quinta-feira, 12 de setembro de 2024

Cenas Hilárias

Nada melhor do que uma boa risada. Ainda que em momento episódico não seja cabível, passado o momento fica impossível segurar. Bom mesmo é que ocorre muitas vezes na vida. Recordo de muitos momentos hilários vividos ao longo da minha vida. Hoje, por exemplo, dei boas risadas lembrando-me de uma das passagens mais impagáveis que presenciei na minha infância. Eu devia ter, no máximo, dez anos de idade. Faz muito tempo, muito embora para mim parece haver sido ontem. Questão de boa memória. E memória de infância é forte. Meu finado pai era um homem caprichoso, correto em tudo e visceralmente ético. Minha mãe dizia sempre que ele havia nascido com vocação de “consertar o mundo”, coisa que a ela não parecia ser um bom negócio. Lá pela metade dos anos 50, ele comprou uma casa para nossa moradia numa região de expansão imobiliária, entre os bairros da Tamarineira e Rosarinho, aqui no Recife. Lembro que fomos os primeiros moradores a chegar naquela rua que ainda se desenhava timidamente. Nessa época, era ainda uma artéria desprovida de tudo quanto desejado a uma vida urbana confortável. A rua não era calçada, o lixo só era recolhido quando se reclamava no Departamento de Limpeza Urbana da Prefeitura e não havia iluminação pública. Foi muita coragem e dureza para enfrentar, por bom tempo, aquela precariedade, em meio a novas construções e novos vizinhos. Ocorre que, enquanto o progresso não chegava, a região se tornou um paraíso para os donos do alheio. Os ladrões daquela época, mais conhecidos como ladrões de galinha – bem diferentes dos mais populares de hoje em dia – não davam descanso aos novos moradores daquele pedaço da cidade. Do nosso quintal roubaram galinhas, roupas na corda, vasos de plantas, mangueiras de regar o jardim, vassouras, entre outras miudezas. O que se deixava à vista, já era. Cansado de tantos roubos no seu próprio domínio, meu pai, numa decisão radical, resolveu, durante um período de férias a gozar, dar uma de “guarda noturno” e espreitar a chegada dos larápios. Contra a vontade da minha mãe lá ficou ele, durante um mês, trocando o dia pela noite. Passava noites de prontidão numa cadeira de balanço, revólver em punho e porta somente no trinco, esperando a hora do gatuno atrevido aparecer. Foram noites a fio. Minha mãe, talvez sentindo falta do aconchego no leito, insistia para que abandonasse aquela missão insana e num mês de férias. Ora, meu Deus, que coisa mais bizarra, havia de ser pensamento da minha mãe. Os dias foram passando e as férias já atingia a metade do tempo quando, num amanhecer chuvoso da graça de Deus, nosso “vigia” meio sonolento escutou o barulho do ferrolho do portão de entrada sendo acionado e logo em seguida a maçaneta da porta principal de casa sendo movida. Prestou não. Com uma raiva “da gota serena”, como se tinha antigamente, meu pai abriu a porta e agarrou com unhas e dentes o sujeito que ele esperava por tantos dias. Foi pontapé, socos, palavrões de toda espécie e o maior alvoroço nos terraços de casa. Eu meti os pés da cama, assustado com a confusão, dando de cara com aquela cena, ouvindo meu pai a praguejar agarrado ao cara. Uma coisa curiosa e divertida é que, quando estressado, meu pai ficava gaguejando e naquela ocasião recordo dele gritando “te pe...peguei seu sas...sacana! Seu filho de uma pa...puta”. Ao mesmo tempo, o tal ladrão gritava e chorava pedindo socorro com medo de morrer de uma bala. Bala que não houve porque não era para acontecer mesmo. Minha mãe, por sua vez, agarrava meu pai pelo pescoço, pelos braços e por onde podia, pedindo calma. Apavorada com a situação, minha mãe logo percebeu se tratar de um lamentável equivoco e buscando estabelecer a verdade alertou meu pai, dizendo “homem de Deus, tu não estás vendo que este moço só veio aqui nos trazer o pão da manhã!” o entregador de pão era uma figura social importante daquela época. Foto abaixo. Foi, então, que entendi a quantidade de pães espalhados pelo chão. Acalmar meu pai e fazê-lo ver o equivoca cometido não foi fácil. Àquela altura dos acontecimentos vários transeuntes já paravam diante de casa atraídos pela confusão e, naturalmente, morriam de rir com o ocorrido. Nos dias seguintes meu pai não podia sair pela redondeza sem ter de contar essa aventura. Naturalmente que provocando gargalhadas. Ele próprio se divertia com episódio. Eis aí uma cena hilária.
NOTA: Foto ilustração obtida no Google Imagens.

5 comentários:

Francisco Brito disse...

E eu imaginando que ias contar suas aventuras pelas bandas de Barbacena mkkk. Sua histófia me lembrou de algumas de mesma época ou um pouco adiante, de quando meu pai veio do interior com 9 irmaos, morar na Capitá. Sua recordaçao foi otima e me lembrou algumas de minha familia q nos fez rir sempre q repetidas.

Jose Paulo Cavalcanti disse...

Boas lembranças, amigo. Parabéns.

Clovis Cavalcanti disse...

Fiquei com pena do entregador de pão. Abraço.

Monica Mendonça disse...

Posso imaginar a cena hilária! Até parece episódio de novela, primo!
Um grande abraço!
Parabéns!

Thereza Leal disse...

Amei Girley Vc é muito gentil não se esquece de me enviar tudo que você escreve porque sabe que eu adoro te desejo tudo de bom continue sempre me enviando Você é um amigo de muitos anos Abraços Saudosos

Cenas Hilárias

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