Tenho
acompanhado com certo interesse essa situação calamitosa de imigrantes
venezuelanos, que fugindo dos horrores impostos pelo ditador Maduro, procuram
melhores condições de vida no Brasil, via a fronteira com o estado de Roraima,
no Norte do Brasil. Eles chegam, inclusive caminhando, em grandes grupos de idosos, jovens e
crianças. Algumas mulheres grávidas e sem muita resistência dão à luz crianças
prematuras, desnutridas e abaixo do peso normal, nos hospitais e maternidades
brasileiras. Tudo isto num dos estados mais pobres e subdesenvolvidos do país.
A pequena cidade de Paracaima, na fronteira dos dois países, é o primeiro ponto de chegada e administra
dificuldades para alojá-los, alimentá-los, dar assistência médica e tudo mais
que se faça necessário, numa missão humanitária de total solidariedade.
Estive na
Venezuela por duas vezes. Na primeira, cumprindo uma missão governamental, com
suporte do Ministério das Relações Exteriores do Brasil (Itamaraty), dentro do
Programa de Boa Vizinhança, na época do Governo Sarney. Isto foi na década de 80.
Governava o país, o médico Jaime Lusinchi, segundo percebi, de baixa popularidade. Passei dois
meses prestando consultoria à Fundação de Desenvolvimento do Centro-Ocidental da Venezuela (FUDECO),
uma entidade localizada na cidade de Barquisimeto, capital do estado Lara. A
referida fundação foi formatada nos moldes da SUDENE e meu trabalho foi o de
avaliar as ações de planejamento regional local comparando-as com as experiências da Agencia do Nordeste brasileiro
e, por fim, sugerir propostas de aperfeiçoamento às ações daquela Entidade. Além de rica experiência
pessoal foi também um bom momento de intercambio entre as duas entidades. Encontrei um país vibrante e com boas perspectivas, embora os desequilíbrios inter-regionais de renda e desenvolvimento. Nenhuma novidade para mim enquanto nordestino brasileiro e funcionário da agencia regional. Por isso mesmo estava por lá.
Minha
segunda ida a Venezuela foi no ano 2000, já fora da SUDENE, integrando uma Comitiva empresarial, promovida
pela Federação das Indústrias de Pernambuco - FIEPE e atendendo convite do novo
presidente venezuelano, o polêmico Hugo Chávez, quando de uma visita oficial a
Pernambuco.
Foram dois
momentos totalmente distintos, tanto em aspectos políticos, quanto em
termos de clima reinante no país como um todo. Algo bem parecido com o que vivenciamos
aqui no Brasil, na recente era petista.
Eis aí uma foto tomada com Hugo Chávez e a Comitiva de empresários pernambucanos no Palácio Miraflores. |
Os discursos
discordantes que ouvimos de Hugo Chávez, no Palácio de Miraflores, e o de Pedro
Carmona Estanga, Presidente da Fedecâmaras (correspondente à Confederação Nacional das
Indústrias do Brasil - CNI), deram o tom do clima de intranquilidade reinante
no país vizinho. A foto acima, registra a Comitiva pernambucana, num encontro com Hugo Chávez. Entre outros estão: Armando Monteiro Neto (chefe da Missão), Jorge Corte Real, Sandoval
Silveira, Mario Conte, Severino Paixão, Paulo Gustavo Cunha. Eu sou o primeiro da
esquerda para direita. Hugo Chávez aparece no centro da foto.
A sensação que tivemos ao encerar nossa missão empresarial
foi de que, a qualquer momento, explodiria uma revolta civil. De fato, em 12 de
abril de 2002, o próprio Carmona liderou um golpe de estado e assumiu por 24
horas a Presidência da República, sendo escorraçado da cadeira presidencial no
dia seguinte, numa rápida ação contragolpe, e o cargo foi devolvido ao Chávez.
Daquela missão empresarial o mais significativo que recordo foi o anuncio de Chávez de investir na construção de uma refinaria de petróleo, numa
parceria entre a Petrobrás e a estatal venezuelana de Petróleo, PDVSA, em
Pernambuco. Valeu aquele discurso do mandatário venezuelano e a refinaria saiu do papel, no governo Lula. Contudo,
sem um centavo sequer da petroleira venezuelana. Os problemas de corrupção que
abalaram a conclusão da RNEST (Abreu e Lima) podem render outros posts. Depois...
A situação caótica que se verifica hoje na Venezuela, mergulhada numa tremenda crise político-econômica é exatamente, ou mesmo pior, comparada com o quadro que imaginei ao deixar Caracas, nessa minha última passagem por lá. Pior, certamente. De membro da OPEP e com uma folgada e promissora vida econômica, prestigiada no meio do mundo, foi transformada numa república populista de baixíssimo nível, impondo à sua sociedade sacrifícios nunca dantes imaginado. Claro que havia desníveis sociais a serem corrigidos, assim como há em todos os países latino-americanos. Contudo, o modelo de governo populista revelou-se logo cedo como sendo precipitado e inadequado à estrutura político-social original. De social-democracia prometida, não teve nada. Quando o projeto bolivariano de Chávez/Maduro se estruturou e foi posto em prática, nos anos recentes, foram os mais pobres que mais sofreram. São esses pobres coitados que estão pedindo esmolas nas ruas de Roraima e outros milhares que fugiram pela fronteira com a Colômbia. Cada venezuelano amarga, hoje, os malefícios desse governo desastrado. Os pobres cada vez mais pobres e os ricos refugiados nos seus abrigos seguros fora do país. Hoje, mesmo, vi uma noticia na imprensa do Recife que até os animais dos zoológicos estão morrendo de fome. Alguns sacrificam patos, gansos, porcos e similares para alimentar as feras. Que desastre.
Recebo, sempre, notícias desanimadoras de amigos que mantenho por lá. Lamentável. Trata-se de um país rico em recursos minerais e diversidade natural e cultural. Vai custar muito a recuperação que inexoravelmente terá de vir um dia. Não há crise que perdure indefinidamente. Pobre (rica) Venezuela!
A situação caótica que se verifica hoje na Venezuela, mergulhada numa tremenda crise político-econômica é exatamente, ou mesmo pior, comparada com o quadro que imaginei ao deixar Caracas, nessa minha última passagem por lá. Pior, certamente. De membro da OPEP e com uma folgada e promissora vida econômica, prestigiada no meio do mundo, foi transformada numa república populista de baixíssimo nível, impondo à sua sociedade sacrifícios nunca dantes imaginado. Claro que havia desníveis sociais a serem corrigidos, assim como há em todos os países latino-americanos. Contudo, o modelo de governo populista revelou-se logo cedo como sendo precipitado e inadequado à estrutura político-social original. De social-democracia prometida, não teve nada. Quando o projeto bolivariano de Chávez/Maduro se estruturou e foi posto em prática, nos anos recentes, foram os mais pobres que mais sofreram. São esses pobres coitados que estão pedindo esmolas nas ruas de Roraima e outros milhares que fugiram pela fronteira com a Colômbia. Cada venezuelano amarga, hoje, os malefícios desse governo desastrado. Os pobres cada vez mais pobres e os ricos refugiados nos seus abrigos seguros fora do país. Hoje, mesmo, vi uma noticia na imprensa do Recife que até os animais dos zoológicos estão morrendo de fome. Alguns sacrificam patos, gansos, porcos e similares para alimentar as feras. Que desastre.
Recebo, sempre, notícias desanimadoras de amigos que mantenho por lá. Lamentável. Trata-se de um país rico em recursos minerais e diversidade natural e cultural. Vai custar muito a recuperação que inexoravelmente terá de vir um dia. Não há crise que perdure indefinidamente. Pobre (rica) Venezuela!
NOTAS: Foto do arquivo pessoal do Blogueiro.
Este Blogueiro compôs a Comitiva Empresarial da FIEPE como um dos representantes do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Pernambuco - SIMMEPE.
Este Blogueiro compôs a Comitiva Empresarial da FIEPE como um dos representantes do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Pernambuco - SIMMEPE.
6 comentários:
Muito bom primo escapamos por enquanto dos petralhas nossos irmãos Venezuelanos estão passando por um período lastimável mais como você bem diz não há bem que sempre dure nem mal que nunca acabe e espero no Criador que seja rápido e a democracia volte forte.
António Carlos Neves
Disse bem, amigo. Muito bem. Abraços.
José Paulo Cavalcanti
Coisa muito triste,o que acontece no Venezuela... Espero que o Brasil não chegue a esse extremo!
Regina da Fonte
Ótimo comentário amigo. Sei que um dia já fosse Social Democrata, ou talvez ainda seja.
Mas, como conheces o mundo sabes que não funciona. A própria Escandinávia é absolutamente capitalista. Acho que já é hora de "cair a ficha".
Conversa para muitos chopps, vamos combinar?
Diogenes Andrade
Amigo, não queria (nem quero) estar na tragica situação dos venezuelanos. Nós, brasileiros, estamos sob serios riscos. Infelizmente.
Olbiano Silveira
Achei muito bom o artigo Girley. Informativo. Fiquei sabendo de coisas que não sabia sobre a Venezuela. 🍀
Cristina Carvalho
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