sábado, 11 de maio de 2024

Revolta da Natureza

A semana que finda foi dominada pela maciça veiculação das noticias sobre a tragédia de dimensão inédita que atingiu o estado do Rio Grande dos Sul, devida ao descomunal volume de chuvas naquele estado e o resultante acúmulo das aguas em grande parte da bacia hidrográfica local lá existentes. Uma calamidade pública sem precedentes no Brasil, país cujo povo se ufana de viver “num paraíso tropical, livre de terremotos, maremotos, tornados e vulcões furiosos”. Tirados dessa suposta zona de conforto, o bravo povo gaúcho viu-se, repentinamente, envolto na que, por certo, já se revela como a maior das tragédias provocadas pela mãe natureza em momento de revolta no país. Já tive por várias oportunidades este tema na pauta do Blog. Lembro-me das duas ou três ocorrências em Petrópolis, uma calamitosa em Teresópolis, em Angra dos Reis, no interior da Bahia, todas sempre bem localizadas e sem a dimensão desse atual episódio do Rio Grande do Sul. Mais do que nunca convém lembrar que com a Natureza não se brinca e ninguém está livre de viver momentos de apuros em meio a um repentino mau-humor dela. O resultado é o desmantelo geral do meio ambiente que, aliás, em momentos como este em tela, deita e rola insistinto no pedido socorro. A situação é desesperadora e renitente. Compadecendo-me, junto com a metade do mundo, com o sofrimento do povo irmão não deixei escapar as noticias e opiniões de especialistas no assunto sobre os possíveis erros e relaxamentos cometidos pelas autoridades gaúchas, ao longo das ultimas décadas e após episódio semelhante registrado no distante ano de 1941. Naquela ocasião, depois que o Guaíba subiu tantos metros como na semana que termina e ficou "placidamente" 22 dias na cidade, (vide fotos a seguir das duas ocasiões: 1941 e 2024) diversas medidas corretivas foram projetadas com vistas, particularmente, à proteção da região Metropolitana de Porto Alegre, a capital do estado, embora que algumas nem hajam saídas do papel. E o pior, das que foram executadas e postas em funcionamento pouco vinham sendo preservadas. Imagino que de administração em administração (municipal e estadual) a coisa foi sendo relegada a um enésimo plano, sendo esquecida e o resultado está aí de forma nua e crua. Pode não ser hora de identificar culpados, mas, que eles existem disso ninguem duvida. Salvemos o que e quem for possivel e toquemos o barco. Agora, haja dinheiro – sempre escasso – para reconstruir um estado em petição de miséria com uma sociedade desnorteada, uma economia afundada e um futuro incerto. Serão precisos muitos Bilhões de Reais para dar suporte a um Programa de Restauração.
Enquanto as coisas não se acomodam, as chuvas não param e as águas não escoam não nos resta alternativa a não ser continuar se estarrecendo com as imagens calamitosas divulgadas, os números alarmantes de vitimas, as incríveis somas dos prejuízos preliminarmente estimados e, por uma questão de solidariedade coletiva, arregimentar donativos para socorrer aquele povo sofrido, sem teto, sem roupa, sem comida, chorando as perdas de bens e de entes queridos e, até mesmo e ironicamente, sem água para beber! Tanta água às vistas, ter de correr para não ser tragado pela correnteza e não ter a água potável para beber. É de fazer chorar. Quando o vendaval passar porque “...não há mal que sempre dure” e as contas foram fechadas o Brasil vai sentir, como nunca antes, a importância social e econômica gerada no bravo estado Rio Grande do Sul. O estado gaúcho é um dos principais produtores de alimentos básicos do brasileiro, entre os quais o arroz (o maior produtor do país), feijão, milho, trigo, soja e uva. Todos compondo a lista das perdas irreparáveis devido às enchentes. O prato de feijão com arroz, popular na mesa do brasileiro, deverá ficar mais caro por conta da baixa oferta dos dois produtos. Derivados de milho, soja, trigo e uva, igualmente ficarão bem mais caros. Carnes bovina, suína e avícola, especialidades do estado, também sofrerão altas em vista das severas perdas de animais e, consequente, redução da produção. Na Indústria, segmentos ligados à produção de autopeças, veículos coletivos, linha branca, medicamentos e cosmética sofreram fortes efeitos negativos pelas chuvas. Muitas foram as indústrias que tiveram seus parques fabris inundados pelas águas. Tudo isso resultará num empobrecimento do estado com possibilidade de influenciar negativamente na parcela contributiva para a formação do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro nos próximos cálculos. NOTA: As fotos ilusrativas foram obtidas no Google Imagens.

8 comentários:

José Paulo Cavalcanti disse...

Belo texto. Solidário. Bem escrito. Parabéns, amigo. Abraços.

Francisco Campelo disse...

Como consta nos arquivos de nossos jornais, quando uma calamidade assola uma região, aparecem os necessitados flagelados e em nome deles são encaminhados recursos, que por vias paralelas são desviadas e o pouco que resta, é empregada em uma pseudo solução.
Vemos pelo mundo afora, cidades que sofrem com inundações e buscaram soluções e conseguiram:
Veneza, com suas barreiras mecânicas; Barcelona com tanques de captação de águas pluviais; Valência, que desviou o Rio Turia a montante, evitando que ele despejasse milhões de litros de água de chuva dentro da cidade. Hoje o seu antigo leito é um imenso parque para Valência.
Soluções existem e outras podem ser planejadas.Falta interesse político, pois a seca, as enchentes e outras calamidades, são protestos para os administradores públicos receberem verbas sem que tenham uma prestação de contas honesta.

Luís Motenegro disse...

Isto mesmo, @Francisco Campelo. Porém hj tem mais um novo fator, a chamada crise climática antropogênica que relaciona a frequência histórica das enchentes, secas e nevascas severas e até fora de época. Dubai inundada?! Onde já se viu isso? Nem estrutura de escoamento de água a cidade super-planejada fez. Chovia raramente e poucos milímetros. Não têm solução fácil no curto prazo. Terá de haver um acerto global entre todas as nações. (Nada fácil) Passamos já da hora🤦🏻

Antonino Ribeiro disse...

O aquecimento global é uma coisa irreversível, é da natureza dos planetas. Coisa de bilhões de anos! O planeta Terra está com os dias contados, nem nossa 100° geração estará viva. Melhor seria a humanidade cuidar melhor do seres humanos atuais, dando-lhe educação, saúde, segurança e tecnologia para sairmos desse planeta. Feliz dia das mães.

Vanja Nunes disse...


Excelente texto como sempre

Pedro Paulo Ramos disse...

Excelente comentário.

Eliane Baptista disse...

Que bom que você escreveu sobre esse assunto

Danyelle Monteiro disse...

O Sr. como sempre muito atento aos múltiplos aspectos, parabéns! Quando as águas baixarem, suponho que serão encontrados muitos corpos e medidas já devem ser planejadas desde já, pensando na saúde pública. Será um grande desafio a reconstrução, pois quem terá coragem de reconstruir no mesmo lugar onde perdeu tudo? Vai valer à pena? Há novas áreas suficientes? Incógnitas e pesar é o que nos resta, apesar do trabalho fabuloso desenvolvido pelos voluntários.
Novos modelos de cidades precisam ser pensados, inclusive tem uma metodologia australiana chamada WSUD que trata de águas pluviais, só não sei se resolve um problema dessa magnitude.

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