Mesmo em
tempo de recesso, o Blogueiro não deixa de observar as coisas que rolam no
entorno, na sociedade, na economia, na política nacional e, claro, no meio
do mundo. Dizem sempre que o ano, no Brasil, só começa depois do carnaval. E a
moçada leva a sério, o que não deixa de ser um equívoco. Este ano, porém, não foi bem assim. Já começou e começou pesado. O
julgamento do ex-presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, num Tribunal de Segunda Instância, em Porto Alegre, mobilizou a Nação de canto a
canto, num clima de expectativa sem precedentes. Tanto o julgamento quanto o
resultado, com uma condenação acachapante do réu, teve o poder de tirar todo mundo do dolce farniente deste verão. Ou seja, o ano já começou
de verdade em 24 de janeiro, dado a turbulência política reinante levando a que a
Nação se ligasse antes do habitual no “rame-rame”
costumeiro dos últimos anos. Também, pudera com um caso inédito como foi...
Tive muita vontade de interromper o recesso, mas, segurei até hoje.
Essas coisas
da atual política brasileira não acontecem por acaso. Na verdade faz parte de
um longo processo de aperfeiçoamento das relações políticas desse “continente”
que é o Brasil e que remonta desde a instalação da República. Revoluções civis,
governantes despreparados, golpes de Estado, ditaduras civil e militar, eleições democráticas,
impedimentos de mandatos são as experiências que se acumulam. Na prática, fica
claro que não se administra um país tão grande e tão cheio de disparidades
socioeconômicas, sem conflitos e dores, avanços e retrocessos. No fundo, no
fundo, é benéfico aprendizado. Um dia chegaremos ao equilíbrio. Pode ser logo ou muito
depois. Mas, pode.
Conversando,
recentemente, com um amigo do tipo que eu chamo de “lido e corrido” (cidadão com muitos quilômetros rodados mundo
afora, critico literário, cientista político refinado, apartidário, democrata e
republicano) chegamos à conclusão de que todo esse “cataclismo” político
que estamos vivenciando terá que resultar – cedo ou tarde – num aperfeiçoamento sociopolítico sonhado. É preciso sofrer para aperfeiçoar... Mesmo que
políticos indecentes e cretinos insistam atuar nas altas esferas da República um dia
poderão ser neutralizados pelos comprometidos com o povo e a Nação. Temos que
alimentar esperanças. Nessa hora, recordamos de uma afirmação atribuída a Ronald
Reagan, quando presidente dos Estados Unidos: “A política é supostamente a
segunda profissão mais antiga do mundo. Vim a perceber que tem uma semelhança
muito grande com a primeira.” Pois bem, quando deixarem de ter essa semelhança
o nosso mundo pode mudar. É difícil, sabemos, mas, esperemos que o eleitor
sendo educado e cansado de ser explorado venham distingui-los.
O que mais
dói, nisso tudo, é como essa situação de instabilidade político-econômica
consegue abalar a sociedade e as organizações, haja vista para o que se vive
no Brasil de agora. Mergulhado na maior crise da História, o brasileiro assiste
perplexo a desarrumação econômica, que se rebate de forma violenta em todas as
atividades sociais e econômicas. O estrago foi sem precedentes e justo num momento em que o resto do mundo se comporta em expansão (inflação baixa, juros tendentes a zero, crescimentos a vista entre outras variáveis) ao se recuperar da crise de 2008. O Brasil
perdeu esse trem da História. Fomos ludibriados com aquelas história de marolinha... Empresas se derretem, empregos desaparecem, mercado
perde a dinâmica e o caos se implanta. Estima-se que vamos levar uma década
para alcançar o ultimo vagão do trem que passou. Tudo por conta de uma infeliz
escolha de líderes forjados em teorias e sistemas de governo superados, apesar
de amplamente testados e abandonados por outras economias mais inteligentes e competitivas. Esse mundo
inteligente e experiente avançou e escolheu o inexorável caminho da democracia
neoliberal, enquanto alguns países despreparados politicamente, como o Brasil,
se postaram em pontos fora da curva virtuosa e hoje amarga o dissabor da
derrota social e econômica. Aqui na América Latina foi um clamor!
Curioso
ainda é como esse estrago geral abala, até mesmo, núcleos de muitas famílias
brasileiras. Não raro, as paixões políticas tomaram o lugar de outras paixões. Do futebol, por exemplo. Essas questões político-partidárias vêm eclodindo da maneira estúpida
e com mais furor e rancor, entre membros de um mesmo clã. Mesmo aqueles bem
estruturados e educados para viver em harmonia. Sei de histórias dolorosas e até
preocupantes. São fraturas desnecessárias que tendem ser levadas para o resto
das vidas, por razões sujeitas à mudanças constantes e sem futuro seguro.
Magalhães Pinto, velha “raposa” política de Minas Gerais, disse
um dia que “a política é como nuvem. Você
olha e ela está de um jeito. Olha de novo e ela já mudou”. E é mesmo! Já vi
coisas inacreditáveis. Para essas pessoas apaixonadas, por essa ou aquela
corrente política, o adequado é saber usar da inteligência, para não passar por ignorante e aprender a viver democraticamente, isto é, saber escutar e
buscar espaço para defender suas teses, sem paixões ou agressões, em nome da
paz e da concórdia. Quebrar vínculos familiares é burrice extrema, até porque uma nação se constrói com base nas Famílias. As unidas e consolidadas é óbvio.
Bom, prá terminar esta conversa de ano novo, não custa nada lembrar que viver em Democracia exige bom intelecto, bem como inteligência emocional. Isto anda faltando no Brasil e em muitos brasileiros que se acham bem formados. Conheço alguns e de muito perto.
Bom, prá terminar esta conversa de ano novo, não custa nada lembrar que viver em Democracia exige bom intelecto, bem como inteligência emocional. Isto anda faltando no Brasil e em muitos brasileiros que se acham bem formados. Conheço alguns e de muito perto.
NOTA: Ilustração colhida no Google Imagens
Um comentário:
Muito bom texto, amigo Girley. Mas será mesmo que o ano começou?
Mauro Ribeiro
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