Depois de vários anos de tranqüilidade, o que mais se noticia é a volta do dragão da inflação. A Veja desta semana (pág.67) mostra num quadrinho bem claro, que a cesta básica subiu nas principais capitais brasileiras e o Recife lidera o rank, com a maior taxa de aumento, 29% no primeiro semestre de 2008. Isto é demais. Em São Paulo foi de 14%. Muito ruim, sobretudo para quem vive de salário mínimo e paga aluguel.
De fato, para quem freqüenta os supermercados da vida, esta coisa fica visível e preocupante, sobretudo nos itens dos cereais, da carne e do leite e seus derivados. Como o sustento alimentar está baseado nesses produtos, o que se conclui é que a situação não é das mais alvissareiras.
São muitos os indicativos para explicar a situação e na maioria são de origem externa. Na recente viagem pela Europa, o que mais vi, nos jornais dos principais países, foram manchetes, artigos e analises sobre o problema, sobremodo na pressão sobre os gêneros alimentícios.
Entendo, então, que o que estamos vivendo no Brasil, não é fruto, necessariamente, de uma dificuldade na produção nacional, mas, sobretudo na escassez da oferta mundial. Como não somos auto-suficientes na produção de todos os itens, a exemplo do trigo e do arroz, estamos sujeitos a amargar a alta dos preços.
A incrível alta diária do petróleo, no mercado internacional (o barril do óleo já beira a casa dos U$ 150,00), obviamente, tem marcado de forma flagrante sua participação na elevação dos preços. Claro, porque o transporte da produção é feito por meios de transportes movidos a diesel, gasolina ou querosene, contribuindo para a elevação do preço final ao consumidor. Agora, não há dúvidas que o cartel do petróleo está “deitando e rolando”, enquanto pode, para elevar os preços, temendo a consolidação do sucedâneo etanol obtido de fontes renováveis e sustentáveis para mover o transporte mundial de bens, serviços e pessoas. Detalhe: o petróleo dificilmente vai voltar aos preços do passado. Pode cair um pouco, mas, não o suficiente para tornar aos níveis de cinco anos atrás.
Outra explicação, cada vez mais constatada, é a de que países em desenvolvimento, particularmente a Índia e a China, passaram por profunda mudança na sua estrutura social, com imensos contingentes populacionais – na casa dos bilhões – ascendendo nas classes sociais e passando a consumir mais cereal e mais proteína. Essa demanda inflada fez com que as fontes supridoras se ressentissem da incapacidade de atendimento, gerando o que, naturalmente, acontece: quando a oferta do produto diminui, o preço aumenta. E, o pior, nem sempre na mesma proporção! Porque os especuladores estão sempre de plantão.
No Brasil, um fato concreto contribuiu para que a situação fosse também sentida, com detalhes similares. Vigorosa política social (Bolsa Família), implementada pelo Governo Federal, distribuindo renda à população carente, remeteu imenso contingente populacional ao mercado de bens e serviços, impondo uma nova dinâmica no grande e pequeno comercio.
Indiscutivelmente, que os resultados imediatos dessa política são positivos, embora que a sustentabilidade do programa, seja discutível visto que, na sua essência, é assistencialista. Agora, o que mais preocupa é que a escassez dos gêneros de primeira necessidade, com a conseqüente alta dos preços, venha por em risco a governança dessa estratégia governamental.
Contudo, vista por outra perspectiva, a crise, como qualquer outra, suscita saídas estratégicas e guinadas fantásticas e este momento pode ser muito bom para a economia brasileira. A imensidão das terras cultiváveis deste continente verde-amarelo pode transformá-lo – de uma vez por todas – num privilegiado celeiro do planeta.
O Brasil tem 850 milhões de hectares. Aproximadamente 40% são agricultáveis. Desse percentual, estima-se que menos de um quarto tenha sido tocado. Temos, portanto, uma imensidão de terras a serem aproveitadas. Basta que haja recursos para a mobilização dos demais fatores de produção, incluindo o financiamento. Sem esperar muito.
Afinal, um país que descobriu e domina a tecnologia do etanol, a base da cana-de-açúcar, tem condições de produzir, competitivamente, um sem numero de outros produtos, sobretudo os alimentares.
E, por falar em etanol a base da cana-de-açúcar, tão criticada no meio do mundo – sobretudo pelo cartel do petróleo – por sugerir a redução da oferta de alimentos, um dado interessante vem da Agencia Nacional do Petróleo – ANP: o Brasil produz, atualmente 22,5 bilhões de litros de etanol, em, mais ou menos, 370 usinas que utilizam apenas a irrisória parcela de 0,73% daquelas terras agricultáveis, acima referidas. Francamente... tenha paciência!
Portanto, vamos produzir mais, com eficiência e modernas técnicas. O Brasil pode sim tirar partido dessa situação internacional. Não apenas para atender demandas internas e externas, mas também para dar uma resposta competente ao mundo.
Nota: as fotos - Colheita de soja (em cima) e canavial (abaixo) - foram obtidas no Google Imagens.
terça-feira, 8 de julho de 2008
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3 comentários:
É isso aí Girley, o que para o resto do mundo é uma grande ameaça pode ser transformado numa grande oportunidade para o Brasil. Precisa seriedade, agilidade e competencia. Abs
Joao carlos cabral de barros
Meu caro Girley, Parabens pelo seu BLOG. Só hoje tomei conhecimento. Os artigos e noticias sâo excelentes.
Abraços Tarciso Calado Presidente do Rotary Apipucos
Girley,
estou sempre passeando por aqui, lendo, curtindo, gostando.
Beijos
Maria
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