Quando passei quase três meses no Japão, vinte anos atrás – integrando um grupo de especialistas em planejamento regional de países do terceiro mundo – me surpreendi com a exacerbada preocupação que nossos anfitriões tiveram de nos instruir para uma possível situação de desastre, tipo terremoto. O grupo foi submetido a um severo treinamento para entender como se comportar numa situação emergencial. Levaram-nos, inclusive, a uma central de previsão e controle de desastres, deixando tudo muito claro sobre onde estávamos pisando. Foi uma das nossas primeiras atividades na intensa agenda de permanência no país. Depois das instruções recebidas, fiquei meio temeroso de ser apanhado por um desses fenômenos, principalmente depois que passei por pequenos abalos, muito comum no dia-a-dia nipônico. Nosso curso foi centrado na cidade de Tóquio, a mega metrópole do país. Pude observar de perto que lá, a população vive permanentemente preparada para as mais duras provas impostas pela natureza. Simulações são feitas, periodicamente, a título de exercício.
Ao lado dessa expertise, digamos que coletiva, o japonês domina tecnologias para construções sólidas, abrigos planejados, formas de sobrevivência transparentes, divulgadas e sempre atualizadas massiçamente. Só não pode ser considerado um permanente clima de estresse, porque eles convivem, natural e disciplinadamente, com a situação de maneira flegmática. Impávida até, eu diria. Esta é a forma que tenho para falar do povo mais bravo, dos mais inteligentes, trabalhador e previdente que conheci até hoje. Eles são admiráveis. Imagino a perplexidade que reina hoje entre eles.
A história do Japão registra episódios dolorosos, de terremotos, desde priscas eras. Vide foto de Tóquio em 1906, a seguir. O país repousa sobre uma brecha tectônica em constantes movimentos, que, na maioria das vezes, são leves. Mas, de vez em quando, acontecem de forma abrupta. Foi o que aconteceu esta semana. É um povo calejado nessa matéria. Ainda assim, vejam só o que estão sofrendo agora. O desastre desta semana teve seu agravante pelo tremendo tsunami (termo de origem japonesa) resultante do abalo de 9 graus na escala Richter. Não fosse isto, tenho a certeza de que as coisas não teriam surtido as imagens devastadoras que assistimos ao vivo e a cores da “cruel” televisão em tempo real. As construções civis no Japão, como já falei, são sempre projetadas para suportar os mais fortes abalos. Podem balançar muito, mas, cair mesmo somente os mais frágeis. Passado um abalo é somente colocar os moveis no lugar e tudo volta ao normal. O tsunami, por sua vez e própria natureza, é sempre mais devastador. Arrasta tudo que não tem e muito dos que têm “raízes”. Foi por isso que vimos imagens de automóveis, navios, aviões, casas, prédios menores e, principalmente, gente misturados como numa “sopa” de lama e tralhas. Parecia uma tomada, com efeitos especiais e impactantes, dos filmes de Hollywood. As cenas vistas lembram-me, também, o amontoado de carrinhos, aviões e figuras de forte apache e fazendinhas, de brinquedo, que meus filhos pequenos abandonavam num canto da casa, na hora de dormir.
Agora, que vivemos os days-after, resta-nos administrar a perplexidade, o medo da onda de propagação das nocivas partículas das explosões das usinas nucleares e torcer, estimular e ajudar os japoneses na dura e difícil tarefa da reconstrução.
Conhecendo de perto essa gente e tendo visitado, por exemplo, Hiroshima, que, como uma águia se ergueu das cinzas e se recuperou da devastação provocada pelo bombardeio atômico da 2ª. Grande Guerra, tenho a certeza de que o que assistimos recentemente entrará para história como o mais grave, mas, incapaz de aniquilar a brava Terra do Sol Nascente. Salve o Japão! Vide foto de Hiroshima, hoje, a seguir.
Nota: Fotos do Google Imagens
LEIA NOTA ACIMA, A DIRETA DA SUA TELA.
7 comentários:
Caríssimo Girley
Desde o dia desta tragédia de incomensuráveis proporções, que não paro de rezar. As notícias que venho recebendo de amigos residentes na Alemanha são as piores possíveis sobre o iminente gravíssimo perigo da radiatividade em Tokio, e em todo o Japão. Na verdade, até na California e em Los Angeles.
Lembro que na minha adolescência, do perigo da guerra fria entre a Russia e os Estados Unidos, representava para todo o mundo. Constantemente ouvíamos falar da tragédia que aconteceria com uma boa parte da terra, caso houvesse uma guerra nuclear. Graças a Deus nos livramos dessa ameaça e, agora vem um terremoto nessas proporções no Japão e põe a Terra em Transe.
Como você, tenho o mais alto conceito na inteligência e determinação do povo japonês e acredito que Deus não abandonará o Japão. No momento, só nos resta rezar e esperar por mais um milagre que venha do Céu.
Vou colar abaixo um riquíssimo texto de fórum espiritual, que me deu um grande consolo nesta quinta de seríssimas preocupações.
Que Deus tenha piedade da humanidade, porque sinto que estamos vivendo o princípio do fim.
Abraços meus
Ângela Barreto
Caro Girley,
Fico estarrecido diante de mais esta tragédia vivida pelos japoneses, embora tenha certeza de que dela sairão bem. Tendo também trabalhado no "Hospital da Bomba" em Hiroshima, assusta-me a ameaça do problema na usina de Fukushima.
Odecil Costa Oliveira
Cônsul Geral Honorário do Japão em Salvador/ Representante da ANBEJ na Bahia.
Caro amigo:
Como siempre, muy inteligentes y atinados los comentarios de tu blog. Yo sé del cariño y la admiración que tienes por esa cultura milenaria, y acompaño tu sentimiento de angustia.
Quiero hacer sólo una pequeña (pero importante) corrección: quien destruyó Hiroshima con la bomba atómica, no fue la "Segunda Grande Guerra". ¡Fueron los EEUU!.
Abrazo fraterno
Girley
Muito bom o seu texto sobre o Tsunami no Japão. Após os efeitos devastadores, porém, é bom observar a serenidade do povo japonês diante de mais este acontecimento da natureza. Eles vivenciam tudo de uma forma muito serena e harmoniosa e assim voltam à normalidade no "Império do Sol Nascente".
Abraços, Mary
Boa noite Professor,
Concordo com o Sr. quando cita o povo japonês como um povo trabalhador, inteligente... infelizmente na vida há as coisas que podemos mudar e as coisas que independem de nós. Os desastres naturais, como os freqüentes choques das placas tectônicas e o último tsunami no Japão são exemplos das coisas que estão acima da nossa vontade, porém, a usina nuclear não, poderiam ter evitado isso, o que adianta desenvolvimento com risco de vida? E num passado recente já sentiram na pele os efeitos das radiações com as bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki. Aposto que em momentos como esses, as pessoas que defendiam o uso de usina nucleares na geração de energia voltam atrás ou no mínimo ficam escondidinhos, na surdina, porque não se pronunciam agora? Não é brincadeira, imagine o senhor que tem filhos, netos, saber que a água e alguns alimentos estão contaminados com radiação e não ter o que fazer, porque ou morre de sede e fome ou corre o risco de ter câncer e tentar... crianças pequenas, idosos... é muito triste.
Apesar de tudo, eles vão sobreviver e se reerguer, basta os desastrem cessarem um pouco e esses guerreiros reconstruirão tudo.
Que assim seja, Saionará.
Danyelle Monteiro
Mesmo sabendo de que é possiveis os terremotos nesse país, foi um pouco perturbador, ver as imagens que vi. Casas sendo levadas, cidades sendo destruidas em minutos, pessoas desoladas... Um país de primeiro mundo, que nessa situação se pareceu como uma criança que nesse momento, não sabe exatamente o que fazer e como fazer.... Deus proteja o Japão! Otima matéria, parabéns!
Caro amigo Girley:
Enganam-se aqueles que acham que o nosso Brasil está isento de catástrofes, pois basta ver o que vem acontecendo em todas as nossas regiões com relação a acidentes provocados por manifestações da Mãe Natureza.
O que difere do Japão é que nossos "tsunamis" acontecem de morro abaixo.
Mesmo assim com tantos desastres, continuamos a não nos prevenir com relação a estas manifestações.
Tenho muito medo quando vejo autoridades alegarem que não precisamos nos preocupar, pois "no nosso País não temos esses problemas" e por conta disto continuamos a "fechar nossas portas após o roubo".
Que fique aqui o alerta, através deste espaço tão sério e importante, àqueles que assim agem, pensando eles que estão ajudando nosso povo, quando na realidade estão mesmo é mostrando a falta de seriedade com a coisa pública, pois mesmo conhecendo as soluções preventivas, não as aplicam por puro descaso e incompetência.
Um grande abraço amigo
Orlando Chalegre
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