sexta-feira, 9 de junho de 2017

Salvemos o Forró



Vejam vocês, caros leitores e leitoras, como as coisas “evoluem” no campo da cultura regional. Na época do carnaval venho sempre criticando a inclusão de cantores sulistas, interpretes de musicas sem qualquer relação com os ritmos do carnaval pernambucano, na grade de atrações principais para animar nossos festejos. Tudo em detrimento dos artistas locais que entram de maneira marginal na programação oficial e com aviltados cachês. Os convidados de fora são privilegiados com cachês polpudos e recebidos com honras e salamaleques comuns com grandes estrelas do show business. Uma humilhação sem tamanho para os que sabem dos valores da cultura local.
Agora, por ocasião dos festejos juninos, surge uma nova investida contra a prata da casa regional, ao se constatar que, nas monumentais programações das festas de Caruaru (PE) e Campina Grande (PB), as grandes atrações são os chamados cantores sertanejos do Centro-Sul, em flagrante ofensa aos cantores regionais, discípulos de Gonzagão e Dominguinhos. Há uma tremenda diferença entre os ritmos nordestinos e aqueles do Festival de Barretos (SP), berço dos tais sertanejos, onde, aliás, os cantores nordestinos (como Elba e Dominguinhos) são impedidos de se apresentar para não ofuscar o brilho dos tais sertanejos. E certamente o fariam. Pensem numa Elba incendiando aquela arena de touros. 
Elba Ramalho

Mestre Dominguinhos
 Ora, meu Deus, onde vamos parar? Por que tanta insensibilidade cultural? Por que tanta irresponsabilidade desses promotores de eventos e governantes locais? Todos muito cínicos em defender suas programações insanas. Os safadões, luans, além das inúmeras duplas sertanejas são as atrações deste ano nos grandes eventos regionais. São esses que já fazem as cabeças dos nossos jovens. Jovens nordestinos que nos anos recentes já consideram o frevo e o maracatu ritmos insuportáveis e logo, logo vão abominar o forró. Pobres coitados, não saberão jamais o quanto é gostoso garrar de uma menina e se arrastar num balancê de esfrega-esfrega sensual de corpos suados e se esbaldar ao som da sanfona, triângulo e zabumba, de um forró pé de serra. Tudo, obviamente, com um desfilar de vozes genuínas e cheias de poesia. Ao invés disso, preferem beber (bebe-se muito, hoje em dia) e assistir de pé as apresentações desses intrusos bem pagos. Ninguém dança agarradinho e, muito mal, balança o esqueleto. Coisa mais besta! Dançar uma quadrilha é coisa  démodé e sem qualquer motivação. As quadrilhas atuais viraram outra estupidez, porquanto estão mais para desfile alegórico do que a dança inocente, brejeira e romântica dos anos 60 e 70.
Não, não sou contra as mudanças e as inovações. Mas, tenha dó! No caso da Cultura é preciso ter cuidado. Uma coisa é evoluir, a outra é deletar (este termo é neologismo e sinal de modernismo!)  o que represente valores culturais.
Países da Europa e da Ásia são mestres da modernidade, mas, preservam cuidadosamente  suas raízes culturais e valorizam o repassar de geração a geração. No Japão, visitando uma indústria de Tecnologia da Informação, em Kyoto, fiquei surpreso ao me exibirem o layout de circulação dos micros-filamentos de um circuito de minúsculo chip (do tipo usado na telefonia celular) que reproduzia uma tapeçaria milenar (muito antes de Cristo) japonesa, cujo original está exposto no Museu Ueno (Tóquio). Apenas como exemplo.
 
Savinho do Acordeon






Tenho acompanhado os protestos dos cantores populares regionais contra essas promoções de forasteiros nos nossos festejos. A cantora Elba Ramalho já colocou a boca no trombone dos protestos e se ressente da sua exclusão nos festejos da sua cidade natal, Campina Grande. Aqui em Pernambuco, um dois maiores defensores do forró e difusor das músicas de Gonzaga e Dominguinhos, Savinho do Acordeón, (foto acima), não deixa por menos e com o slogan: “Festa Junina é com forró e não com Sertanejo”, vem denunciando essa dependência cultural dos desavisados no poder. Danado é que os políticos de plantão fazem disso, também, uma maneira de cativar os eleitores.
Salvemos o Forró nordestino, enquanto é tempo. 

NOTA: Fotos obtidas no Google Imagens e arquivo particular de Savinho do Acordeón.

12 comentários:

Savinho do Acordeon disse...

Vou lutar até o esgotamento físico total, mas não abandonarei o campo de batalha, o forró jamais será enterrado por um bando de forasteiros oportunistas e sem nenhum compromisso com a cultura do nosso povo! Pernambuco precisa banir de vez este tipo de música, sem nenhuma identificação com a nossa cultura popular e nosso folclore! Respeitem o legado do Rei do Baião, Luiz Gonzaga! O Nordeste já esqueceu a sua música e danças típicas, devido à invasão dos Sertanejos e seus empresários gananciosos, interessados em fincar raízes na nossa terra. Eles são atrações principais em toda e qualquer manifestação cultural, realizada aqui ou nos Estados que compõem a nossa belíssima Região! Basta!
Savinho do Acordeon

valerio guidotti disse...

Nossa festa em Gravata ,terá nada menos de que Galeguinho de Gravata ,falta vergonha na cara destes prefeitos sem mãe .

Fabiano Toquetão disse...

Querido Girley como sempre concordo em tudo o que sabiamente foi colocado , saiba que aqui em Aracatuba preservamos a tradição por falta de $$ mesmo , contratamos um excelente músico que vem fazer um forró bem arretado em nosso quintal , já estamos na nossa quarta edição e olha que tem quadrilha e quentão , só coisa boa , acho que as pessoas têm que voltar a colocar um pouco a mão no bolso , assim acaba com essa farra !

José Jimenez disse...

Gracias amigo por darme a conocer la existencia de la música nordestinha do Brasil.
José Jimenez (Equador)

Tobias Silva disse...

Adorei seu artigo Girley. Um manifesto, uma defesa da alma nordestina. Você foi ácido, mas na dose certa. Parabéns.
Tobias Silva

Ricardo Rego Barros disse...

Parabéns por mais um excelente post sobre nossa cultura, esse ano graças a Deus, os responsáveis pelo São João de Caruaru diminuíram em muito essa disparidade, mas precisamos pressionar sempre mais preservar nossa cultura e nossa história.
Ricardo Rego Barros

Susana Gonzalez disse...

En nosotros está q la tradiciones no desaparezcan y Pernambuco tiene muchísimas q vivo en la época más importante de un ser humano q hace q se conviertan en tuyas. Yo desde acá, hago fuerza para q se conserven, porq me gustaría ir allí y volverlas a vivir.

Maria Regina Pinto Ferreira disse...

Excelente defesa a nossa cultura! Pernambuco precisa ocupar espaço na música dos seus festejos.
Maria Regina Pinto Ferreira

Vanja Nunes disse...

Boa tarde
Concordo em gênero, número e grau
👏👏👏👏👏👏
Vanja Nunes

Ieda Almeida disse...

Amigo, fico muito feliz quando leio e aprovo os seus comentários , principalmente, quando defende a nossa cultura. Não posso entender, como alguém deixa de apresentar os seus herois para que desconhecidos venham fazer a nossa festa. Estou de acordo com você pois temos artistas maravilhosos e insubstituíveis para esses festejos!
Ieda Almeida

Miguel Abage Neto disse...

Estão com mania de Sertanejo e Brega ,qualquer época do ano.
Miguel Abage Neto

Simone Monte disse...

Girley, veja isto:
"Por ter dado uma declaração pública que não concorda com a invasão avassaladora da música de Barretos nos festejos juninos do nordeste, considerando que artistas como ela e o saudoso Dominguinhos também foram impedidos de cantar por lá, e por defender os forrozeiros autênticos que construíram as maiores festas juninas do nordeste, A Dama do Forró, Elba Ramalho, está sofrendo represália de assessores não qualificados, tentando denegrir sua opinião, que deve ser respeitada, considerando sua história e compromisso com a nossa cultura.
Convido você a compartilhar esta mensagem, se você concorda que o forró do povo nordestino não pode ser substituído pela música sulista ou do centro oeste. Concordo que possam até participar, mas não engolir os espaços como os empresários, em concordância com gestores, estão fazendo. Pude ver de perto como fazem para inserir estas atrações. Lutei para preservar o espaço dos forrozeiros, e manter mais de uma centena deles, já foi uma vitória! Mas, se o povo não entender que esta responsabilidade pertence a todos nós, e a mídia não exercer seu papel social em promover o que é nosso, entraremos para a história como assassinos da nossa verdadeira cultura. Não sejamos como eles! Sabemos de onde viemos e quem somos!
Nordestino que se respeita, respeita o forró!
Nós apoiamos Elba! "
Antônia Amorosa

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