sexta-feira, 22 de março de 2019

Tempestades de Ódio

A semana que passou foi repleta de muitos dissabores sociais. O ódio dominou o dia-a-dia de localidades em várias pontos do mundo, inclusive no Brasil.
Deste meu posto de observações, tenho a sensação de que o sentimento do amor está entrando em falência. Percebo, com frequência,  que até mesmo o simples ato de amar vem acontecendo sem a pureza, o prazer e a dignidade do passado. Isto porque, de modo não raro, vem secundado por disputas interpessoais explicitas ou veladas e traduzido por interesses outros, resultando no desvirtuamento do real objetivo de amar. E não me refiro, apenas,  ao ato de amor entre dois indivíduos. Muitos são os grupos familiares nos quais esse comportamento adverso se reproduz, quando entram em jogo interesses materiais que terminam por levar à desunião e aos rebatimentos de desajustes sociais, já que os traumas domésticos são levados ao meio social e resultam nas bases de desajustes sociais, que proliferam no mundo moderno, gerando o que denomino de tempestades de ódio.
Naturalmente que não sou ingênuo ao pensar que estas coisas só ocorrem nos tempos atuais. Não. Nada disso. Disputas e interesses pessoais, sociais e políticas (tribos e nações ) sempre existiram ao longo dos séculos. Contudo, o avanço das ciências e da tecnologia trazendo a modernidade das coisas ao mesmo tempo que oferecem aos seres humanos inestimáveis bônus cobram, em troca, pesados ônus. Esta parece ser uma verdade indiscutível. A cibernética tem contribuído decididamente.
Mas, isto é coisa para ser analisada com melhor forma e competência por quem é cientista ou psicólogo social, coisa que passa longe da minha cabeça.
Mesmo assim, é difícil entender atos tresloucados de indivíduos mal-amados ou de caráteres mal formados que povoam o mundo moderno. Ataques massacrantes como o que assistimos no Brasil (Susano/ SP) e na Nova Zelândia, na semana passada, chocam e comovem pessoas de sãos juízos e construtores da paz. Doloroso o caso daquele jovem de 17 anos que, com um comparsa de 25, invadiu a Escola Raul Brasil (Suzano), na região metropolitana de São Paulo, chacinando pessoas inocentes, destilando ódio e descarregando recalques acumulados ao longo da curta existência. Espantosa a frieza do terrorista australiano que matou 49 pessoas e feriu mais 20, com rajadas de potente arma de fogo, em mesquitas muçulmanas na cidade de Christchurch (Nova Zelândia). Este último, aliás, abusando da moderna internet e com frieza e crueldade visceral transmitiu ao vivo e a cores escarlates a ação brutal que cometeu. Para completar o "festival" de ódio do período, outro terrorista, de nacionalidade turca, cometeu um atentado num trem urbano, em Utrecht  na Holanda, matando três pessoas e ferindo outras sete. 
Tributo às vitimas do massacre em Suzano (SP-Brasil)
Vez por outra,  comento ataques extemporâneos e trágicos. Lembram do ataque num show musical ao ar livre em Las Vegas, no ano passado? E o daquela escola numa cidade próxima a Miami, ano passado também, que vitimou 17 pessoas entre estudantes e professores? E o daquela escola em Realengo, no Rio de Janeiro, em 2011? São alguns casos,  entre muitos outros, que ocorrem pelo mundo afora provocando consternações profundas. 
São todos episódios ligados à cultura do desamor, semeada em ambientes sociais pouco preparados para educar e conduzir os jovens por uma senda de paz. Nesse exemplo recente, o rapaz de 17 anos, Guilherme Taucci Monteiro, principal terrorista, na escola de Suzano, era um indivíduo marcado pelo desamor desde que nasceu. Filho de uma viciada em drogas e vida desregrada e, por isto mesmo, alvo constante de bulling entre seus colegas de escola, foi criado pelo casal de avós maternos certamente desprovidos de condições adequadas e de real afeto e carinho. Ausência de amor familiar. Para agravar a vida do rapaz, a morte recente da avó exacerbou seu desequilíbrio emocional provocando a decisão de embarcar nessa aventura, com um parceiro também insatisfeito com a vida que levava.  Ambos alimentavam desejos de se tornarem personagens famosas com esse feito macabro. Tem gosto pra tudo entre o céu e a terra. 
Temo que a cultura do ódio tome conta das sociedades e o mundo caminhe para uma conflagração social muito mais dramática do que as "corriqueiras" guerras entre tribos e etnias, famílias e  nações.
Nesse quadro desolador não é motivo de surpresa quando um jornal europeu  (El País, da Espanha) noticia que morrem mais pessoas assassinadas no Rio de Janeiro do que na Guerra da Síria. Que horror.  
O mundo precisa - nós precisamos - trabalhar intensamente, desde nosso ambiente familiar, para que sejam gerados filhos desejados, amados e queridos e que prezem a cultura da paz e do amor. Afinal, a paz começa dentro de cada um e nas nossas casas. 

NOTA: Foto colhida no Google Imagens 


2 comentários:

Jose Paulo Cavalcanti disse...

Tempos complicados, amigo. Belo texto. Generoso. Abraços, José Paulo

Jose Artur Paes Vieira disse...

Amigo,
Objetividade e abrangência. Óbvio que você focou os tempos modernos estraçalhados pelas incoerências socioeducativas. Estou há 6 meses tentando ir a um cinema, mas fora uns 2 filmes tipo Roma, nada mais encontrei do que estapafúrdias expressões de massacres urbanos. Por coincidência, retirei uma revista da “Mesa de Desapego” aqui do condomínio que foca a INQUISIÇÃO, onde, como sabes, se destacam as Cruzadas que promoveram sangrentas guerras, apoiadas pelo Tribunal da Santa Inquisição, cujas penas eram pautadas pelo máximo de sadismo possível. Bem, chega se não meu texto fica maior que o seu. Parabéns.

Tiro pela Culatra

Venho acompanhando, como cidadão comum e com certa apreensão, as informações sobre o surto de dengue que ocorre este ano no Brasil. Impressi...