sexta-feira, 27 de junho de 2025
Xote in Rock
Entre as muitas noticias e repercussões sobre os festejos juninos deste ano em Pernambuco, uma se destaca e tem meu total apoio. Refiro-me às criticas que a consagrada Elba Ramalho fez após sua recente apresentação no palco de eventos em Caruaru. Com propriedade e autoridade de quem sabe da importância da música regional, ela manifestou sua opinião sobre a “diversidade” com a qual montaram a grade de atrações deste ano. Ocorre que por manobras e estratégias politicas, além das perspectivas de faturamentos, as Prefeituras pernambucanas visando atrair grandes públicos (potenciais eleitores!) nos festejos juninos dão preferencias e pagam cachês milionários a nomes de prestígios nacionais sem levar em conta seus gêneros musicais. Resultado é que sambistas, roqueiros e sertanejos se apresentam debaixo de aplausos frenéticos, ao invés de interpretes de xotes, xaxados e baião. Forró? Ah, esse já é batido demais. Os trios de pé de serra, que faziam as festas de antanho (termo mais do que próprio) nem pensar. Quando muito, conseguem espaços nas festinhas familiares ao redor de uma fogueira e de uma mesa de acepipes de milho. Lá nos denominados pátios do forró de Caruaru ou Gravatá, por exemplos, rolam espetinhos pré-fabricados e salsichões na brasa, pipocas para não dizer que não tem milho. E muitas cervejas e cachaça. Ah! Outra curiosidade é o fato de que não aparecem mais pessoas com as tradicionais roupas de matuto... Ninguém quer mais dar pistas de uma coisa chamada de matuto. Aliás, não existe mais matuto. Atualmente as mocinhas exibem trajes moderninhos, shorts bem cavados, com partes das nádegas à mostra, botas até os joelhos e blusinhas compradas na Shopee! Quando toca um rock elas se requebram e mostram para o que vieram. Neste caso, como não tem xote, elas se remexem segurando o short. Quando se fala em dançar uma quadrilha, como no passado, correm apressadas e exibem uma rica fantasia, como se fossem desfilar na Marques de Sapucai (Rio), numa noite de carnaval. Tenha dó. Eram tão lindas as roupas caipiras. Fui um gritador e quadrilhas de primeira. Quando entrava julho naõ conseguia falar de tão rouco. Alavantu! Anariê! Olha a chuva! Choveu!
Tenho criticado de modo veemente, neste espaço, as formas politizadas das promoções dos nossos festejos populares. Trata-se, na prática, duma forma moderna de distribuir “pão e circo”. Contudo, estão passando dos limites. Por oportuno, recordo que no carnaval do Recife, com a proposta de multicultural, vejo, com frequência, apresentações de indiscutíveis valores artísticos nacionais sem que, na maioria, não entendem de carnaval pernambucano. Inúmeros valores vocais locais ficam sem boas oportunidades e se contentam com palanques das periferias.
Observemos que nunca se ouviu falar do Maestro Forró, Alcymar Monteiro, Santana ou Elba Ramalho, por exemplos, sendo atrações principais nos festivais de Barretos (Festa do Peão/SP) ou de Parentins (Boi Bumbá/AM).
Lamentavelmente, vemos sendo apagados nossos reais valores culturais, colocando o rock no espaço do xote e do forró, sem que apareça um salvador das nossas tradições, como ocorre em todo país civilizado e ciente dos seus valores ancestrais.
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3 comentários:
Estou de acordo na totalidade deste post . É lamentável que, quem deveria preservar na Capital do Nordeste esta tradição, um patrimônio cultural nosso, nesta triste encenação de um Carnaval na chuva, de coreografia duvidosa.
A culinária também foi modificada.
A nossa música foi esquecida, assim como nossos artistista.
O forro é ( ou era) pra Nordeste assim como o samba é para o Rio, o tango para Argentina. E um desrespeito ao nosso povo aos nossos grandes compositores e artista .Calar estas vozes é uma crime cultural O São João e nossa festa,nossa história, é nosso diferencial. Asa branca nosso hino é Gonzaga nosso Rei.
Fico feliz quando vejo alguém se manifestando contra esta desconstrução dos nossos valores, tradições,neste monte de " não sei que", "um nada a ver".
Parabéns!
Muito bom! Concordo. Penso como você. Quero distância desse modelo. Nada a ver com Gonzagão, Dominguinhos, Sivuca. Abraço.
Parabéns, o Blog está maravilhoso. Nossas tradições serão esquecidas por nossos netos.
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