Dia 8 de dezembro é feriado municipal no Recife. A cidade volta suas atenções para o Morro da Conceição, no bairro de Casa Amarela, onde se festeja e se rende homenagens a uma das padroeiras da cidade, Nossa Senhora da Conceição. Trata-se de uma manifestação religiosa secular, cujo epicentro é a imagem gigante da Virgem da Conceição, trazida da França, no ano de 1904. Mede 5,5 metros de altura e pesa 1.806 kg. Foi ali colocada, pela então Diocese do Recife, em comemoração ao cinqüentenário do dogma da Imaculada Conceição. Na mesma ocasião foi também construida uma capela em estilo gótico e aberta uma estrada para acesso ao local. Devida a sua posição alta e privilegiada, a imagem da Virgem é vista de vários pontos da cidade.Não tardou muito e a localidade se tornou um bairro populoso e ponto de romarias, não apenas para os católicos recifenses, mas também para inúmeros de outros pontos do país.
Também não tardou muito para se formar um pólo de festejos profanos, que rola durante uma semana que antecede o oito de dezembro de cada ano, quando ocorre o ponto culminante e encerramento da festa.
Desde de muito jovem tenho o hábito de subir o Morro da Conceição, cada oito de dezembro. Misto de religiosidade e curiosidade. Sempre fui muito chegado a observar as manifestações culturais, daqui e de alhures. Quem me levou a cultivar este hábito foi um compadre, já falecido, que morava na subida do Morro e, invariavelmente, transformava o dia de N. S. da Conceição num grande momento de confraternização. A casa dele virava um ponto de encontro de amigos, amigos dos amigos, politicos e artistas, de onde partiam para empreender a subida ao Morro. Na volta, ele oferecia uma farta mesa com toda sorte de substanciosas iguarias populares, como sarapatel, buchada, dobradinha, tripa assada, mão-de-vaca, arrumadinhos, entre outros, regadas por um boa pinga ou uma cerveja geladinha, providencial para baixar o calor reinante no início de cada verão recifense.
Mantendo a tradição, subi o Morro hoje de manhã. Fui beijar a pedra.
Percebo que a cada ano aumenta o número de romeiros. Vi pessoas de todas as camadas sociais. Ricos e pobres. Políticos e empresários. Pequisadores. Muita gente. Muitas trajando uma mortália azul (cor do manto da Virgem), outras que subiam ajoelhadas, algumas sobem ou descem de costas. Crianças novinhas são levadas aos pés da Santa, para agradecer a vida. Soube que um cidadão subiu, ainda na madrugada, “nadando” para agradecer o milagre de haver sido salvo de um naufrágio.
Nos pés da Santa, no alto do Morro, em locais especiais, os romeiros acendem velas. São milhões de velas. O calor se torna insuportável e o corpo de bombeiros mantem-se sempre presente para apagar as frequentes labaredas mais altas.
Durante a subida é impossivel não notar a presença de comerciantes informais vendendo artesanatos, imagens, velas, comidinhas, água e picolé e dos pedintes que se postam, ao longo do percurso. Velhos deficientes, moços desempregados, mulheres jovens arrodeadas de inúmeros filhos que chegam a passar a noite inteira num dos pontos da ladeira, esperando a passagem dos peregrinos. Ali, na maior promiscuidade, dormem amontoados, em colchões estendidos na calçada, comem, bebem e fazem suas necessidades fisiólogicas, insençando o ambiente de forte odor de urina. A Prefeitura tenta controlar a presença, sobretudo dessas levas de crianças, mas é sempre burlada.
Como tudo na vida, há sempre um lado cômico a ser registrado e, neste caso, fica por conta dos nomes pitorescos, das crianças que se espalham e são chamadas pelas mães aflitas. Nomes quase sempre inspirados nos astros do cinema ou da TV. Parei para ouvir gritos por Jacqueline, Joelma, Michael Jackson, Morgana, Madona, Sabrina, entre outros. É engraçado, todo mundo querendo ser importante.
Salve a Virgem da Conceição e sua Festa popular.
Nota: Fiz esta crônica lembrando do meu Compadre Sebastião Alves, agora, certamente, vivendo no Reino do Céu. Ao descer do Morro visitei a viúva, Carminha, sempre bondosa e gentil e lembrando, aos choromingos, o finado Bastião.
Fotos do Blogueiro.
segunda-feira, 8 de dezembro de 2008
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4 comentários:
Caro companheiro Girley
Tenho comigo guardado o elenco de nomes curiosos lido nos crachás das moças que trabalham nos caixas dos supermercados e, conforme você ressaltou, a maioria deles inspirados nas atrizes e cantoras da TV e de personagens marcartes das diversas novelas, cujos títulos já se tornaram bairros recifenses, tais como Roda de Fogo, Saramandáia, entre outros. Há, entretanto, outra forma curiosa de formar o nome dessas profissionais, na qual em me insiro: juntar o nome do pai ao da mãe para formar o nome do filho. Assim, encontrei MARCLÉCIA (filha de Marcelo e Clécia), JUCECLEIDE (filha de Jucelino (SIC) com Cleide. Meus filhos, por exemplo foram batizados com os nomes de ED - MAR, ED - Mylson e ED - LEID. Só a partir do quarto filho, deixamos de lado essa "técnica" para dar a ele o node de JHOSÉ RHIBAMAR, pelo fato de ter nascido "laçado" e, dentro da tradição teria que ter o nome de um santo. Foi ele quem liberou os demais membros da prole dessa nomes quase siglas. Abraços, Edvaldo Arlégo
Girley meu amigo. eu acho que esse seu fervor em subir o morro da Conceição deve ter sido alimentado a cada ano, pela atração das "substanciosas iguarias populares" oferecidas pelo seu compadre. Agora tem uma coisa, de tudo que você descreve naquela mesa farta, o que me deixou curiosa foi esse prato - "tripa assada". Nossa! que é isso? Se eu que já não como "buchada" porque acho um nome feio e transfiro essa feiura ao sabor do prato, imagine "tripa assada! Minha Nossa Senhora da Conceição! Prefiro ficar mesmo com um "cachorro quente" daqueles de tabuleiro. ciao ana maria
Ana Maria,
Tripa assada é um bom tira-gosto. Bem preparada é uma delicia. Vc nunca esteve no Bar da Tripa, que existe há 50 anos, na Cidade Universitária, Recife?
Mas, saiba que todas essas iguarias tem origem na Velha Europa. Na Itália comi dobradinha ao pomodoro, em Alcobaça (Portugal)comi TRIPA ASSADA. Tenho um amigo que me garantiu haver comido buchada na Escócia. Prá você ver. E você gosta de Comeu Morreu... esta foi ótima.
Um abraço
Girley
Parabens Girley Brasileiro !
suas crônicas são fantástica..
A festa do morro da Conceição é radiante e realmente ,sem dúvidas um campo de milagres.
Há 37 anos atrás, eu fiz uma promessa para minha filha nascer no dia que a vó dela nasceu, e veio minha Conceição nascida de 8 meses com o mesmo nome da vó e da Santa N.S. da Conceição .
subi o morro com ela várias vêses , para orar e continuar a fé.
tenho fotos dela comigo, está a sua disposição, é só pedir que te enviarei por e-mail..
e a Fé dela é maior que a do Infinito, sempre acontecendo milagres na vida dela por meios de N.S. da Conceição ..
Sou Pernambucana , vivi em Pernambuco desde o dia que nasci té meus 57 anos.
abraços
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