontro em São Paulo no qual foram anunciados (ou confirmados) R$ 4,8 Bilhões para serem divididos entre os estados que sediarão jogos, incluindo Recife. Mas, atenção, o Ministro dos Esportes afirmava que este dinheiro sairá dos cofres do Governo, via Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES, com um porém! O Governo vai querer o dinheiro de volta. Trata-se, portanto, de uma linha especial de financiamento. Não me perguntem como será o plano de desembolso, nem o de restituição. Não ouvi explicações sobre a operação e, isto agora, não importa. Meu foco é outro, como explicarei a seguir.

Minha intenção não é comentar ou medir valores de investimentos em estádios projetados e sim dar impressões sobre o conjunto de (outras) necessidades que se constata país afora, para enfrentar um desafio tão grande. Por exemplo, tem coisa mais extravagante do que essa idéia de construir um estádio especialmente para a Copa, com um entorno urbano caríssimo, como o que se projeta para Pernambuco? Francamente, é uma falta total de responsabilidade. A idéia pode até ser boa, se o que se pretende é aproveitar a oportunidade de expandir a fronteira urbana da capital e oferecer novas unidades habitacionais a uma sociedade que traz, há muito tempo, um expressivo déficit de moradias. Mas, será que tem de ser num projeto dessa natureza. Não entendi, ainda, a explicação lógica dessa aventura, como prefiro dizer. Cidade da Copa é o nome que deram ao projeto e fica no município de São Lourenço da Mata. Uma nota preta está sendo orçada para esse empreendimento, em detrimento de outros de maiores relevâncias social, turístico-econômico e com sustentabilidade indiscutível, em muitos outros pontos da Região Metropolitana do Recife. Dizem que será realizado em uma parceria público/privada e custará R$ 1,6 bilhão! Ah! o mais incrível é que a obra só deve ficar completamente pronta em 2017, isto é, depois da Copa. Fico imaginado o cenário, em construção, nos dias de Copa...

É preciso ter presente que o Recife já conta com três estádios particulares! Um desses poderia ser reformado e modernizado, com custos bem menores e mais justos, redirecionando os recursos disponíveis para investimentos em outros setores carentes e também importantes para o evento da Copa. Por exemplos: novas vias de circulação, novas pontes, melhor iluminação, limpeza dos canais assoreados, alargamento das artérias principais, transporte de massa digno, taxistas e garçons preparados adequadamente para atender o turista torcedor, tirar os flanelinhas e prostitutas das ruas, água e saneamento, desfavelização, restauração e valorização dos centros históricos e, finalmente, segurança e assistência à saúde, particularmente em atendimentos de emergência. É muita coisa e tudo muito necessário porque, não podemos esquecer, na onda da Copa uma enxurrada de turistas, pode desembarcar por aqui e seguramente vai, depois de tudo, fazer a propaganda – boa ou má – da nossa cidade, conforme a experiência que tiverem. Pensemos no que pode acontecer. Imagine se tocar à chave do Recife seleções de países europeus. Faço idéia o que pode exigir um alemão ou um holandês, sueco ou algum dos seus vizinhos.

Francamente, esta é a hora de capitalizar a oportunidade única que se apresenta para divulgar nossos atrativos turísticos-culturais.

Por que não reformar e modernizar a Ilha do Retiro ou o Arrudão? Vi uma autoridade paulista, ontem na TV, declarar, enfaticamente, que não admite a construção de um novo estádio na cidade e que o correto é reformar e modernizar o Morumbi. Ora, meu Deus, isto é que é bom-senso.

Tem outra coisa que me preocupa: passada a Copa, quem vai jogar lá? Será que Sport, Náutico, Santa Cruz e outros menores vão deixar seus próprios gramados para jogar na cidade da Copa? Sinceramente, não acredito. Essa arena poderá ficar sem serventia, salvo para campeonatos de bairros e subúrbios ou, então, tirar os peladeiros das várzeas do Capibaribe para jogar num gramado de primeiro mundo. A relação custo-beneficio vai parar nas cucuias (no nada) e o retorno financeiro nas calendas gregas (um dia que jamais chegará)!

Mas, ainda é tempo de rever. Aliás, antes que a Fifa dê uma marcha à ré e, sem acreditar nos megalomaníacos pernambucanos, elimine a chave do Recife, como já andaram ventilando.

NOTA: Foto obtida no Google Imagens

13 comentários:

Geraldo Leal de Moraes disse...

Caro Girley

Acabei de ler seus dois ultimos artigos. Bom Senso e sentido de praticidade sempre. Parabens.
Acabo de chegar do Chile onde senti o espírito de patriotismo nas comemorações das festividades pátrias e a véspera da comemoração dos 200 anos de Republica.Escreverei em meu blog semana que vem sobre isto.
Um grande abraço Geraldo Leal de Mortaes

Edvaldo Arlego disse...

Caro Girley, concordo com o companheiro e parabéns pela coragem de abordar com eficiência e objetividade o assunto. Caso não haja melhores idéias a respeito da modernização do Recife, que tal seguir-se O Recife dos Meus Sonhos"? Veja se lá não está previsto tudo aquilo que você acha b em melhor que fosse feito. Abraços, Arlégo.

Adierson Azevedo disse...

Prezado Girley,
Concordo em grau, numero, e genero com sua coluna acima em epigrafe. Realmente é muito dinheiro para fazer festa. No entanto, quero aqui dizer que estive na Prefeitura do Recife conversando com os responsaveis pelo planejamento das internvençoes na cidade visando ao Copa de 2014.
Pelo que vi e ouvi, há uma clara intençao de fazerem as obra ha muito necessarias na cidade para que a Copa passe mas os beneficios permaneçam. Segundo escutei la, como os recursos sao poucos para tantas demandas e dividas com nosso povo, a mobilidade foi eleita como a meta maior de todas as intervencoes que a cidade vai receber. Obras como a Via Mangue que está sendo construida a uns 20 anos (primeiro na cabeça das pessoas, depois em 3D, recentemente fizeram um tunel...) deverao estar prontas até la.
Será que dá pra acreditar que dessa vez vai? Eu acho que sim. Afinal, dessa vez é a FIFA que está exigindo mudanças e, caso nao aconteçam, nossa megalomania sairá ferida pois a FIFA nos dira de sermos sede mais rapido que nos designou.
Por fim, quero falar de um tema parecido com esse pois refere-se a desperdicio de dinheiro publico. Ontem a noite foram "eleitos", pela Camara Federal, mais 7.700 vereadores no Brasil. Ou seja, qual a demanda social que tinhamos por esse contingente de vagabundos? Será que nao faltam medicos, professores, policiais, fiscais de toda ordem, nesse pais para empregarmos mais cabos eleitorais? Francamente, pode ate ser que estejam jogando dinheiro fora em estadios desnecessarios. Mas, ao menos,eles ficam para nosso uso. O que fica desses novos vereadores? Qual a diferença que eles farao para suas cidades que os que ja estao la nao fazem?Abraços,Adierson Azevedo

Fernando da Costa Carvalho disse...

Em 23/09/09

Prezado Dr. Girley

Os assuntos transmitidos pelo seu BLOG semanal TODOS tem sido oportunos e pertinentes. No caso presente, Estádio para a próxima copa do mundo, em um Estado cuja a pobreza e violência afronta sobremaneira a nossa inteligência e sensibilidade e consquentemente nos apresenta a atuale triste realidade social. Infelizmente percebemos uma completa desintegração entre uma politica voltada aos mais necessitados, deixando de lado atitudes conscientes e humanitárias que não só possibilitem retirar o Estado do seu patamar de miséria, mas principalmente por uma questão de solidariedade humana. O que observamos é um completo abandono, por que passa uma grande camada da nossa sociedade sem hospitais, sem postos de serviços de saúde, escolas desaparelhadas e em pessimas condições fisicas, professores em geral pessimamente mal remunerados, e por último completando o tripé básico dos objetivos e finalidades do Estado , qual seja a segurança. Esta dispensa comentários pelos fatos diários e corriqueiros a que estamos JÀ acostumados a acompanhar pela nossa imprenssa.
Não querendo imputar ao atual Governo Estadual o Statos Quo, mas principalmente as administrações anteriores, que pela sua história e caracteristica marcante de seus componentes, que embora posavam de guardiões dos menos favorecidos, pelo que hoje se vê nada de significativo se constituiu nas suas ações e politicas sociais. A grande diferença entre os politicos do passado e do presente reside, em que os verdadeiros lideres pensam na geração futura,e os atuais nas frivolidades e oportunismo eleitoreiros. Lamentávelmente os nossos dirigentes quando pensam em grande obras, frequentemente imaginam a contra partida pessoal, no tocante aos conhecidos e muito praticados, hoje em dia,nos super faturamentos.

Concordo com suas poderações e acho um absurdo o que se está planejando, e premiar um municipio conhecido tradicionamente pelas más administrações sucessivas. Ao nosso ver se poderia visualizar qual dos dois estádios ( Ilha do retiro e Arruda) que poderiam sofrer as alterações necessárias e mais ainda, se seria possivel dota-los de melhores condições de escoamento de trânsito e de pessoas,bem como estacionamento de veículos. Não poderiamos esquecer uma aréa nobre que seria o centro de treinamento do clube Naútico Capibaribe, em Paratibe, que pela sua localozação e as margens da BR 101 Norte, que assim se aproxima de toda aréa metropolitana, bem como os dois Estados vizinhos, Alagoas e Paraíba.
Portanto o que melhor se aproximasse desses objetivos, com um menor custo poderia se enquadrar, já que a decisão da Copa do Mundo em 2014 ser irreversivel.

Corumbá disse...

vou resumir o que penso:
Primeiro quero cumprimentá-lo pela oportunidade de seu comentário.
Voltar atrás, acho que não vai acontecer. Envolve muita gente e muitos egos, vão falar em patriotismo, cidadania e não vai dar para refazer.
Mas, o grande motivo disso tudo, dessa desastrosa decisão de construir uma cidade ao redor de um estádio de futebol é uma velha teoria política, a do pão e circo para calar o populacho.
Isso vem dos romanos. Pão-Bolsa Família e circo-Copa do Mundo.
Daqui a quinze anos, nossa juventude garente de escolas, de educção e saúde vai assumir o comando do país.
E é esse futuro que estamos constrindo agora com o Bolsa Família e a Copa do Mundo!
Grande abraço.

Wilma disse...

Caro Girley,

Ainda que possamos nos sentir orgulhosos de nosso país,com
TODOS os problemas nêle existentes, poder sediar a copa de 2014, é inconcebível gastos exorbitantes para construção em nosso Recife da ¨Cidade da Copa¨.Concordo quando você diz, bastaria uma reforma em um dos nossos estádios.Acho que não comporta uma obra desse porte,enquanto existem tantas e tantas outras prioridades.
Grande abraço.

Wilma.

Roberto Pinto disse...

Quando fomos estudantes éramos contra a construção de SUAPE e contra o Centro de Convenções. Para que gastar dinheiro com essas grandiosidades ? Essas obras foram e ainda são importantes e continuam-se fazendo investimentos nelas. Quando no Rio de janeiro construíram o Sambódromo também reclamaram muito.Quantas escolas lá funcionam ? e o faturamento com turistas que vem assistir o carnaval ?
Quem sabe esse novo estádio possa ser bem utilizado para treinar novos valores do futebol e tirar muitos adolescentes do crime ?
Quem sabe essa cidade satélite alimentada por metrô não vai aliviar o Recife de favelas e palafitas ?
Quantos outros negócios não serão gerados nessa nova cidade ?
Quanto aos vereadores, é uma vergonha; vereador deveria ser sem remuneração e a Assémbléia pode funcionar sem necessidade do Senado.

potiguara disse...

Pensei que só eu fosse contra a copa em Pernambuco, alias eu sou contra a copa no Brasil, não mgosto de teoria, prefiro a prática. Nos meus cálculos unicial, sem ter os gastos de MG, teríamos um gasto de R$5 bilhões, valor que poderia ser gasto em coisas mais úteis a humanidade.
Tudo que está sendo feito é só teoria, é usado o achômetro, construo, gasto 5 bilhões e acho que terei um retorno grande. Faz uma cidade em S.Lourenço e acho que poderia se tirar os jovens da rua e se achar outros craques. Não concordo com a copa e não vejo esse retorno tão comentado.

Abraço

Anônimo disse...

Prezado Girley,
A megalomania de nosso governo certamente ira ser paga no final por todos nos.
Claro que existem obras relevantes e importantes que nos dão orgulho em pagar.
Esta por exemplo todos nos sabemos no final o real interesse.
A copa em PE sem duvida é interessante. A reforma do Arruda seria uma ótima, certamente o custo daria para fazer um belo estádio+indenizações da redondeza+ retirada da favela próxima e ainda sobraria muita grana etc..

canojones-carlosjorgemota.blogspot.com disse...

Quando, entre várias países candidatos, foi apresentada a candidatura por Portugal para a realização do Campeonato Europeu de Futebol de 2004, também foi instalada no país a mesma polémica. Portugal construiu de raiz e renovou 10 Estádios de Futebol. Dinheiro esbanjado, diziam uns; dinheiro investido, diziam os defensores. Hoje, com alguns estádios sublotados, outros quase sem utilização (como o do Algarve), os oponentes de então enfatizam agora que foi megalomania, construções inúteis, pelo desaproveitamento atual. Porém, feitas as contas, dizem os especialistas, o saldo é francamente positivo, pois o aporte financeiro direto de então e os ganhos em termos turísticos de agora superam em larga medida todos os gastos efetuados, mesmo que se implodissem hoje alguns estádios, por desnecessários. E tenhamos em atenção que, sem esses estádios, Portugal não ganharia a corrida. Acresce ainda o prestígio adquirido. As ações de policiamento durante o Campeonato foram de tal modo exemplares que as forças policiais portuguesas (Polícia de Segurança Pública e Guarda Nacional Republicana) foram solicitadas para dar treinamento às forças alemãs, dado que a Alemanha iria (o que aconteceu) assumir a responsabilidade da Copa do Mundo de 2006. É preciso, pois, fazer muito bem as contas e não nos deixarmos levar por benévolas tentações contestatárias. O Brasil vai ganhar em todos os campos, inclusive a própria Copa. Muitos cumprimentos. Carlos Jorge Mota

Unknown disse...

Prezado Girley

Parabens pelos questionamentos, concordo plenamente. A copa em nosso estado sem dúvida será interessante, porém priorizo as ações que realmente contribuam para o desenvolvimento de Pernambuco.

Valdilene Silva

Hugo Caldas disse...

Girley
E para dizer o mínimo. Os hospitais "à beira da perfeição" estão sem recursos para comprar mercurocromo e esparadrapo.
Abraço. Hugo

Carlos Antonio disse...

Girley, O tema “futebol”, por conta da mídia torna-se estimulante.
Os Mortaes se envolvem e comentam no BLOG.
Os místicos, estes revivem previsões registradas documentalmente sobre a copa e até sugerem aproveitamento.
Claro que obras essenciais serão concluídas enriquecendo de forma desonesta muita gente( aconteceu em todo lugar por onde passou o evento) e trará muitos benefícios a Pernambuco.Bons resultados financeiros pelo fluxo de pessoas turistas nativos e estrangeiros que virão assistir dois ou três jogos, ver nossas belezas, ouvir nosso frevo, valorar nossa cultura e fazer circular muita riqueza. (será só isso?)
Portanto a Copa do Mundo interessa e muito a nossa região queiram ou não.
Para tanto as obras projetadas na sua maioria são obras de infra-estrutura, como saneamento básico, via de acesso moderno e linhas de metro. E bom não é bom? Ate a BR 101, mesmo a peso de ouro, já é quase uma realidade.
Abraços
Carlos

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