Neste humilde espaço de comunicação manifestei meu espanto e temor, claro, porque esse poderia ser mais um sinal de retrocesso político na América Latina, a exemplo de outros, de algum modo, já esboçados no passado recente.
Para meu alívio, vi as mais importantes nações do mundo repudiar e penalizar os golpistas, entre os quais os Estados Unidos, de Obama e o Brasil, de Lula. O governo golpista não teve, até hoje, nenhum reconhecimento político. Está isolado e sem crédito na comunidade internacional. Cooperações financeiras estão suspensas e embaixadores antes acreditados foram chamados de volta aos seus países de origem, incluindo o brasileiro.
Lembro também que fiz uma importante ressalva, ao abster-me de fazer qualquer julgamento a respeito dos argumentos dos golpistas. Ao contrário, foquei, tão somente, o episódio do golpe. Se Zelaya tinha ou não intenções chavistas de se perpetuar no cargo de presidente, não me interessou na ocasião. O golpe, sim, é que não tem cabimento.
O tempo passou, a mediação do Presidente da Costa Rica, Oscar Árias, foi infrutífera, a condenação da comunidade internacional não foi ouvida pelos golpistas, a investida de Zelaya para retornar ao país e retomar o comando não surtiu efeito e a coisa parecia cair no esquecimento, pelo menos pela mídia.
Esta semana, porém, a situação recrudesceu e mudou de figura, quando Mel (apelido que ele tem) Zelaya – um tipo raro, imagem meio mexicana, meio texana, bigodão e chapelão branco – apareceu de surpresa em Tegucigalpa (nome mais estranho), a capital de Honduras e, abrigado na Embaixada do Brasil, cobrou de volta a cadeira de presidente.

Mas, seja lá como for, imagino que esta situação vem criando um sério problema para a diplomacia brasileira. O homem aboletou-se, com mais trinta auxiliares, na Embaixada Brasileira – meio desativada, sem o titular, que foi chamado de volta ao Brasil, após o golpe – de onde comanda uma verdadeira operação de retorno ao poder.
Ora, mesmo sem saber o que pode estar por trás disso tudo, nem até que ponto o governo brasileiro vai sustentar a situação, acho que melhor seria que o Brasil estivesse fora desse episódio. Por que o Brasil? Por que não a Venezuela? Ou os Estados Unidos, por exemplo, que tem uma forte tradição de “ajudar” nas coisas alheias? Será que temos competência para uma empreitada dessas? Nas últimas estocadas que levamos da Bolívia, Equador e Paraguai, saímos encolhidos. Perdemos todas. Pensando que com Honduras temos tênues relações políticas e econômicas, o que é que estamos fazendo ali? Sinceramente, é péssimo! Condenar o golpe, tudo bem. Mas, se envolver de cara no processo de restauração da ordem interna hondurenha, não é um bom papel.
O Presidente Lula vem conclamando as organizações internacionais no sentido de, numa intervenção pacífica, resolver o problema hondurenho. Tomara que ele seja ouvido, caso contrário, o Brasil corre sério risco de sair arranhado desse imbróglio político-diplomático, de uma autêntica republiqueta de bananas. Vale à pena?
Aguardemos o desenrolar da história.
Nota: Foto obtida no Google Imagens