domingo, 9 de abril de 2023

Havia mais Respeito

Na quarta feira à tarde o mundo parecia parar. Os dias denominados de santos, à época, eram respeitados e seguidos à risca das liturgias religiosas. Católicos, protestantes, umbandistas e coirmãos cristãos se recolhiam às orações e meditações recomendadas pelos seus respectivos preceitos. Escolas e colégios eram fechados durante a semana da paixão. As estações de rádio só transmitiam músicas sacras. As mães de família dedicavam horas a fio, em pregações aos seus filhos e filhas. O jejum e a abstinência de carnes vermelhas eram rigorosamente obedecidos. O comércio fechava as portas e, até, os cinemas só abriam se exibissem fitas da Paixão de Cristo, muitas das quais antigas e tecnicamente artesanais. Algumas ainda da época do cinema mudo que, sem outra opção, eram as exibidas. Ninguém matava e ninguém morria, salvo por morte natural. Lava-Pés e procissões da Via Sacra e do Senhor Morto se multiplicavam... Bom, sem dúvidas, havia mais respeito. Essa comilança de chocolates, em formato de ovos, só apareceu muito depois.
Recolhendo meu retrovisor da vida, observo com grandes surpresas o comportamento social da atualidade, cada vez mais distante dos velhos e bons costumes. Não se trata de saudosismo, mas, certamentealguma incapacidade de assimilar o que para muitos representa avanço ou progresso sociopolítico. Confesso que, ainda, me surpreendo com o fato de que já não se sabe mais o que significa “dia santo”. Para todos os efeitos, e oficialmente, é feriado. Estado laico e sociedade laica. Sou católico de berço e isso é difícil. A ideia de uma Santa Semana passa longe e despercebida. Atualmente, apenas a sexta-feira é, digamos que, “respeitada” e o fim de semana termina sendo intitulado de feriadão. O comercio abre, os cinemas exibem o que os produtores impõem e a festa urbana rola nas 24 horas. Este ano, inclusive, houve jogo de futebol valendo como semifinal do campeonato de futebol, aqui em Pernambuco. Quem diria? Em muitas praças da capital e do interior do estado shows são oferecidos ao público com cantores irreverentes e alheios ao significado religioso da data. Faço ideia da alienação do que seja uma apresentação pública de uma banda denominada de Calcinha Preta, na noite da sexta-feira Santa, para um público eufórico e se achando privilegiado. É preciso viver o tanto que já vivi para fazer esse tipo de observação. A História nos garante que a falta de valores morais e de formação socioeducativa (comum no Brasil de hoje) mais disciplinada resulta em esgarçamentos contínuos do tecido social, gerador, por sua vez, de episódios irreparáveis e comprometedores para o futuro de um povo. Os exemplos estão a olhos nus, no dia-a-dia daqui, dali e d’acolá. Um desses ocorreu, justamente, nesta ex-semana santa que, para mim e muito outros, chocou e marcou com sangue de inocentes a antiga quarta-feira guardada com respeito. Refiro-me ao revoltante caso do desalmado sujeito (não consigo considerá-lo como cidadão) que num surto de ira e loucura, invade uma creche, pulando o muro, na cidade de Blumenau, no estado de Santa Catarina, e a golpes de machadinhas nos crâneos, assassina quatro inocentes criancinhas – três meninos e uma menina – entre 4 e 7 anos. As vitimas curtiam o recreio no parquinho da creche. Segundo noticiário, todos quatro eram filhos únicos de jovens pais. Outros inocentes foram feridos e levados a um Hospital de Emergência. Naturalmente que não há classificação para um monstro desses. Pai de família e com netinhos em idade de pré-escola, que amam parquinhos, como é o meu caso, resto-me revoltado e com imensa dificuldade de aceitar viver numa sociedade que produz tamanha aberração. Chorei por essas crianças e por esses pais que viram, em minutos, seus sonhos destruídos, seus amores fenecidos e condenados a guardar, para os restos das vidas, uma carga traumática insolúvel. Impossível, também, esquecer o assassinato de uma professora de 70 anos, ao tentar apartar uma briga entre dois colegas, numa escola publica, no Rio de Janeiro. Ela já era aposentada do Estado e resolveu ser voluntária nessa escola de bairro. Tentando estabelecer a paz entre dois jovens estudantes que se engalfinhavam recebeu uma punhalada que a levou ao óbito. Triste ironia. Trocou a merecida aposentadoria para se entregar à morte. Essas ironias podem ser repetidas à luz de modelos alienígenas num país em que dantes Havia mais Respeito. NOTA: Foto obtida no Googles Imagens.

6 comentários:

Ina Melo disse...

Pelo título já concordo com você! Hoje poucas pessoas, mesmo as católicas, consideram a Semana como Santa!

Sarto Carvalho disse...

Amigo Girley
Concordo plenamente com você. Precisamos urgentemente de pessoas equilibradas para Governar o Mundo. Deus abençoe e proteja sempre você e seus familiares. Feliz Páscoa. Um forte abraço

Ana Menezes disse...

Concordo com você Girley. No “ nosso tempo mais espiritual’.

Francisco Brito disse...

Que Deus nos guie a atravessar este mar revolto.

Castro Alves disse...

Feliz Páscoa! Amigo. Grato por suas publicações.

Édson Junqueira disse...

Meu Amigo Girley . Concordo contigo , muitos jovens já não sabem
Sobre Jesus Cristo . Outros não querem saber , e os pais já não se esforçam para
Transmitir religião , e Careta , enquanto isso perde se os valores e ficam O supérfluo
. Continuo acreditando que perderam a essência

Haja Cravos

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