Há pouco mais
de dez anos, Pernambuco viveu momentos de euforia econômica com grandes
investimentos estruturadores sendo implantados e perspectivas de tempos
alvissareiros, não apenas local, com rebatimentos regionais de grande monta.
Foi quando começaram a se implantar os estaleiros Atlântico Sul e Vard Promar,
a Refinaria de Petróleo da Petrobrás (RENEST), a Petroquímica Suape e logo em
seguida o Polo Automobilístico da FCA (Fiat /Chrysler), entre outras
iniciativas de menores portes.
Tudo esteve
na mais perfeita ordem de implantações até que eclodisse a crise
político-econômica que se estende até a atualidade, consequência da Operação
Lavajato – expondo de modo arrasador os imensos crimes de corrupção na esfera
política nacional – interrompendo, dessa forma, o processo virtuoso de desenvolvimento
econômico do estado.
Com a
Petrobrás posicionada no “olho do furacão” da crise, devido ao grande foco de
corrupções ali instalado, os projetos pernambucanos começaram a minguar e até o
momento amargam quadros de indefinição e com perspectivas nefastas. A Refinaria
em fase de implantação teve suas obras paralisadas e vive à espera de novos
bons tempos. A Petroquimica já foi vendida a um grupo multinacional, que
promete tocar o projeto, e os estaleiros, embora em funcionamento, vislumbram
momentos de dificuldades por motivo de cancelamentos de encomendas ou falta de
novas. Trata-se de ameaça, com um duro golpe, ao estado que se destacava no
cenário nacional como um polo industrial de grande perspectiva econômica. O
único projeto que se apresenta, hoje, a pleno vapor e vislumbrando crescimento
é a montadora Fiat/Chrysler (FCA) na Zona da Mata Norte, cuja produção tem tido
constante crescimento.
Mas,
tratando objetivamente do caso dos estaleiros, é duro perceber que a situação
se revela mais complexa e chama maior atenção. A história recente mostra que o
Brasil já foi, nas décadas de 70 e 80, o segundo maior construtor naval do
mundo. Com o avanço competitivo das produções no Japão e na Coréia do Sul os
estaleiros brasileiros (concentrados à época no estado do Rio de Janeiro) foram
perdendo competitividade, inclusive no mercado nacional. Tornou-se mais barato
comprar embarcações dos asiáticos (com custos de construção muitíssimo mais
baixos) do que dos estaleiros nacionais, ocasionando um desmonte do setor, em
proporções incomensuráveis.
Entretanto,
o espírito nacionalista do ex-Presidente Lula e as descobertas das novas
ocorrências de petróleo, inclusive as do pré-sal, apontou para um potencial
mercado de embarcações no ambiente doméstico, levando a que o Governo criasse o
Programa da Modernização e Expansão da Frota - PROMEF, visando particularmente ampliar
de forma mais ampla a frota de petroleiros da Transpetro, braço de logística da
Petrobrás com embarcações construídas no Brasil. Soerguia-se, assim, consequência
desta decisão politica, a Indústria Naval
nacional tomando forma com implantações de vários estaleiros no país.
Estaleiro Atlântico Sul - EAS, Suape, Pernambuco, Brasil |
Numa iniciativa
incentivada – pela SUDENE e pelo Governo do Estado – grupo de empresas experientes
no mercado da construção civil pesada, instalou em Pernambuco, o maior desses
estaleiros, o Atlântico Sul – EAS, no Complexo Industrial Portuário de Suape que
se tornou um dos mais demandados pelo Programa, com encomenda imediata de 22
navios. O empreendimento pelas suas dimensões, condições tecnológicas e
localização geográfica foi de pronto considerado o mais competitivo e,
inclusive, reconhecido como o maior do Hemisfério Sul. Posso garantir de que se
trata mesmo de uma fantástica planta, que acompanhei a implantação desde os
momentos de decisão da localização. Foi investido um total de R$ 2,2 Bilhões
com uma capacidade instalada de processar 100 Mil Toneladas de aço por ano. No
pico das contratações o EAS contou com 11.000 empregados diretos, número vem
aos poucos caindo e atualmente conta com 3.600. Considerando o efeito pra
frente, pelo menos 33.000 pessoas se beneficiaram com o empreendimento. Estimei
um multiplicador de 3 para cada ocupado direto.
Ao longo dos
últimos dez anos o EAS acumulou experiência e hoje ostenta um desempenho
comparável aos observados em plantas da Coreia do Sul, maior construtor mundial.
Ganhou competitividade e suas embarcações se destacam pela qualidade da
produção no mercado.
Dependente,
porém, de um único cliente (Transpetro) e sofrendo das consequências das
restrições de investimentos desse cliente, o EAS se encontra diante de um
colossal desafio para manter a dinâmica de produção e sua própria
sustentabilidade. Das 22 embarcações inicialmente encomendadas 7 foram
canceladas (4 Suezmax e 3 Aframax). Nestes dias o EAS está iniciando a
construção do último navio a ser entregue à Transpetro, o que deve ocorrer até
junho de 2019. Depois disso, ninguém sabe o que poderá acontecer.
Lideranças
politicas e governamentais locais se mobilizam, no momento, para acudir a
Empresa que sofre com uma sequencia de prejuízos e, o pior, teme sua
inviabilidade, caso não conquiste novas encomendas. Pernambuco corre o risco de
sofrer amarga perda na composição do seu atual PIB Industrial que, nos últimos
três anos, teve uma contribuição media de R$ 800,0 Milhões. Somente de desempregados
serão 3.500.
Esta
infausta história leva a crer que, ao invés de construir navios, ao estado
restará a triste situação de “a ver navios”.
NOTA: Foto obtida no Google Imagens
4 comentários:
Excelente!!! Porém, considero que as autoridades políticas e os empresários tenham demorado demais para tentar uma solução que permita recuperar o EAS. Deus permita que eu esteja errada. ����
Excelente texto Girley. Aprendi um pouco mais sobre a Indústria Naval e a situação do nosso estado neste embroglio do EAS.
Pior é que você tem razão, amigo. Sugiro já um próximo assunto. O American Buy Act. Uma consequência natural deste artigo. Abraços.
O EAS vai fechar assim como os demais pois não se abre um indústria pra fornecer para apenas um cliente.
Infelizmente amigo e Guru Girley, o processo de "desfazimento" do EAS, na minha opinião, é irreversível. Ele e os demais "novos" estaleiros brasileiros não têm a menor chance de existência no tempo.
Basta olhar que indústrias navais muito mais sofisticadas dos EUA e do Japão, por exemplo!! Como Lula e sua turma foram burros em pensar que poderíamos superar americanos e japoneses com um sorriso ou teclando 13 e confirmando!!!???
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