O Titanic foi lançado ao mar em 1912. Era o que havia de mais moderno e luxuoso daquela época, quando viajar de navio era o must. O filme de James Cameron (1997) mostrou com competência plástica e efeitos especiais o que foi aquilo. Na noite de 15 de abril, daquele mesmo ano, na sua viagem inaugural entre os portos de Southampton (Inglaterra) e Nova York (Estados Unidos) foi de encontro a um descomunal iceberg (cume de uma montanha de gelo que se forma num oceano adentro) e afundou. A moderna tecnologia da época e a expertise dos navegadores não impediram que o rombo aberto no casco do transatlântico provocasse o desastre que, em menos de três horas, tirasse as vidas de 1.532 dos 3.547 passageiros daquela fatídica viagem. Uma tragédia que repercute até hoje.
Quase 100 anos depois, o nosso titânico Presidente Luis Inácio Lula da Silva, no peito e na raça, lançou o “transatlântico” Brasil no “oceano” dos esportes com destino ao porto das Olimpíadas de 2016, com duas importantes escalas na Copa das Confederações (2013) e na Copa do Mundo (2014). O barco Brasil partiu em meio a um retumbante foguetório e foi aclamado como um fato inédito. Na hora da partida, o Cara estava cercado da sua vassalagem que o aplaudia e beijava-lhe as mãos perfumadas com aroma de pré-sal e vestígios de petróleo, fato, aliás, cantado em prosa e verso da popa à proa e, naturalmente, do camarote Alvorada – o do Comandante – à Casa de Máquinas. Nem precisa ser dito que espocaram champãs no casco do “transatlântico”, até que acabasse o estoque do Alvorada.
Bom, o fato é que o barco vem navegando na busca do seu destino. Há um verdadeiro frisson no meio dos tripulantes e passageiros. A chegada em cada porto promete ser debaixo de comemorações sem igual. Fala-se de um maior espetáculo da Terra. Não sabem, porém, pobres coitados, que La Nave vem atravessado calmarias desanimadoras e tempestades ameaçadoras. Tudo quanto não foi calculado previamente, pelo Comandante e seus auxiliares. O mais provável é que a carta de navegação não tenha sido bem traçada. Fala-se que os tripulantes do navio são meio atabalhoados e traçam planos açodadamente, sem orçamentos suficientes ou cartas de navegação adequadas. Por conta disso já se fala, abertamente, que o navio pode encalhar sem encontrar os “ancoradouros/destinos”. Muitos, sequer saíram do papel, outros se revelam inadequados para receber a embarcação. O Brasil está perdido nesse oceano, no qual foi jogado. Os passageiros mais avisados estão inquietos e quase perdendo as esperanças de alcançar o destino.
Na semana passada, quando menos se esperava, o competente alto comando da navegação internacional, mais conhecido como FIFA, decretou, que o ancoradouro da localidade denominada de São Paulo fosse, sumariamente, excluída da trajetória que leva à escala de Copa das Confederações. Talvez, ainda vão estudar, permita a parada de 2014.
Enquanto isto, já tem nêgo disposto a correr ao Alvorada, o camarote do Comandante, para aconselhar, à vassala de plantão, um desvio da rota enquanto é tempo. Resta saber se o atual comando do barco Brasil vai se convencer. O orgulho irresponsável, aliado ao medo de perder a popularidade, não permitiriam voltar atrás. Afinal, como na Roma antiga, quem distribui pão, tem que oferecer circo. Doa em quem doer.
E tem mais: dizem que os portos da Germânia já foram postos de sobreaviso. Os integrantes do Comando FIFA estão intrigados com a calmaria reinante e consideram que a situação é bem pior do que se abateu sobre Mandela Land, quatro anos atrás. Danado mesmo é que não é somente na localidade São Paulo que os piers não saem do papel. A Nave anda perdida e não consegue vislumbrar os ancoradouros programados. Fala-se que entre esses há um, localizado num recife, que anda prestes a desaparecer do mapa. A água está tragando o citado acidente geográfico, por conta da inusitada má administração. Recife está se afogando aos poucos.
O caso do ancoradouro São Paulo – que foi uma imensa surpresa – pode ser, apenas, a ponta de um iceberg.
Sem me sentir integrante do Bloco das Cassandras, desconfio que, se o tempo não melhorar levando para longe as calmarias, a Nave pode mesmo não chegar. Rezemos para que não apareçam outros icebergs. Afinal, o Titanic afundou vitimando, somente, pouco mais de mil e quinhentas pessoas e o Brasil ameaça afundar com mais de cento e noventa milhões. Haja mares... e vergonha! Tô meio chateado, porque adoro Copas do Mundo.
NOTA: Foto/Desenho obtido no Google Imagens.
domingo, 15 de maio de 2011
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9 comentários:
Aplaudo seu comentário de pé. Apesar de ter dado a impressão e chamado de retrógrado pelos combates que tracei em meus blogues, sou testemunha da inconsequência de trazermos esses eventos esportivos para essa terra e esse povo ignorante, analfabeto funcional (para dizer o mínimo), endividado, doente, inseguro e sem transporte. Não podemos nunca priorizar um circo que vai nos levar à vergonha e, depois, ao desastre como população. Isso tem sido assunto de várias postagens em meus blogues, mas nunca com sua retundância e clareza.
Parabéns.
Girley, parabéns pelos seus comentários; você se supera a cada dia!
Abraços.
Wilma.
Professor Girley,
É de fato muito preocupante... ninguém se pronuncia, não planejam nada... muito estranho mesmo... é melhor se preparar para tudo, inclusive para a vergonha...
Grande abraço,
Danyelle Monteiro
Recife,16 de maio de 2011
Cumprimento o competente confrade Girley Brasileiro, pela destreza em manejar, frases e palavras, comparando assunto da atualidade brasileira, com passado historico do Titanic. Melhor comparação não poderia haver pelas situações que se assemelham. A continuar esse "status quoo" da falta de providencias governamentais com relação à COPA, Olimpiada e tudo mais, vamos ver sim o naufragar tempestuoso, da ansia avassladora de "conquistas", sem fundamentos.Sobre o GB,ele é bom mesmo,competente no que diz e no que escreve. A Familia Brasileiro é de origem de Garanhuns. Não poderia ser diferente. Parabens.
Marcilio Reinaux-Jornalisa e Escritor
Prezado Girley:
Parabenizando-o pelo perfeito comparativo feito com a tragédia do Titanic, gostaria de fazer meu comparativo e meus comentários sobre o assunto, agradecendo desde já pelo espaço que vc concede aos seus leitores.
Para mim essa situação se assemelha ao cidadão que mora em casa alugada, restringe a alimentação da família, mantem os filhos em escolas públicas pela gratuidade, mas apesar de tudo tem na porta de casa, por não ter garagem suficiente para guardá-lo, um TUCSON, último modelo com todo os opcionais possíveis para mostrar a todos sua pseudo situação econômica.
Se neste momento ainda estão planejando o que e como executar, imagine quando vão planejar o amanhã, com relação a utilização racional de toda essa estrutura, que com certeza se tornará ociosa?
Será que não é mais prudente e decente melhorar a casa em que se mora, alimentar com dignidade sua família, melhorar a escola dos seus filhos, construir uma garagem compatível com seu GOL.
Ainda há tempo para se agir com dignidade e coerência, mostrando ao mundo que somos um povo inteligente e consciente de suas condições e potencialidades.
Um grande abraço
Orlando Chalegre
Dr. Girley, parabéns pela matéria!
Beijos!
Evelyn
Prezado Girley .
Seu artigo mostra o percurso de falhas e má fé da nave Brasil. Parabens e Deus nos abençoe
Geraldo Leal de Moraes
Caro Padrinho,
Sua analogia é muito oportuna e brilhante. Nossos governantes além de miopes, estão sem bussola e cartas náuticas, perdidos em um oceano de escandalos regados com o nosso suor.
Tudo que foi "construído" nesses últimos 8 anos estamos colhendo agora. Novos escandalos ainda estão por vir, servindo como temas de novas postagens, que com certeza você sabiamente saberá explorar.
Abraços. Victor
Muito boa abordagem e a metáfora. Infelizmente não sãoapenas esses eventos, por certo conquistados a peso de mensalões que ocasionarão os furos no brazilianic. Toda a política economica do país está fadada ao mais completo infortunio. Chooro e ranger de dentes: eis o que aponta no horizonte do outono, inicio de longo e tenebroso inverno. Votos que haja algum caiaque para nós. Abraço, e sucesso.
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