sexta-feira, 3 de junho de 2011

Parto Pré-Maturo

Passei uma semana pensando: comento, não comento, comento... Bom, comento. A decepção que hoje sinto é tão intensa, quanto foi a alegria de ver, de perto, o alvorecer do projeto do Estaleiro Atlântico Sul - EAS. Na época, fazendo parte da equipe de Governo Estadual, aquilo foi o que se pode classificar do máximo, numa administração. Renascia a indústria naval brasileira e num sitio pernambucano. Ponto para o nosso trabalho.
Passados os últimos quatro anos, período no qual acompanhei, a uma distancia regulamentar, o processo de implantação da planta naval, comecei a escutar rumores de problemas no projeto. Aliás, numa das minhas últimas postagens, quando critiquei a péssima situação de acesso a Suape, recebi um comentário anônimo com pesada denúncia à gestão do Estaleiro. Embora não tenha – por principio – o hábito de publicar comentários anônimos, abri uma exceção e deixei registrado aquele. Tudo por conta da gravidade da coisa que era apontada.
Ocorre, porém, que a situação vem assumindo proporções lastimáveis e no, último sábado (28/05/2011), o jornal Estado de São Paulo publicou uma matéria, no mínimo, assustadora. Sob o titulo de Petroleiro está “encalhado” há um ano, o respeitado jornal paulista (isso é que é de lascar!), escancarou o quadro de dificuldades e deixou a turma da Ilha de Tatuoca - site do Estaleiro - em palpos de aranha. Tiveram que se explicar... O pauquebrou nas costas dos executivos recentemente dispensados e mandados para casa. São todos paulistas. O projeto está agora nas mãos de novos executivos postos lá pelo Conselho dos Acionistas (Camargo Correia, Queiroz Galvão, PJMR Empreendimentos e Samsung Heavy Industries). A situação, atual, no EAS é de encontrar a adequada solução de continuidade.
Voltando aos primeiros dias do mega-projeto, recordo bem que, quando tudo era apenas uma área em terraplenagem, já se falava para a entrega do primeiro navio, num exíguo tempo, se não me falha a memória, de pouco mais de dois anos. Embora incrédulo, a idéia enchia-me de orgulho porque imaginava que o Brasil e, em particular, Pernambuco ingressava numa era de inédito e fantástico desenvolvimento tecnológico. Puro engano. Estava claro que não era possível. Tecnicamente impossível. O lançamento do primeiro navio – o João Candido – previsto para 2009, só foi açodado e indevidamente lançado ao mar em 7 de maio de 2010. Aliás, embora estivesse por lá, não vi esse “empurrão” ao mar de Suape. Faltava alguma coisa. Não me

pergunte o que era? Quem sou eu para ter uma resposta dessas? No meio de um empurra-empurra de uma multidão curiosa de testemunhar o momento histórico, terminei levando um tombo e rachando a cara. Fui direto para a emergência médica. Mas, isto foi apenas um detalhe pessoal. Nada grave. Apenas um susto. No mesmo dia, a noite, embarquei para a Europa.
Resumo da "ópera": o João Candido foi um “parto pré-maturo”, com um feto mal formado e até hoje é mantido numa “incubadora”, tentando se salvar. A “parteira” responde pelo nome de Lula, ajudada por D. Dilma, numa das maiores manifestações de campanha política já registrada nas terras do Leão do Norte.
Agora, pensando bem, a culpa de tudo isso não foi somente dos executivos da época. Eles podem ter sido falhos, mas, analisando friamente, não podiam operar milagres... Acho que foi, muito mais, fruto de um planejamento falho e da uma Transpetro exigindo muito mais do que era possível de uma estrutura industrial em construção, secundada por uma voraz campanha eleitoral. Pense no que seja construir um navio imenso, no meio de uma construção civil e montagem de equipamentos, entre os quais os guindastes tipo goliath com 100 metros de altura e 164 de vão. Um mosntro que carrega 1.500 ton. de uma vez. Tá louco, meu...
Claro que pesou, também, a inexperiência local na construção naval, o começo de uso da estrutura industrial incompleta e a mão de obra adaptada na marra. A grande maioria oriunda do corte da canam, na Zona da Mata Sul pernambucana.
É uma lástima o que está acontecendo. Estou torcendo para que as coisas encontre os trilhos certos e o EAS amadureça e comece a desovar navios e plataformas no Atlântico, com cronogramas exequíveis e qualidade indiscutível. Este projeto tem que vingar e dar conta dos 22 navios petroleiros encomendados.
Contrariado vou fazer esta postagem. Logo eu que, entre outros, fiz o maior coro de propaganda, no meio do mundo e aos quatro ventos, desse belo projeto. Vejo que, nem todo belo projeto é viável como desejado e a tempo. Essa "criança pré-matura" tem que ser salva rapidamente, para garantir credibilidade ao EAS.


NOTA: Foto tirada no Google Imagens

9 comentários:

Hugo Caldas disse...

Amigo Girley
Oportuno esse seu relato. À propósito o João Cândido transformou-se numa tremenda caveira de burro. Explico: Há mais ou menos um ano, um operário trabalhando dentro do navio despencou de uma altura de 20 metros morrendo na hora. De lá pra cá nada mais deu certo. Não lembro se a grande imprensa noticiou.
Acho que ví uma nota rápidíssima no Jornal Nacional. Tem mais é que levar uma benzedeira para um descarrego com ramos de arruda. Tomei a liberdade de postar no Blog do Hugão. Meu abraço. Hugo

Antonino Duarte disse...

Caro Girley,
Como essa "criança pré-matura" existe outras, basta ver a transposição do São Francisco - parada.
O que aconteceu no último ano do governo daquele sindicalista safado, foi um absurdo. Pior ainda foi o apoio de Eduardo Campos, governador imaturo e sem visão de longo prazo.
Pernambuco não irá esquecer.
Abraços, Antonino Duarte

Guilherme Cavalcanti disse...

Amigo, somos todos culpados. Esse meu comentário não é uma crítica a ninguém, é só uma assunção da minha parcela de contribuição e culpa nesse processo todo. Você bem sabe o quanto compartilhei à época desse mesmo entusiasmo que você descreve tão bem. Mas esse entusiasmo nos deixou todos (nós e quem nos sucedeu) anestesiados e demasiadamente destemidos. Eu tenho comigo uma imagem antiga do primeiro plano diretor de Suape. Há 35 anos Pernambuco era visionário e tecnicamente rigoroso, mas pouco empreendedor. Hoje somos muito mais empreendedores, mas onde foi parar esse Pernambuco que REALMENTE planejava o futuro? A sensação que tenho é que em breve Cabo/Ipojuca será a maior favela da América Latina, Porto de Galinhas a praia mais odiada do Brasil e que daqui a 30 anos quando não houver mais petróleo e a indústria naval quebrar novamente (como tem feito ciclicamente nos últimos 500 anos) teremos um dos maiores desastres ambientais de nossa história. Acho que o navio prematuro é um dos nossos menores problemas. Acho mesmo é que fizemos tudo errado e que agora o buraco é BEM MAIS EMBAIXO. Mas sigo otimista e engajado em fazer algo para mudar isso. Grande abraço. Guilherme Cavalcanti

cmarinho disse...

Meu caro Girley,
O seu artigo sensato e corajoso chega em boa hora. Você descreve sucinta e precisamente o que fizemos, pernambucanos da nossa geração engajados pelo desenvolvimento de Suape, nas mais diferentes posições. E fala da enorme carga de expectativa positiva que ajudamos a construir em torno de empreendimentos como o do estaleiro. Em igual proporção, na medida exata, expressa o que também sentimos diante das notícias recentes sobre o EAS. E vai direto ao ponto, na imagem precisa que escolheu: um parto prematuro. Eu acrescentaria: uma irresponsabilidade como ato de governo para obter uma imagem eleitoreira (não vou esquecer nunca a imagem da mulher Dilma com a ex-canavieira apontando o João Cândido -- "este aqui fui eu que fiz"). Ele, o João Cândido original, com certeza dando voltas no túmulo, marinheiro que foi, sabendo que o seu homônimo não pode se afastar um milímetro do cais. E Deus queira, com a habilidade dos homens em condições completamente inadequadas, que um dia possa ir ao mar. Pernambuco não pode passar por essa desfeita e vergonha, depois de tudo que fizemos ao longo de 35 anos: deixar o João Cândido "morrer na praia".
Cláudio Marinho
ps. concordo inteiramente com meu amigo Guilherme, sobre o risco de um futuro sem planejamento de Suape/Porto de Galinhas -- mas isso é outro assunto ao qual devemos voltar

Anônimo disse...

Caro Girley,
Parabéns pelo corajoso comentário.
É uma pena que isso esteja acontecendo.
Torçamos para que os problemas possam ser resolvidos e os custos suportáveis.
Pernambuco não merece um fracasso deste tamanho.
Abraço,
Francisco Cunha.
TGI Consultoria

Francisco Cunha disse...

Caro Girley,
Parabéns pelo corajoso comentário.
É uma pena que isso esteja acontecendo.
Torçamos para que os problemas possam ser resolvidos e os custos suportáveis.
Pernambuco não merece um fracasso deste tamanho.
Abraço,
Francisco Cunha.
TGI Consultoria

Danyelle Monteiro disse...

Professor,
Apesar dessa história já ser comentada nos bastidores, de ser mais uma vergonha para nosso Estado, o que mais me admirou foi o fato do Sr., na posição que ocupa, ter a coragem de expor a verdade dessa forma, não deve ter sido fácil, porém, acredito ser necessário, as pessoas tem de saber dessas coisas, não podemos nos omitir, afinal de contas, um dia não estaremos nesse mundo e então quando o filme da retrospectiva de nossas vidas passar em nossa mente, será bom sabermos que fizemos o que nos foi possível fazer, o melhor, sempre levando em consideração a responsabilidade social.
Grande abraço,
Danyelle Monteiro

Anônimo disse...

Prezado Girley, no final do mês de junho de 2011 o EAS colocou ao mar a plataforma P55 que devera ser entregue até setembro deste ano assim como o navio João Candido, e o segundo navio Zumbi dos Palmares continua em processo de montagem e hoje o EAS já esta produzindo o quarto navio.

Gleison Machado.

Gleison Machado disse...

Prezado Girley, no final do mês de junho de 2011 o EAS colocou ao mar a plataforma P55 que devera ser entregue até setembro deste ano assim como o navio João Candido, e o segundo navio Zumbi dos Palmares continua em processo de montagem e hoje o EAS já esta produzindo o quarto navio.
Gleison Machado.

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