terça-feira, 31 de maio de 2011

PAVOR E EUFORIA

Estou em São Paulo. O propósito desta a viagem é o de participar da Feira Internacional Máquinas e Ferramentas – FEIMAFE 2011 que, a cada dois anos ocorre, no Pavilhão do Anhembi, reunindo produtores de maquinas e ferramentas, nacionais e estrangeiros, destinados a vários segmentos da produção industrial. Minha missão é de trabalho, na Comitiva do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Pernambuco - SIMMEPE, onde atuo como Executivo.
Percebe-se claramente que o bom momento econômico brasileiro (?) torna este já tradicional evento ainda mais pujante. Circulando pelos corredores da exposição ouvem-se idiomas das mais diversas procedências. Durante uma semana são dadas a conhecer os últimos lançamentos tecnológicos atraindo as atenções dos visitantes e compradores ávidos por novidades e dispostos a dar um upgrade nos seus processos produtivos. Aqui, é tudo gigantesco a começar pelo volume de público que acorre ao pavilhão de feiras expondo, vendendo, comprando ou, simplesmente, visitando. É obvio que o volume e valores de negócios que são realizados são evidentes. São mais de 1.300 expositores. Na última edição (2009) foram 1.300 expositores – 49% dos quais eram estrangeiros – em 72.000 m² e quase 68.000 visitantes. Para este ano estima-se que sejam 80.000. É muito, não é?
Mas é importante registrar que, por trás dessa grandiosidade toda, trava-se uma acirrada guerra de concorrência – muitas vezes desleais – entre os expositores, na qual os brasileiros vêm perdendo posição a cada embate. Há uma inquietação, sem tamanho, dos produtores de máquinas e ferramentas made in Brasil que, aliás, já sentem perder a guerra, dentro de casa. E aí, o fantasma da desindustrialização toma vulto e instala um tremendo estresse.
Também, pudera, os chineses estão concorrendo cada vez mais e com maior voracidade, inclusive com mais qualidade, ao contrário do que ocorria historicamente. Ninguém consegue abatê-los. Nessa mesma onda, outros players estão surgindo com vontade de conquistar mercados. Já dei de cara comas presenças de turcos e indianos, que descobriram o caminho das pedras e deitam e rolam no ascendente mercado brasileiro, com incríveis vantagens no jogo da concorrência. Isto, sem falar dos italianos, alemães, holandeses, norte americanos, entre outros. É aqui, seguramente, que se entende bem melhor o nefasto efeito do Custo Brasil. Do jeito que vai, já, já, a “vacavaiprubrejo”. Deus nos acuda! E D. Dilma abra os olhos! Fiquei muito impressionado com duas afirmações de empresários brasileiros expositores: o primeiro foi taxativo ao declarar que “pra poder competir, fiz parceria com um produtor chinês, que agora fabrica minhas máquinas – lá mesmo na China – taca minha grife e manda pra cá e eu vendo”. Ou seja, o cidadão virou um simples comerciante de máquinas supostamente fabricadas por ele. E os empregados da antiga produção, aqui no Brasil, foram pra rua. É danado... O segundo empresário mostrou-me, na ponta do lápis, que uma máquina turca chega ao Brasil pelo equivalente médio de 70% da nacional e a chinesa cai para 30% do valor da similar nacional. É de lascar... Aonde vamos chegar? Se as reformas prometidas pelo Governo demorarem mais, a indústria nacional pode mergulhar numa profunda crise. Ou, até, se acabar!
Já o setor dos serviços, nessas horas de feiras, aqui em São Paulo, dão uma empinada que nem pipa (papagaio) no mês de agosto, na praia de Boa Viagem. Estão acontecendo, simultaneamente, três grandes feiras aqui na cidade, inclusive a de equipamentos hospitalares, atraindo multidões e movimentado o chamado turismo de negócios. Não restou uma só vaga nos hotéis locais. Conheço gente que comprou passagem aérea e não achou hotel. E olhe que São Paulo conta, segundo a Agência Brasil/ABIH, com 105 Mil leitos de hotel. Os serviços de montagem dos estandes das feiras, alguns são extravagantes (vide, a seguir, foto de um com 1.200m²) e os serviços de buffet
fazem girar verdadeiras fortunas. Os restaurantes e bares estão sempre apinhados de clientes. Os mais conhecidos impõem filas de espera de mais de uma hora. Locadoras de automóveis, comércio em geral e, inclusive, a prestação de serviços de escorts para executivos estão bombando. Mais alegres do que pinto ciscando no curral.
É isso aí: no setor Industrial grande pavor. No setor dos Serviços grande euforia. Êita Brasil. zil, zil.
NOTA: Esta postagem foi redigida em S. Paulo no último fim de semana. As fotos são do Blogueiro.

7 comentários:

Wilame Jansen disse...

Girley.

Você faz graves alertas sobre o momento atual do Brasil. Enquanto países rompem a berreira do son, nós "marcamos o passo" o ano inteiro (e não só no carnaval).

Curto e grosso: com o custo brasil e a educação brasil, não dá.

Aguardo novos alertas.
Um abraço.

Wilame Jansen.

Francy disse...

Querido colega/amigo,
Se o Governo não abrir o olho para muito mais coisas, nós brasileiro é que "vamosprubrejooo"..
Sobre a compra de máquinas, tenho um sobrinho que é engenheiro da Pirelli e há muito anos ele vem via Amsterdam para ir para Shangai e Monbai para comprar as máquinas mais modernas que eles tem, pois pelo o preço vale a pena, segundo ele(meu sobrinho). Não é engraçado???
Estamos em Leiden/Holanda. POr mais de temporada de mais 6 meses. O meu Marido Carlos Guttierrez envia abraços.

Francy disse...

Na próxima semana estaremos em Frankfurt ao lado da Messe.

veryfreire60@gmail.com disse...

Realmente, Girley. A sua análise, como sempre correta nos dá muito o que pensar.
Tenho acompanhada com interesse seu Blog (assim mesmo com letra maíuscula), vale a pena!
Sou colega de turma de Ana, irmã de Soninha. Visite também o meu blog (recem criado e me dê a honra de alguma opinião.
Abraço
Verônica Néry http://blogveronicanery.blogspot.com/

Baiano da Nigeria disse...

Prezado Girley,
Como sempre, voce pos o "dedo na ferida". A verdade dos fatos e que o "custo Brasil" torna nossa producao nao-competitiva aqui dentro de casa. Ora, as solucoes estao ai para quem quiser adota-las.
1. Reduzir os custos das empresas, preferencialmente, com uma reforma tributaria amputativa. Ou seja, imperativo reduzir a gula tributaria nacional atraves de privatizacoes e demissao em massa de funcionarios publicos desnecessarios.
2. Flexibilizar a gratuidade do ensino superior publico. Tornar todas as universidades publicas em pagas, fazendo escalonamento de faixas de rende. 0 a 3 salarios-minimos - Gratuita, 4 a 6 SM - 20%, 7 a 9 SM - 40%; 10 a 12 SM - 60%; 13 a 15 SM - 80%, acima de 16 SM - 100%. Basta olhar os estacionamentos da UFPE e da UFRPE para se saber quem estuda la. Ta na hora de se acabar com a frescura das cotas por cor e sexo, e concentrarmos na verdadeia cota que interessa ao povo. A COTA PARA OS POBRES.
3. Extinguir o Decreto-lei 879/66 que proibe o uso corrente de outras moedas no mercado nacional obrigando a conversao automatica em moeda local de todas as entradas estrangeiras. O mesmo deve ser feito na exportacao autorizando o uso do Real na Exportacao. Ora, se importarmos e exportarmos em Real, acaba o efeito de risco da variacao cambial e da desvalorizacao do dolar. A conversao automatica nao passa de mais uma indexacao nefasta na economia brasileira que, algum dia, precisa acabar.
Meu amigo, continue pondo o dedo
na ferida. Tenho certeza que estamos chegando num momento em que o discurso vazio vai dar lugar ao raciocinio logico e lucido como o seu.
Abracos Nigerianos!

Danyelle MOnteiro disse...

Boa noite professor,
Realmente o Brasil anda na contramão do mundo, só aqui mesmo para a concorrência entrar com preços mais competitivos que os nossos, gerando desemprego no nosso país. No entanto, cabe ressaltar que tudo passa pelo modelo de gestão adotado e consequentemente pelo nível educacional dos nossos gestores, nesse caso, dos nossos políticos (a maioria). Depois do auge das normas ISO 9000 e 9001 (foco na Qualidade), a onda daqui pra frente serão os sistemas de gestão ambiental (SGA) e da responsabilidade social (SGRS) e isso cabe à todos nós, governantes, empresários, sociedade. Precisamos mudar as regras do jogo, como por exemplo obrigar a China a pagar os encargos trabalhistas pagos pelos países que fazem parte da OMC, implantar e acompanhar esses sistemas de gestão nas empresas, públicas ou privadas... Crescer por crescer os empresários industriais podem fazer isso virando vendedores da China como no caso do seu conhecido, porém, para crescer com sustentabilidade e gerando mais empregos exigirá um desafio maior, pois cada dia mais os consumidores estão mais conscientes e já tem muitas empresas ganhando competitividade e reduzindo custos quando focam na área socioambiental e se valendo da logística reversa... inovemos senhores, sem medo!
Grande abraço,
Danyelle Monteiro

Jayme Lielson V. Salgues disse...

Nobre amigo
Estou morando aqui em Boa Viagem e em Alphaville, desde janeiro de 2010. É de fato surpreendente a programação do Anhembi e as cifras humilham esta cidadezinha chamada Recife, tão pobre e refém de uma politica engessante. Dona de um orgulho bobo e com nossa gente dona de um orgulho besta.
Queria muito ver minha cidade sem buracos, sem crianças em sinais, sem mendigos em demasia, sem profissionais de semáforo.
Gosto de ler seu blog porque me alieno disso tudo, com suas visão otimista do mundo e critica das coisas. A diversidade de seus temas são criativos e muito bem elaborados.
Pace et Sapere
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