Tenho
acompanhado atentamente o drama político da Venezuela. Lamento tudo que vem
ocorrendo e temo pelas conseqüências catastróficas tanto no ambiente doméstico, quanto no cenário regional de América Latina
Como é bem
sabido estamos falando de um país rico, membro da OPEP, de um povo generoso e hospitaleiro e
com perspectivas constantes de progresso. Politicamente foi sempre um líder na
região. Simon Bolívar (1783-1830) venezuelano de Caracas foi um comandante
político-militar que chefiou revoluções libertárias que levaram à independência
da própria Venezuela (1811) e, em seguida, da Colômbia, Equador, Peru e Bolívia até então sob o
domínio espanhol.
Estive três vezes na Venezuela. A primeira foi como simples e jovem turista e
permaneci poucos dias. Pela segunda vez, 1986, demorei um bom tempo (quase dois
meses) porquanto fui como consultor, num programa conjunto MRE (Itamaraty)/OEA,
para prestar trabalho numa entidade regional – Fundación de Desarollo del
Centro-Occidente de Venezuela (FUDECO) – criada aos moldes da SUDENE (onde fiz
minha carreira profissional). Situada na cidade de Barquisimeto, capital do
Estado Lara, a FUDECO trata (ou tratava!) de promover o desenvolvimento da
citada região formada por três outros estados: Falcón, Lara, Portuguesa e
Yaracuy. Foi uma excelente experiência. E, finalmente, estive uma última
ocasião compondo um Comitiva Empresarial de pernambucanos ligados à FIEPE
(Federação das Indústrias de Pernambuco), chefiada pelo presidente da época,
Armando Monteiro Neto e atendendo convite expresso do Presidente Hugo Chávez,
no auge do seu entusiasmo por transformar a Venezuela num parceiro dinâmico
político e comercial do Brasil. Ele tinha uma especial atenção com Pernambuco,
por conta do General Abreu e Lima, parceiro de Bolívar nas lutas pela
independência.
A exceção da
minha primeira ida, panorâmica por excelência, guardei interessantes
memórias das duas seguintes. Foram
momentos que marcaram minha vida profissional.
Como
consultor na FUDECO ajudei na montagem de um sistema de monitoramento das
mudanças sociais da região através da concepção de um sistema de indicadores sociais, como
havia sido implantado no Nordeste da SUDENE.
Mas,
paralelo a este trabalho, pude observar o comportamento político social dos
técnicos daquela Fundação e seus relativos na sociedade. Havia um inconformismo
geral com a classe política do país, achavam que as eleições presidenciais eram
uma farsa e não toleravam, por exemplo, o fato de terem governadores locais nomeados pelo
poder central. Os estados não gozavam praticamente de autonomia. Percebia-se se tratar de um
pseudo-democracia. Fidel Castro era tido como um deus e ir a Cuba se constituíam
num sonho dourado para a grande maioria. A voz do ditador cubano era sintonizada
religiosamente pelas ondas do rádio. Estudar o idioma russo era a moda da
época. Acreditavam na difusão deste idioma num futuro muito próximo da America
Latina. Era o prenuncio do sonhado bolivarianismo
de Chávez. Este, baseado num discurso populista e contrário as manobras
neoliberais e atos de corrupção do Governo de Carlos Andrés Pérez, em 1992,
tentou sem sucesso um golpe de estado. Derrotado, Chávez foi levado a uma
prisão política, embora tenha conquistado popularidade das camadas da população
descontente com o Governo de Pérez. Sem sustentação e desgastado pela
improbidade Andrés Perez sofreu impeachment um ano depois, num movimento
capitaneado pelo ex-presidente Rafael Caldera. E foi de Rafael Caldera que Hugo
Chávez recebeu o Governo em 1999, a partir do que implantou o que denominou de Socialismo
do Século 21, tomando a imagem de Simon Bolívar como patrono. Contrário ao
neoliberalismo e a política norte-americana buscou aliados na América do Sul e
guarida no Fórum de São Paulo criado pelo PT e Lula, em 1990. Nas suas
freqüentes andanças pelo Brasil patrocinou desfiles de escola de samba na Sapucaí, tomou-se de amores pelo estado de Pernambuco,
berço do General Abreu e Lima, parceiro de Bolívar nas lutas pela
independência. Por aqui fez seu proselitismo político junto aos habitantes do
município de Abreu e Lima (Área Metropolitana do Recife), cuidou do tumulo de
Abreu e Lima num cemitério recifense e se aproximou da Classe Empresarial
local. Foi daí que surgiu o convite para a formação de uma missão empresarial
de pernambucanos à Caracas. Participei dessa comitiva na representação dos
empresários do setor Metal-Mecânico. Esta foi
minha terceira ida à Venezuela.
Em Caracas,
num grupo formado por aproximadamente 30 membros, comandada pelo presidente da
Federação das Indústrias do Estado (Armando Monteiro Neto) cumprimos uma
programação sugerida pela Embaixada do Brasil contemplando, claro, encontro com
o Presidente Chávez e setores de governo e da iniciativa privada. Objetivo foi a
prospecção de negócios entre os dois países e em particular Pernambuco, estado
queridinho de Chávez.
Dessa oportunidade tirei outras boas informações sobre a rica Venezuela. Por um lado e obviamente tivemos com Chávez uma audiência de, pelo menos, duas horas, no Palácio de Miraflores, cheia de pabulismo e fanfarras. Ele caprichava na retórica revolucionária. Fez de imediato inúmeras citas, para os empresários, com ministros e presidentes de estatais. Quase todos generais do exército, que faziam questão de aparecer fardados, estrelas nos ombros e medalhas nos peitos.
Acontece que a Embaixada brasileira, em boa hora, agendou encontros com a classe empresarial e fomos levados para situações bem expressivas. De todos, recordo, como mais emblemático, o realizado durante um longo almoço na Fedecâmaras (a CNI da Venezuela), presidida pelo industrial Pedro Francisco Carmona Estanga que não poupou ácidas criticas ao Hugo Chávez, devido ao programa de estatização e populismo que o presidente pretendia implementar. A sensação que passou ao grupo de visitantes, à luz do discurso de Carmona, foi a de que Chávez teria pouco tempo de poder. Dito e feito. Em 12 de abril 2002, o próprio Carmona promoveu um golpe de estado e derrubou Chávez. Malogrado, o governo golpista/provisório só durou 24 horas. Chávez contou com as forças do Estado Maior do exercito que lhe garantiu liberdade e retorno ao Palácio de Miraflores.
Bom, diante das potenciais ameaças que sofria, Hugo Chávez tratou de adotar medidas ditatoriais para se perpetuar no poder, o que de fato ocorreu até morrer em 05 de março de 2013. Assumiu o seu lugar Nicolás Maduro que transformou a Venezuela no inferno que estamos sabendo. Incompetente e tirano jogou o país numa situação sócio-politica-econômica insustentável reconhecida por meio mundo.
Lamento que, neste momento, com o jovem e destemido autoproclamado presidente interino Juan Guaidó e o Maduro sem ceder, a Venezuela caia numa conflagração civil sem precedentes em pleno século 21 da América latina. Pobre Venezuela.
NOTA: Foto de arquivo pessoal e a segunda do Google Imagens
Dessa oportunidade tirei outras boas informações sobre a rica Venezuela. Por um lado e obviamente tivemos com Chávez uma audiência de, pelo menos, duas horas, no Palácio de Miraflores, cheia de pabulismo e fanfarras. Ele caprichava na retórica revolucionária. Fez de imediato inúmeras citas, para os empresários, com ministros e presidentes de estatais. Quase todos generais do exército, que faziam questão de aparecer fardados, estrelas nos ombros e medalhas nos peitos.
Comitiva de Pernambucanos com Hugo Chávez 13.11.2000 (sou primeiro a esquerda) |
Bom, diante das potenciais ameaças que sofria, Hugo Chávez tratou de adotar medidas ditatoriais para se perpetuar no poder, o que de fato ocorreu até morrer em 05 de março de 2013. Assumiu o seu lugar Nicolás Maduro que transformou a Venezuela no inferno que estamos sabendo. Incompetente e tirano jogou o país numa situação sócio-politica-econômica insustentável reconhecida por meio mundo.
Lamento que, neste momento, com o jovem e destemido autoproclamado presidente interino Juan Guaidó e o Maduro sem ceder, a Venezuela caia numa conflagração civil sem precedentes em pleno século 21 da América latina. Pobre Venezuela.
Guiadó e Maduro: queda de braços das duras. |
NOTA: Foto de arquivo pessoal e a segunda do Google Imagens
11 comentários:
É isso mesmo amigo. Pobre Venezuela, rica e miserável ao mesmo tempo. Talvez sofra mais justamente por ser rica.
E lamentável a situação atual da Venezuela na época de sua visita era FUDECO agora é FUDIDECOS se é que podemos brincar com a situação atual corrompidas pelos ditadores Hugo e Madura que para mim já estar podre
Não tem um macho para matar o viado Nicolas maduro
FUDECO é mesmo uma boa sigla para definir hoje a Venezuela. Belo texto, amigo. Parabéns.
Pois é José Paulo! essa sigla fez o maior sucesso na época que fui pra lá. Exoressa no processo administrativa de liberação para minha cessão, terminou no DOU e na Hora do Brasil. Causava risadas antes e depois da minha missão. Imagine o que me perguntavam na volta.
Nossa!!! Que texto fantástico. Conta processo que iniciou a derrocada de uma Venezuela rica que hoje moribunda pode morrer de forma terrível, violenta. Bravo!!!! Devia publicar em duas partes no nosso Boletim. Seria excelente. 👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏🍀🍀🍀🍀
Cristina Carvalho, agradeço sua visita ao Blog e os elogios. Quanto a publicação no Boletim do Rotary Espinheiro tenho dúvidas dados os princípios apolíticos da Entidade.
Texto bem esclarecedor, uma viagem às entranhas de um País rico em potencialidades econômicas, mas estagnado por um modelo de gestão fora do contexto contemporâneo! Representando uma ameaça de instabilidade para América Latina.
Y sobre Venezuela un país que primero lo acorrala y luego designa y apoya a un personaje q se autoproclama como presidente, con toda la intención de ir por la riqueza de Venezuela.
Grande Girley Brazileiro! Vez por outra, acompanho o seu blog. O texto sobre a Venezuela bem retratou o que vi naquele País outrora maravilhoso. Passei 22 dias fazendo um curso em Caracas, em 1994.
Uma inesquecível imersão na economia e nas questões sociais venezuelanas.
Forte abraço.
Otimo o seu blog sobre a Venezuela! Muito bem escrito! Experiências de vida bem importantes! Adorei !
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