Nada como ter uma chance de viver momentos de paz e distante
das mixórdias políticas do dia-a-dia deste Brasil de hoje. E, mesmo sem sair
dele (do Brasil), aproveitei o feriadão de quinze de novembro para me desligar,
relaxar em família e travar uma prosa com a gente simples do nosso
interior.
É tudo muito fresquinho e colorido. Colhido ao raiar do dia, no roçado atrás de casa. Nos brejos da redondeza. A maioria orgânica. Estrume da vaca criada no terreiro, aduba a produção.
É uma vidinha simplória e feliz. Não estão nem aí com o quer dizer imposto de renda, lavajato, congresso, executivo, legislativo, judiciário e outros "bichos brabos" soltos por aí. E tem mais, nem sabe em quem votou.
Vez por outra aparecem os “vivaldinos” que atravessam em diagonal o mercado e tentam subverter a ordem natural das coisas. Contudo, tanto o comerciante quanto o consumidor convivem, historicamente, com estes e adotam estratégias próprias que neutralizam as investidas inescrupulosas. Ora, para o feirante interiorano o que importa é o mercado da hora e não o que posterga o efeito financeiro embalados em promessas mirabolantes. Papo de cooperativa, nem pensar. Raros são os que escutam a conversa. Na verdade, faltam cooperativas sérias e bem estruturadas como ocorrem em economias mais avançadas. Falta confiança jurídica e falta, sobretudo, educação. Enquanto houver analfabetos, a coisa não muda.
Dia de feira nas nossas cidades interioranas é dia de festa.
O matuto se prepara para o grande acontecimento da semana. As produções da roça são levadas
ao pátio do mercado, onde se instala o pululante clima de comercializar toda
sorte de produtos da própria lavra. Colorido, barulhento e calorento, o pátio da feira livre de
Gravatá(PE) é o retrato vivo de uma vida simples e muito viva alimentada pela
alma interiorana caracterizada pela inocência brejeira.
“Bom dia Seu Toinho, antes de me vender me diga o que o Senhor está
achando do atual governo?” perguntei ao vendedor de coco (ralado na hora) e massa de mandioca. “Eu votei nele, mas,
estou triste porque todo mundo diz ele rouba muito”. Quem, Bolsonaro? “Não! Lula”. Mas Lula não é presidente! “Oxe! E Vosmicê num tá sabeno que ele foi solto e voltou
na semana passada? Ah! Meu sinhô, este Pernambuco num tem jeito marnão...”
É neste tom que a coisa se desenrola. Não sei se é para rir ou chorar. Com
meus botões discuto sobre o grau de instrução da nossa gente comum. Muitos não sabem ler. Analfabetos funcionais. Alguns sabem desenhar seus nomes. Quando não, vai no dedão. Mas, contam dinheiro, bem direitinho.
Uma coisa curiosa, porém, se nota com precisão nesse cenário: o exercício prático do princípio básico da
economia que é a elementar lei da oferta e procura. Eles, os feirantes, nem imaginam o que explica a teoria. Mas, dão lição nessa hora. Quando a
safra do feijão ou do milho é fraca e a escassez do produto é real, o preço sobe, o
consumidor reclama e não tem pra onde correr. Pague caro se quiser comer. Tudo
assim, numa boa e assimilada tranquilamente pelo demandante. Provoquei um vendedor e ouvi: É verdade, patrão! E o
sujeito não precisa ter leitura”, foi o que disse Seu Tião, na sua banca de
hortaliças. Lá ele vende cuentro e
não coentro. “Olhe Doutor, hoje tem tanto
cuento que dá pra vender um mói desse (mostra uma maçaroca do cheiro
verde) por um real. Cumpouco, no fim da
feira, eu termino dando o que sobra...” É tudo muito fresquinho e colorido. Colhido ao raiar do dia, no roçado atrás de casa. Nos brejos da redondeza. A maioria orgânica. Estrume da vaca criada no terreiro, aduba a produção.
É uma vidinha simplória e feliz. Não estão nem aí com o quer dizer imposto de renda, lavajato, congresso, executivo, legislativo, judiciário e outros "bichos brabos" soltos por aí. E tem mais, nem sabe em quem votou.
Vez por outra aparecem os “vivaldinos” que atravessam em diagonal o mercado e tentam subverter a ordem natural das coisas. Contudo, tanto o comerciante quanto o consumidor convivem, historicamente, com estes e adotam estratégias próprias que neutralizam as investidas inescrupulosas. Ora, para o feirante interiorano o que importa é o mercado da hora e não o que posterga o efeito financeiro embalados em promessas mirabolantes. Papo de cooperativa, nem pensar. Raros são os que escutam a conversa. Na verdade, faltam cooperativas sérias e bem estruturadas como ocorrem em economias mais avançadas. Falta confiança jurídica e falta, sobretudo, educação. Enquanto houver analfabetos, a coisa não muda.
NOTAS: Fotos de JPAllain. Os nomes são fictícios e as imagens foram permitidas.
9 comentários:
Feira muito boa na frente do mercado que fica em frente à linha tem uma mulher que fica com as netas vendendo feijão verde e fava debulhado na hora pimenta e cominho moído na hora e a couve o queijo manteiga raspado do tacho tenho um freguês de coalhada e queijo de coalho com pouco sal frita que é uma beleza
Amigo Girley , você escreve muito bem . Suas páginas são de fácil leitura e a gente prega o Zoio e num para de ler . Parabéns
Bom, não é? Eu, que moro aqui em Belo Jardim, vez em quando participo desse devaneio. Muito bom, amigo!
As feiras do interior são as melhores 👏🏻👏🏻👏🏻
Parabéns Girley! Análise perfeita, do ser humano e da vida interiorana do nosso Nordeste.
Delícia de narrativa. Pena q a ignorância do povo continua Gde. Abração
Parabéns Girley por mais essa postagem da dura realidade dos feirantes e das pessoas simples como o Sr.Toinho, alheio ao q acontece ao seu redor.
Delícia de postagem, Girley! Pessoas com a ignorância e simplicidade do Sr.Toinho, é o q mais se encontra nos interiores da vida.
Voltei a sabo na feira de MACAIBA, RN. La tom da conversa era muito semelhante. Só mudavam os Atores.
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