“Está combinado. Encontro você, hoje, às 18:30h. na saída da estação do Metrô, em Shibuya, junto a estátua do cão Hachi-ko” . Foi o que me disse Mr. Kitagawa, quando resolveu me levar a uma partida de futebol, no estádio de Yoyogi, em Tóquio, nos idos de 1984, quando passei uma temporada no Japão.
“O que significa Hachi-ko? Que cão é esse? Estátua?” perguntei ao meu adviser japonês. Ele, muito apressado e sempre sorridente, disse-me que, lá, junto a tal estátua, teria mais tempo de me contar uma bela história. “Procure essa estátua, Buragireiro Sam (Sr. Brazileiro), e me espere”, saiu dizendo o japona. Assim fiz.
Pouco antes da hora aprazada, como manda a pontualidade nipônica, eu estava no local do encontro. Postei-me próximo da inusitada (para mim) estátua em bronze, de um belo cachorro. Ao meu redor, várias outras pessoas, igualmente, esperando outras pessoas mais. De cara, dava para ver que se tratava de um estratégico ponto de encontros na mega-metrópole nipônica. Fiquei curioso, para saber da tal bela história, prometida por Kitagawa.
Hachi-ko era o nome do cachorro, da raça Akita, famoso pela sua lealdade ao seu dono, e que se transformou num ícone popular, no Japão, da passada década de 20.
Todo santo dia, Hachi-ko acompanhava o seu dono, o Professor Eizaburo Ueno, da Universidade de Tóquio, de casa até a estação de metrô e, no fim da tarde, ia encontrá-lo no mesmo local, acompanhando-o de volta para casa.
Aconteceu que no dia 21 de maio de 1925, quando Hachi-ko tinha um ano e meio de idade, o Professor Ueno não voltou, por haver sofrido um derrame cerebral fatal, em plena sala de aula.
Após a morte do seu dono Hachi-ko foi adotado por parentes do Professor. Obstinado, terminou fugindo e voltando à rotina de esperar seu dono, toda tarde, na estação de Shibuya. Naturalmente que o fato causou imensa surpresa, pelos que o observava a cada dia. Penalizados e, sobretudo, muito sensibilizados com o quadro, os funcionários da estação e alguns freqüentadores assíduos do local alimentavam Hachi-ko, que insistia naquela espera inútil. Essa coisa durou até 7 de março de 1934, quando o pobre cão, já velho, com sérios problemas de saúde e andar cambaleante morreu no mesmo local, ainda esperando seu dono voltar. Esperou por, quase 9 anos!
Esta história repercutiu nas mentes dos japoneses. A memória de Hachi-ko está, até hoje, imortalizada por uma estátua, mandada fazer por amigos e admiradores do cão, colocada na entrada da movimentada estação do bairro de Shibuya. É um dos pontos de encontro mais famosos e tradicionais de Tóquio. Foi lá que me encontrei com Kitagawa, para ir ao estádio de Yoyogi. Foi lá que ouvi esta tocante história, prova inequívoca da lealdade da raça canina, para com seu dono. Sempre que me ocorria passar naquela estação – eu vivi num hotel, em Shibuya – parava e reverenciava a imagem do leal cão.
Curioso, me explicou Kitagawa, foi que, durante a 2ª. Guerra Mundial, o Governo recolheu todas as estátuas de bronze do país, derreteu e transformou o material resultante em armamento. Após a Guerra, contudo, em 1948, os amigos de Hachi-ko procuraram o filho do escultor da primeira estátua e mandaram reproduzi-la como originalmente. É a que se encontra lá até hoje. Foi a que eu vi e, ao lado da qual, escutei atentamente o relato do meu simpático adviser.
Esta história virou um filme – Hachi-ko Monogatari – de imenso sucesso no Japão, no ano de 1987, rendendo US$ 4,5 milhões nas bilheterias de cinemas daquele país.
Para minha surpresa vi, esta semana, no Blog Panorama Nihon, que recomendo ( http://oglobo.globo.com/blogs/panoramanihon/), da jornalista pernambucana, Bruna Siqueira Campos, atualmente vivendo em Tóquio, que Hollywood está rodando uma nova versão dessa história, estrelado por Richard Gere, cujo titulo deverá ser Hachi-ko, a História de um Cão. Vou ficar na expectativa da estréia, que, segundo Bruna, deve ocorrer no segundo semestre deste ano.
“O que significa Hachi-ko? Que cão é esse? Estátua?” perguntei ao meu adviser japonês. Ele, muito apressado e sempre sorridente, disse-me que, lá, junto a tal estátua, teria mais tempo de me contar uma bela história. “Procure essa estátua, Buragireiro Sam (Sr. Brazileiro), e me espere”, saiu dizendo o japona. Assim fiz.
Pouco antes da hora aprazada, como manda a pontualidade nipônica, eu estava no local do encontro. Postei-me próximo da inusitada (para mim) estátua em bronze, de um belo cachorro. Ao meu redor, várias outras pessoas, igualmente, esperando outras pessoas mais. De cara, dava para ver que se tratava de um estratégico ponto de encontros na mega-metrópole nipônica. Fiquei curioso, para saber da tal bela história, prometida por Kitagawa.
Hachi-ko era o nome do cachorro, da raça Akita, famoso pela sua lealdade ao seu dono, e que se transformou num ícone popular, no Japão, da passada década de 20.
Todo santo dia, Hachi-ko acompanhava o seu dono, o Professor Eizaburo Ueno, da Universidade de Tóquio, de casa até a estação de metrô e, no fim da tarde, ia encontrá-lo no mesmo local, acompanhando-o de volta para casa.
Aconteceu que no dia 21 de maio de 1925, quando Hachi-ko tinha um ano e meio de idade, o Professor Ueno não voltou, por haver sofrido um derrame cerebral fatal, em plena sala de aula.
Após a morte do seu dono Hachi-ko foi adotado por parentes do Professor. Obstinado, terminou fugindo e voltando à rotina de esperar seu dono, toda tarde, na estação de Shibuya. Naturalmente que o fato causou imensa surpresa, pelos que o observava a cada dia. Penalizados e, sobretudo, muito sensibilizados com o quadro, os funcionários da estação e alguns freqüentadores assíduos do local alimentavam Hachi-ko, que insistia naquela espera inútil. Essa coisa durou até 7 de março de 1934, quando o pobre cão, já velho, com sérios problemas de saúde e andar cambaleante morreu no mesmo local, ainda esperando seu dono voltar. Esperou por, quase 9 anos!
Esta história repercutiu nas mentes dos japoneses. A memória de Hachi-ko está, até hoje, imortalizada por uma estátua, mandada fazer por amigos e admiradores do cão, colocada na entrada da movimentada estação do bairro de Shibuya. É um dos pontos de encontro mais famosos e tradicionais de Tóquio. Foi lá que me encontrei com Kitagawa, para ir ao estádio de Yoyogi. Foi lá que ouvi esta tocante história, prova inequívoca da lealdade da raça canina, para com seu dono. Sempre que me ocorria passar naquela estação – eu vivi num hotel, em Shibuya – parava e reverenciava a imagem do leal cão.
Curioso, me explicou Kitagawa, foi que, durante a 2ª. Guerra Mundial, o Governo recolheu todas as estátuas de bronze do país, derreteu e transformou o material resultante em armamento. Após a Guerra, contudo, em 1948, os amigos de Hachi-ko procuraram o filho do escultor da primeira estátua e mandaram reproduzi-la como originalmente. É a que se encontra lá até hoje. Foi a que eu vi e, ao lado da qual, escutei atentamente o relato do meu simpático adviser.
Esta história virou um filme – Hachi-ko Monogatari – de imenso sucesso no Japão, no ano de 1987, rendendo US$ 4,5 milhões nas bilheterias de cinemas daquele país.
Para minha surpresa vi, esta semana, no Blog Panorama Nihon, que recomendo ( http://oglobo.globo.com/blogs/panoramanihon/), da jornalista pernambucana, Bruna Siqueira Campos, atualmente vivendo em Tóquio, que Hollywood está rodando uma nova versão dessa história, estrelado por Richard Gere, cujo titulo deverá ser Hachi-ko, a História de um Cão. Vou ficar na expectativa da estréia, que, segundo Bruna, deve ocorrer no segundo semestre deste ano.
Notas 1: Foto obtida no Google Imagens. 2: Agradeço à amiga Bruna Siqueira Campos por provocar-me estas reminiscências e de escrever esta postagem. 3: Se tiver interesse de ver imagens dessa história clique num dos YouTube indicados ao lado, em cima. Recomendo especialmente o primeiro e o quarto clips.
13 comentários:
Oi, Girley! Ainda tem um detalhe que não acrescentei no post e é informação inédita para você e seus leitores: Hachi vai ganhar outra estátua em maio deste ano, que será construída em frenta à Fuji TV, em Odaiba. Vão inaugurá-la 88 dias antes da estreia do filme. Isso porque o cãozinho faria 88 anos se fosse um cachorro "jedai", ou seja, não morresse nunca! kkkk! Ah, e será uma escultura de papel machê gigante, mas depois será substituída por uma de metal tb. Bjos e obrigada pela citação ao blog. :P
Prezado Girley,
Você sempre surpreendendo com as suas belas histórias.Um abraço.
David Leal
Realmente este é o point em Shibuya. Estive por lá nas férias e esta estória do Hachiko é muito emocionante, todo mundo conhece. É sim uma prova inequívoca da lealdade da raça canina, para com seu dono! Parabéns pelo blog.
Caro Girley
Que bela esta sua experiencia de vida e que ode voce escreveu a lealdade. A ganancia e o egoismo creio ainda não convergem amigos a se cotizarem para uma estátua.
Resta nos alguma esperança.
Um abraço do amigo e companheiro de Floripa
Muito bela história amigo Girley, abraços
Pedro Rivera (Chile)
Girley
Essa história de Hachico é emocionante e muitas pessoas têm semelhantes fatos como esse de amor e dedicação que os animais têm,sobretudo os cães, para com os seus donos. Meu cunhado contava uma história de um engraxate que trabalhava na Marquês de Olinda, conhecido de todos, que diariamente lá estava com a sua cadeira e seu viralata. Os anos passaram, e um dia o engraxate partiu para o mundo maior. O seu cachorrinho alí permaneceu até que um dia também se foi. Do meu querido Alf, que se foi depois de 13 anos de convivência, poderia contar histórias hilárias de demonstração de memória, escolhas, amizade e amor. Com ele aprendi muitas lições de vida. Na véspera da sua partida, já muito doentinho, passei a noite toda acompanhando seu mudo sofrimento. Em determinado momento ele olhou para mim e uma lágrima lhe rolou como se despedisse de mim com tristeza. Ainda há pessoas que acham ridículo esse vínculo de amor que é criado entre o dono e o seu cãozinho. Um abraço, Leony
Caro amigo Girley Hachiko
Noto com satisfação que, cada dia que passa, seu blog está mais lido e mais comentado. É claro que com esta facilidade e experiência não se poderia esperar nada diferente. Parabéns pelo blog e pela história do amigo. Ogib
GB, bom dia...
Que assunto palpitante... humano ao extremo, merecendo efetivamente um novo filme com o talento do Richard Gere... - Antonio Azevedo
Girley,
Linda e emocionante história! Hachiko,certamente foi,o maior e melhor amigo do professor.
Grande abraço.
Wilma.
Girley:
Li sobre a fidelidade canina...ele esperou 9 anos...então, além da fidelidade, você nos faz pensar também em outra qualidade
presente nesta linda história, a PACIÊNCIA.
Eu tive 8 anos de paciência, quando esperei longos 8 anos pra fazer um doutorado..foram anos de paciência. Todas as vezes que eu ia arrumar meu guarda-roupa os documentos que havia preparado para solicitar equivalência para o doutrado, eu olhava pra toda aquela documentação, queira jogar fora, mas meu coração pedia para eu guardar. Assim eu fazia, guardava no mesmo lugar.
Na Espanha, por questões ideológica franquistas, a enfermgem espanhola ainda é curso de diplomatura, sem direito a fazer doutorado.
E, depois de longos 8 anos conseguí com essa documentação, já envelhecida pelo tempo, ter a equivalência aprovada e fazer o doutorado de antropología. Fui a primeira enfermeira a fazer doutorado na Universidad de Salamanca, portas abertas pra quem for enfermeiro e deseja fazer doutorado. Tudo isso, por que eu tive PACIÊNCIA.
abraços,
Eloine Nascimento de Alencar
Universidade Federal de Pernambuco-Depto. de Enfermagem.
Não é a toa que um dos grandes sucessos contemporâneos da literatura e do cinema, intitulado "Marley & Eu", encanta a todos que conhecem essa bela história. A fidelidade canina sempre foi e será uma das maiores lições de amor que o ser humano pode aprender. Hachiko, que morreu muito tempo antes de Marley nascer não foi diferente. Que bela história!
Parabéns pela brilhantíssima postagem, Girley!
Abraço
E com tudo isto, com tudo o que vivenciamos ou tomamos conhecimento sobre a lealdade dos animais aos seus donos, ainda há gente que se descarta dos seus, como se fossem "coisas" inservíveis, deixando-os em locais ermos, sem a mínima condição de sobrevivência, muitas vezes já velhinhos, doentes e até cegos.
E isto acontece em todas as classes sociais: o descaso das pessoas para com os seus bichos de estimação não conhece limites.
Conheço gente de alta estirpe, letrada, informada, de suposto bom-caráter, que manda colocar o animal no carro, se dirige para uma estrada deserta, e ve, com alegria o animalzinho correr atrás do carro, até a exaustão, enquanto acelera, olhando pelo retrovisor.
Que Deus se apiade de suas almas !
Gy - Brasília, DF
Prezado Girley!
Você postou esse texto em 2009. Mas sou novata no seu blog, por isso li agora, 26/01/2013. A essa altura, você já deve ter assistido ao filme, com Richard Gere. Eu assisti. Muito emocionante. Fidelidade é atitude frequente na maioria dos cães, o que nem sempre se faz presente entre nós, seres ditos racionais. Foi bom reler a história de Hachi-Ko.
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