É primavera no Hemisfério Norte. Na Europa é, certamente, a estação mais esperada do ano. E, quando isto acontece, uma verdadeira explosão de flores, colore o continente.
Por sorte, estive os últimos dez dias na Itália. Como na maioria das vezes por motivo de trabalho, coordenando uma Missão Empresarial, de pernambucanos, a busca de oportunidades de negócios com o mundo externo, numa feira industrial na cidade de Bolonha, Província da Emília Romana.
Desta vez encontrando um clima mais ameno do que o de novembro passado, na Holanda, quando tive que suportar forte frio.
Antes de Bolonha, porém, uma passada por Roma, que na primavera se transforma numa festa ainda maior do que noutras horas do ano. O clima é agradabilíssimo neste meio de maio e a cidade, como sempre, está repleta de turista.
Com uma tarde de domingo disponível e uma brecha na agenda de trabalho, houve tempo para rever a cidade eterna. A cidade com o especial nome de AMOR, quando lido de trás para frente: Roma – amoR.
Meu hotel, embora situado numa zona tumultuada – próximo a Estação Termini , a grande estação terminal de todos os modais, no centro de Roma e a maior da Europa – tem a vantagem de estar a poucos passos do sitio histórico da cidade.
Saindo da Piazza Cinquecento, diante da estação, o visitante se livra de uma área poluída, cheia de camelôs (acho que tem, inclusive, roupas baratas da Sulanca), desocupados, imigrantes africanos, romenos e albaneses, ciganos, punks e outros mais, o visitante alcança a bela Piazza de la Republica, adentrando na Roma histórica e cheia de charme italiano. Prédios seculares de belíssimas linhas arquitetônicas, palácios, largas avenidas, ruas curtinhas e apertadas, vicolos (vielas) aconchegantes e infindáveis vias históricas, recheadas de monumentos, ruínas preservadas e muitas fontes. Percorrer Roma equivale a um mergulho na história da humanidade.
As ruínas da sede do Império Romano, por exemplo, formam um sitio histórico impar. Dependendo dos conhecimentos de historia e da capacidade imaginativa do visitante, o cidadão é capaz de “vislumbrar” Brutus assassinando com 23 punhaladas seu pai adotivo, o poderoso Imperador Caio Julio César, entre as colunas do Senado Romano. Amante da história antiga, como é meu caso, e ajudado pelas imagens produzidas pelo milagre do cinema, mergulho nessas ocasiões, de corpo e alma, nessa “viagem” ao passado. Mais do que isto, emociono-me. No que resta daquele conjunto histórico, passo entre as ruínas do Palácio Imperial e, mais alguns metros, chego às ruínas do Coliseu, passando por baixo do Arco de Tito Lívio.
No que restou do Coliseu, outra vez sou capaz de retroceder no tempo, através da mente e lembrando o filme “O Gladiador”, e tenho a visão da Roma Imperial, quando o Anfiteatro del Colosseo era o palco dos grandes espetáculos oferecido ao povo, pelo Imperador de plantão. Esses espetáculos equivaliam ao do futebol e das touradas dos tempos modernos. Com um detalhe: tudo terminava com muito sangue derramado. O Coliseu, nos seus tempos de glória, tinha capacidade para receber até 65 mil espectadores. Cinco dos quais, de pé. Quase a capacidade do nosso Maracanã.
O que hoje se encontra é o que restou após a queda do Império Romano e de um terremoto no século 14. Com a derrocada do Império, Roma passou a ser governada pela Igreja Católica Romana, tendo os substitutos de São Pedro, isto é, os Papas, como máximos mandatários. Uma das primeiras providências dos novos governantes, foi arrancar, por inteiro, o mármore travertino que revestia o Coliseu usando-o nos revestimentos das basílicas, igrejas e palácios monumentais que construíram e até hoje existentes. Por trás disso, uma razão óbvia era: destruir o palco onde milhares de cristãos perseguidos foram sacrificados por feras enfurecidas e famintas. Sem dúvidas, o Coliseu foi um fantástico monumento arquitetônico daquela época. Os engenheiros romanos foram formidáveis. Os mecanismos da construção ainda estão por lá às vistas do visitante. Diante daquelas ruínas, imaginei o louco do Nero (interpretado na tela do cinema pelo ator inglês Peter Ustnov) com o polegar para baixo, condenando um gladiador mais fraco ou ordenando soltar as feras para devorar os cristãos perseguidos.
Voltando à realidade, percebi pequeninas flores amarelas brotando do nada e nas pedras brutas das ruínas do velho anfiteatro, para afiançar a primavera reinante. Lembro que comecei falando de primavera e de flores.
Ainda tive tempo de dar uma passada pelo Circo Máximo, outro ícone do apogeu da Roma Imperial, também em ruínas, onde experimentei a sensação de imaginar Ben Hur – encarnado na tela do cinema por Charlton Heston, num filme excepcional que conquistou 11 Oscars – pilotando sua fantástica carroça e ganhando a Fórmula 1 da sua época. Bravo!
Noutra volta pela cidade eterna, fui rever dois outros pontos de Roma, igualmente importantes para o visitante: a Fontana de Trevi – a famosa Fonte dos Desejos – e a Piazza di Spagna.
Na fonte, cumpri, mais uma vez nesta vida, o ritual de jogar uma moedinha e sonhar com um breve retorno. Na Piazza contemplei a Igreja da Trinitá dei Monte e a famosa escadaria apinhada de turista.
Tomando o rumo da Piazza Navona, uma paradinha na praça do Panteón, contemplei uma Roma, no fim de semana, cheia de vida e beleza com os cafés e restaurante apinhados de uma gente elegante, sendo observada pela plebe turística que não pára de passar. E eu, no meio desta... no estilo “tô nem aí..” admirando cada quadrante da cidade e achando tudo bom demais.
Cansado da caminhada, fiz uma pausa para degustar um sorvete já nos domínios da Piazza Navona. Os gellati italianos são os melhores do mundo. É, aliás, uma invenção italiana e, naquele cenário, ficou ainda mais saboroso. Escolhi o sabor tiramissu, meu preferido na Itália.
A Praça Navona (grande nave, em italiano), foi no passado outro centro de exibições romanas e mercado, é também ponto obrigatório do visitante. Outro dia vou falar sobre ela, até porque a praça tem um especial significado para nós brasileiros, por abrigar uma das mais belas Embaixadas com o pendão verde-amarelo.
Todo este percurso foi feito a pé, que é a forma ideal para explorar Roma.
No final de tudo, mesmo com os pés reclamando muito, a sensação de prazer e sentir o aRoma de Roma com seu eterno festival de bom-gosto e muito charme. Cada esquina um restaurante ou um café com flores na entrada ou numa janela/vitrine. Bares pergulados com luxuriante verde e vasos com os tradicionais pés de louro, dando mais aconchego aos comensais. E, claro, muitas flores.
É muito bom visitar uma cidade sem a costumeira “selva de pedra”, de muitas metrópoles mundo afora e onde se respira história. Uma cidade que é um museu a céu aberto e que oferece prazer aos cinco sentidos.
Vivo, ou melhor, Viva esta Primavera de 2008, em Roma. Uma benedeta Dolce Vita. Arrivedeci!
Nota: Nas próximas postagens, da serie Pé no Mundo 2, falarei de outros pontos que visitei na Itália no período 11 a 20 de maio.
As fotos são da autoria do blogueiro.
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8 comentários:
Dr. Girley Brazileiro!!!!!
Sempre aprendo um pouco mais quando estou lendo > Blog do GB.
Execelente!!!!!!!
sempre admirando seus conhecimentos ...........
Sua Agente de Viagem ,que tanto lhe admira!!!!
Very Good!!!!!
Anna Karenina
Girley - Homem de Deus
Uma crônica e uma viagem! Foi a sensação que tive, lendo e ao mesmo tempo viajando com você pelas belezas da Itália, de Roma sobretudo. Fiz no imaginário o mesmo périplo, de monumento em monumento, uma parada aqui e outra acolá. Um sentimento por cá, o da grandeza do ontem e outro por ali, o da crueldade de muitos - a matança descomunal. Ficou o belo, o que encanta.
Geraldo Pereira
Girley:
Nem precisei ir a Roma para me sentir lá.
Você transcreve tudo com tanta propriedade
que a gente se transporta.
É uma entrega total e muito agradável.
Gostei muito do Roma - amoR - aRoma...
Bravos!
Rinalva Figueiredo da Silveira
Girley é cultura.
Sinto falta de não termos podido mais nos encontrar com mais tempo. Pois suas histórias, quer faladas ou escritas, são sempre agradáveis.
Um abraço.
Mauro Gomes
Caro companheiro Girley. Ao término do seu artigo sobre a terra de minha saudosa mãe, não sei se agradeça, lamente ser uma pessoa pouca afeita às viagens aéreas de longa distância. Hiperativo, não sei se aguentaria passar mais de quatro horas sentado numa cadeira de avião, para ultrapassar essa poça d'água, que é o Atlântico. Mesmo assim, prefiso externar minha satisfação em "acompanhar" seus passos pela Roma das minhas aulas de História que ministrei na Católica e em alguns bons colégios e, principalmente, "rever" o filme que marcou minha juventude, "O Cadelabro Italiano", somando-se aos que você mencionou. Muito grato pelo "Tour". Edvaldo Arlégo.
Girley, que lindo. Quanta sensibilidade para perceber as belezas grandiosas (Coliseu) e minusculas (flores silvestres). Parabens!!!! Ceci.
Amiga Ceci,
Pois é. No meio daquela imensidão, turistas aos borbotões, um sinal de primavera brotando da pedra bruta, colocada pelos artifices da época do Imperio Romano, tombada pelo terremoto e pela história... uma pequenina flor amarela, protegida por uma grade de ferro que se supõe estar ali protegendo, apenas, o patrimonio histórico. Pobre e tão frágil grade, diante da audácia daquela florzinha amarela de primavera.
Roma me emociona, mas a beleza da natureza me comove.
Obrigado pela sua visita ao Blog. Acompanhe o restante da viagem. Venha junto à Bolonha, Verona e San Marino.
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Especial abraço,
Girley Brazileiro
Caro Girley,
Lendo seus comentários sobre Roma, não deu para segurar o filme que começou rebobinar, que não imaginava oculto na memória.
A cidade eterna que vi há muito tempo atrás, os mesmos lugares e as mesmas obras apareceram límpidas, através das palavras de quem sabe transformar imagens em sensações e transportar o leitor ao se lado, para conversar sobre a maravilhosa Roma.
Obrigado, pela oportunidade de rever tantas coisas boas.
Valter Kuae
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