domingo, 16 de agosto de 2015

Eu vi Hiroshima

Esta semana que terminou, o mundo lembrou com comemorações o final da Segunda Guerra Mundial,  há 70 anos, após a traumática rendição dos japoneses destroçados pela derrota geral imposta pelos aliados e, particularmente, abatidos pelas explosões de duas bombas atômicas que ceifaram as vidas de aproximadamente 200 mil cidadãos civis, nas cidades de Hiroshima (06.08.45) e Nagasaki (09.08.45).
O Japão que formava com a Alemanha, de Hitler, e a Itália, de Mussolini, um Pacto Tripartite, denominado de Eixo, resolveu resistir ao final do conflito que já havia ocorrido nos campos da Europa desde maio anterior, quando as Forças Aliadas (norte-americanos, britânicos, franceses e seus aliados) invadiram a Normandia, no episódio que entrou na Historia como o Dia D.
O Japão era governado pelo Imperador Hirohito (1901-89), um homem orgulhoso, resistente, provido de muita autoridade e comprometido com seus súditos, que o veneravam e lhe atribuíam poderes divinos. Um verdadeiro deus, conforme a tradição japonesa. Hirohito, celebrou um pacto com o Eixo, entrou de cabeça na Guerra e sensibilizou-se com as doutrinas nazistas e fascistas, chegando inclusive a autorizar a organização do Partido Nazista Japonês. Para o Imperador o mais difícil foi reconhecer a derrota que terminou o levando aos mais esmagadores ataques daquele conflito mundial. No processo de reconstrução e reestruturação política  do país teve, por várias vezes, que enfrentar confrontos e atentados dos que o acusavam de criminoso de guerra. Não fosse a benevolência dos comandantes norte-americanos que, por imposição dos Aliados, assumiram o controle do país até 1950, teria sido destronado. Os americanos tomaram medidas democratizantes, anularam o caráter divino do Imperador e instituíram uma monarquia constitucional. Passado o conflito e a retomada da ordem, Hirohito conseguiu dar ao seu país notável impulso econômico colocando-o entre as maiores potenciais industriais do mundo moderno.
Já estive por duas vezes no Japão. A primeira foi no Outono de 1984, quando  fiquei por lá cerca de três meses, participando de um curso de especialização. A segunda vez foi mais recente, em 2012, numa passagem mais rápida defendendo negócios empresariais para Pernambuco e que durou apenas uma semana.
Visitar aquele país é sempre muito oportuno. Desde muito jovem alimentei a esperança de viver essa experiência. Cheguei a produzir, na época de Faculdade, uma monografia sobre a economia e a cultura japonesa, o que me proporcionou um mergulho no mundo nipônico de maneira indelével. Lembrar-me da destruição que sofreram e a maneira como se recuperaram sempre foi algo que exerceu imenso fascínio na minha cabeça de jovem estudante. Quando me surgiu a chance de ir até lá, não tive dúvidas em aceitar. Nem preciso dizer da minha curtição. Ver de perto aquela gente, aquelas paisagens, a pujança econômica, a riqueza cultural marcou-me para o resto da vida.
Uma coisa, porém, quero destacar: sai do Brasil decidido a ver de perto Hiroshima ou Nagasaki. Previamente li alguns livros, reportagens e artigos sobre os episódios das bombas atômicas jogadas sobre essas cidades. O horror que senti ao longo dessas leituras e a crescente curiosidade que alimentei justificavam este desejo.
Com um natural misto de curiosidade e uma pontinha de temor pelo risco de sofrer alguma radiação nuclear – fui recomendado por amigos mais cuidadosos – desembarquei de um Trem Bala (Shikansen), num belo dia de novembro de 1984, na estação de Hiroshima. Confesso que tomado de forte emoção e satisfeito pelo desejo realizado, deparei-me com um cartão de visitas inesquecível: um parque florido, aprazível e caprichado à moda japonesa. Minha primeira impressão foi de imensa surpresa. Fui tomado, desde o primeiro momento, por uma sensação de paz e PAZ foi a palavra que mais ouvi e encontrei grafada nos mais distintos pontos da cidade. A reconstrução é algo monumental e tudo leva a entender a grande intenção de apagar o dantesco quadro que restou daquele 6 de agosto de 1945. Dificil acreditar que ali existiu um momento em que a imagem daquilo que conhecemos como inferno foi reproduzido de maneira rigoroso, devido a uma insana manobra de guerra, sabidamente desnecessária. O Japão se renderia mais dias ou menos dias. Havia perdido a sustentação estratégica que norteava o Eixo e o Imperador teimoso não teria saída. Lamentável.
Percorrer Hiroshima, sua região central, onde a bomba explodiu, e o estarrecedor Museu Memorial da Paz, (vide fotos a seguir) foi uma das melhores lições de vida que recebi. Já visitei também o Museu do Holocausto, em Washington (USA) e não sei dizer onde sofri mais, diante de visões tão estarrecedoras. Ainda hoje não consigo entender como pode haver seres humanos capazes de produzir tantas carnificinas. Em nome de que? Por que? Quanta maldade! O mais repugnante e atroz filme de terror que venha a ser produzido não conseguirá suplantar as imagens expostas no museu japonês.  



No Japão sobrou uma tênue vida, brotou a paz e foi construída a maior e mais forte rede de solidariedade. Das cinzas de Hiroshima surgiram águias vigorosas e precursoras de tempos de progresso que se experimenta no arquipélago japonês.
Eu vi Hiroshima. É uma cidade viva e bela.
A seguir, duas fotos em dois momentos da minha vida no Japão. A primeira em Hiroshima, em 1984, jovem e barbudo seguindo a moda da época, às margens do Rio Motoyasu, vendo-se ao fundo o predio do Banco do Japão, o unico que restou de pé, embora que bem avariado. Este edificio é preservado como ficou após a destruição. A segunda foto, mais abaixo, é do recente 2012, diante do Buda de Kamakura, um cartão postal da Terra do Sol Nascente.

 
NOTAS: 1) As três primeiras fotos foram obtidas no Google Imagens e as particulares são do Arquivo Pessoal do Blogueiro. 2) A primeira viagem ao Japão foi a convite da Japan International Cooperation Agency - JICA, enquanto fui funcionario da Superintendencia do Desenvolvimento do Nordeste - SUDENE e a segunda viagem foi integrando uma Missão Empresarial de Pernmabuco, representando o Sindicato das Industrias Metalurgicas de Pernambuco - SIMMEPE. 
 

Um comentário:

Susana González (Mexico) disse...

"La benevolencia de los americanos", perdóname, pero absolutamente nada justifica Hiroshima y como esto ha habido en el mundo miles de ejemplos donde entran los norteamericanos y matan sin piedad en nombre de la "democracia". Igual q Hitler debería ser condenado esto. Porq no solo fue eso ahí, sino q en Estadis Unidos eran perseguidos los ciudadanos q tuvieran algo de japoneses.
Susana González

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