quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

É CARNAVAL, OUTRA VEZ

Antigamente, quando chegava esta época do ano, eu ficava ligadão nas prévias carnavalescas e ia “esquentando as baterias” para curtir o tríduo momesco.
Hoje em dia, porém, a coisa tem sido muito diferente. Mudei eu, é verdade, com o passar do tempo. Mas, mudou também o carnaval. Já não é como antigamente. Hoje, tudo é agigantado, fabricado, comercializado, explorado e, por cima, permeado de violência. É preciso ter muito cuidado para o que ocorre no meio da folia. Prefiro a segurança de um programa mais recatado.
Lembro – com saudade – dos velhos reinados de Momo e do tranqüilo carnaval de Olinda, dos anos 80. Levávamos nossos filhos pequenos, sem dificuldades e sem medo de enfrentar contratempos. Poucos anos antes, brincávamos o carnaval dos salões, nos nossos principais clubes sociais. Eram festas retumbantes, de saudosas memórias.
Ultimamente, a coisa tem sido de tal maneira assustadora que prefiro fugir da folia, muitas vezes correndo para lugares distantes e culturas distintas. Maioria das vezes para lugares que carnaval nem é lembrado.
Em 2007, fui, com a família, curtir Buenos Aires, capital da Argentina. Lá carnaval passa à distancia. Aqui e acolá, podem ser vistos agrupamentos de pessoas em ruas previamente fechadas, para curtir uma coisa parecida com uma quermesse de interior ou subúrbio brasileiro. A festa da Vitória Régia, que acontece todo novembro, no bairro de Casa Forte, Recife, bate qualquer desses festejos argentinos. Na avenida principal de Buenos Aires, a famosa 9 de Julio, o carnaval foi comemorado, nesse ano, com um grande torneio de tênis, envolvendo as estrelas locais deste esporte, dentro de uma mega arena ali montada. Para o turista é ótimo porque lá, não é feriado. Tudo funciona normalmente: comércio, escolas, bancos e repartições do governo
No interior do país, na localidade de Gualeguaychu, vem sendo promovido um carnaval, digamos, mais audacioso numa tentativa de imitar o carnaval carioca. Tem desfile de fantasias e de mulheres com trajes sumários. Dançam os ritmos regionais, que têm certa cadência e evoluções propícias aos propósitos de imitar nosso carnaval tupiniquim.
Noutros pontos do país, particularmente nas províncias do Noroeste argentino, segundo meu amigo argentino, Jorge Morandi, – atualmente passando férias no Recife, como meu hóspede – o carnaval acontece de formas bem típicas, respeitando os fortes traços da cultura local. Para começar a coisa é lembrada como um folguedo ligado à figura do Diabo. Brinca-se a valer, por oito dias, sempre se reportando à figura do dito cujo, representado pelas centenas de mascarados, conhecidos como los endiablados.
Na Província de Jujuy, numa região denominada Quebrada de Humahuaca (Paisagem Cultural da Humanidade, pela Unesco!), acontece um carnaval muito animado e concorrido. É atração turística. A folia reina absoluta ao som e ritmos trazidos dos ancestrais incas da Bolívia e do Peru. Vide imagens a seguir.
Segundo Morandi, quando o carnaval termina, no domingo seguinte, os grupos de comparsas (blocos carnavalescos) enterram o carnaval, oferecendo, em agradecimento à Pachamama (Mãe Terra, no idioma indígena) a oportunidade vivida e um agradecimento pelo que foi colhido durante o ano. São frutas, cereais, bebidas e, o que eles consideram muito importante, uma folha de coca. É oportunidade, também, de pedir graças à Pachamama. Os que, por exemplo, desejam construir uma moradia oferecem ferramentas de construção, tijolos ou outras peças relativas ao pedido. Pede-se, ainda, pela saúde, pela família e pela felicidade afetiva.
Por fim e para completar, enterram também o Demônio, que neste caso é representado por um caprichado boneco. Deixam-no por lá, para que não perturbe durante restante do ano. A cova é marcada por um montinho de pedras, para que no ano seguinte seja encontrada facilmente, ocasião em que desenterram o “sujeito” abrindo uma nova temporada de festejos carnavalescos.
Ah! Já ia esquecendo! O tal boneco de Satanás, pode ter um pênis com proporções avantajadas, que é beijado, com ardor, pelas moças solteiras desejosas de arrumar um marido. Dizem que, quando a coisa é feita com fé, é “tiro e queda”... no ano seguinte a beijadora não precisa repetir o gesto.
Este gênero de carnaval, que acontece na Quebrada de Humahuaca, se repete com pequenas variações, já pude observar, em países da América Central e Caribe. Lembro de haver visto algo parecido na República do Panamá, onde já passei um carnaval. Lá, ao invés de endiablados, são chamados de diablicos. São costumes interessantíssimos.
Neste próximo carnaval, pretendo ir ao Chile. Quem sabe descubro outros costumes, para entender, outra vez, que carnaval não se faz somente com samba e frevo.

Notas: Fotos obtidas no Google Imagens.
Sugestão: se quiser saber mais sobre o carnaval e a Quebrada de Humahuaca, abra o Google. Tem informes excelentes.

6 comentários:

Anônimo disse...

Que coisa linda, Girley; ainda sou um entusiasta do nosso carnaval, ainda que caótico, super-produzido e assaz perigoso... a minha curiosidade sobre as manifestações momescas alienígenas por hora estariam satisfeitas se fosse possível trazer algo destas culturas para uma convenção de carnavais do mundo para cá!

Abraços

Cássio Reis disse...

Infelizmente o nosso carnaval está banalizado de violência e prostituição. O governo faz campanhas do tipo "use camisinha neste carnaval", influenciando de certa forma neste meio que ele mesmo "combate". Se eu estivesse nesta época citada por vc, talvez até poderia gostar de carnaval. Mas, graças a Deus, isto não me faz nenhuma falta. Parabéns pelo texto e por relatar um pouco da cultura de outro país. Grande abraço!

Anônimo disse...

Olá Girley:

concordo em tudo que vc falou sobre o carnaval...eu só conheci o carnaval espanhol...entretanto durante esses carnavais
na Espanha, eu me escondia atrás dos livros, pra não me lembrar que aqui no Brasil, especificamente em Olinda estava ocorrendo uma das maiores manifestações populares de alegria do mundo. Se, algum espanhol me lembrasse que "naqueles dias" era carnaval...e sempre diziam: Ah!, Brasil, carnaval, ...eu chorava.
Assim foram 4 anos sem o carnaval de Olinda. Um dos anos, especificamente no ano de 2007, terça de carnaval, eu esta passeando e brincando na neve com meu filho caçula, no povoado de Olmedo- Valladolid. Nunca imaginei que com o tempo, ia me acostumar a passar e sentir diferentes carnavais.
Você nos da exemplo de maturidade, curiosidade, e de relatividade, quando sai pra passar momentos com a família em outros carnavais. v Podemos viver diferentes carnavais aqui, lá, em qualquer lugar, com os filhos, irmães, netas, amigos ou com a pessoa amada. Você nos faz descobrir que o carnaval é simplesmente uma representação de alegria, e está dentro de nosso coração.

Veja se pode colocar no seu Blog
aproveito pra externar a alegria de ver o nosso presidente dando entrevista na Globo essa semana...ficou muito bom. Parabéns.
Eloine Nascimento de Alencar

Anônimo disse...

Girley
Como siempre me gusto mucho tu artículo. Y si no cabe duda que ya estamos viejos. Recuerdo con mucho cariño aquellos tiempos cuando de jóvenes, disfrutamos aquellos fiestas precarnaval y luego el mismo. Que días tan increíbles. Pero quisiera contarte mi último carnaval en tu país, fue en el 76, cuando me case, la condición para hacerlo fue un viaje a ese lugar que fui tan feliz. Pero estuvimos solo en el sur, el carnaval de Río. Mi esposo que jamás había estado en uno temía el carnaval de Rua, pero yo lo invite para conocer esa parte tan especial del brasileño. Esa forma tan especial de disfrutar la vida. Y salimos a la rua, también fuimos a los bailes de los clubs sociales, el Canecao, en fin todo lo que conlleva esa fiesta. Cuando regresamos otros amigos que también fueron al Carnaval de Río, lo hicieron como los turista norteamericanos, fueron a los hoteles y no salieron, su experiencia fue desagradable y yo pensé, fue porque no conocieron el alma de los brasileños. Creanme, que ustedes son especiales, apasionados, abiertos a sus sentimientos y a trasmitirlos con la música que llevan adentro y ese corazón que los hace grandes. No borren esa parte tan especial de ustedes, ese coraje para disfrutar, para vivir que los ha llevado tan lejos, o por lo menos hay que dejárselo, a sus descendientes, a los jóvenes, con los buenos principios que uno como padre les inculca no hay que temer, ellos sabrán llevar las cosas por buen camino, sin perder ese gusto por disfrutar. Es parte de su identidad y en este mundo globalizado, no hay que perder la parte de nuestra cultura, debe uno guiarlos a que sigan fomentando y regrese a eso que era. Por otra parte, tiene que tener su parte desenfrenada, porque sino no sería Carnaval, no crees.
Susana Gonzalez (Mexico)

Anônimo disse...

Caro Girley:

Tu relato refleja fielmente el contenido de nuestra conversación sobre el carnaval de la Quebrada de Humahuaca. Faltó indicar que debido a que el Diablo anda suelto, los carnavalescos pintan sus rostros con harina o talco, u ocultan sus rostros con máscaras, para no ser reconocidos por el susodicho. También colocan en la cabeza o en el sombrero hojas de "albahaca" (planta aromática similar al manjericão) para repeler los efluvios de Satanás.
Olvidé de comentarte que previo al inicio (desentierro) del Carnaval existe un ritual denominado "el topamiento de las comadres". Todos los miembros de una comunidad o villa se posicionan sobre dos colinas: los hombres de un lado y las mujeres del otro. Cuando se da una señal, todos corren colina abajo hasta toparse con una persona que viene corriendo en sentido contrario. La persona con la que cada uno(a) topó, será el compañero o la compañera con quien se pasará todo el carnaval.
Durante el carnaval, tambien existen otros rituales como la "señalada", fiesta en la que se seleccionan y se "marcan" los mejores animales (generalmente rumiantes menores como ovejas y llamas). El dueño del rebaño ofrece una gran comilona acompañada de música, danzas, abundante bebida y hojas de coca para mascar.
Finalmente, existen otros rituales como las "invitaciones", sobre las cuales podemos comentar en una próxima oportunidad.

Girley Brazileiro disse...

Caro amigo Morandi,
Seu comentário enriqueceu, por demais, este meu relato sobre o carnaval e, no que toca, particularmente, ao carnaval na Quebrada de Humauaca. É de uma beleza muito especial. Esse misticismo, por assim dizer, enche o foclore argentino de um colorido formidável. Achei incrivel a crença de pintar a cara para despistar Satanáz e, quanto a topada, nem é bom falar. Bom deve se vivenciar tudo isso. Quem sabe um dia, antes de morrer, vou passar um carnaval - com vocês - na Quebrada.
Muito grato pela sua visita ao Blog. Volte sempre!
Con amistad,
Girley Brazileiro

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