Aqui em
Pernambuco ocorrem coisas que me deixa profundamente decepcionado com nossos
governantes. Estou revoltado com a notícia de que o acervo de obras e
esculturas de Abelardo da Hora, falecido em 2014, foi vendido ao Governo da
Paraíba, onde vai ganhar um museu dedicado ao artista que nasceu (Tiúma-PE.) viveu e lavrou suas
obras de arte aqui no estado. Quanta falta de noção cultural e
irresponsabilidade com a História da Arte local. Sua vida e história se desenrolou aqui e o local mais adequado
para exposição permanente da sua obra num museu seria no Recife. Falta de sensibilidade
cultural desses nossos governantes. Como faz falta gente culta e com
noção de Historia à frente de um governo.
Este caso, eu diria que trágica, faz-me lembrar outro que ocorreu na passada
década de 70, quando a monumental coleção de arte sacra do colecionador
Abelardo Rodrigues foi levada para Bahia por total irresponsabilidade do
Governo de Pernambuco. Trata-se de uma das coleções mais expressivas de arte sacra que se tem
conhecimento no Brasil. Quando falei monumental, não exagerei. Cheguei a
conhecer, observar de perto e tocar algumas peças. Na época era aficionado em obras
dessa natureza. Por sorte estive na casa dele algumas vezes e fui sempre bem recebido
pela filha, Dóris. Ela sabia que eu gostava de apreciar a coleção.
Pois bem,
Rodrigues (1909-71) que era Advogado, tinha como hobby, desde jovem e estimulado pelo pai, colecionar obras
sacras antigas e algumas populares (foi criador do Museu do Barro, em Caruaru). Ao
falecer – em consequência de um infarte provocado por uma disputa ferrenha, com o
Prefeito Augusto Lucena, defendendo a preservação da igreja do Bom Jesus dos Martírios que o prefeito decidiu demolir (e conseguiu!)
para dar passagem à atual Avenida Dantas Barreto – deixou seu expressivo legado
para os herdeiros.
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Fachada da Igreja dos Martírios, (século 18) demolida. |
Sem
condições adequadas para preservar o patrimônio artístico e cumprindo o desejo
do colecionador, a família Rodrigues resolveu vendê-la ao Governo do Estado com
a finalidade de montar um museu Abelardo Rodrigues. O governador da época,
1972, Eraldo Gueiros, fez ouvidos de mercador e, sem sensibilidade para com o
tema, deixou que a oferta vazasse e chegasse aos ouvidos do governador Antonio Carlos
Magalhães, da Bahia, em 1973. O governador Gueiros quis consertar o erro, fora de hora,
desapropriando o acervo e proibindo a saída da coleção do estado. Mas, foi tarde.
Magalhães, famoso como sujeito "bom de briga", não perdeu essa. Após uma “batalha”
judicial (chegando, inclusive, ao STF), os baianos ganharam a questão e levaram
o acervo. A briga interestadual ganhou a denominação de Guerra Santa. Pernambuco perdeu feio. Foi uma
lástima. Imperdoável. Irresponsabilidade Histórica do governo pernambucano.
Hoje, o Museu Abelardo Rodrigues instalado em Salvador, na região do
Pelourinho, é sucesso de visitação. Veja mais clicando em: https://dimusbahia.wordpress.com/museu-abelardo-rodrigues/
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Uma das salas do Museu Abelardo Rodrigues, em Salvador. |
Agora, vejam só, a historia se repete! A família de Abelardo da Hora ofereceu - em doação - mais de trezentas peças ao Governo do Estado. Paulo Câmara reeditou o comportamento do governador Gueiros. Percebendo a iminente perda, apenas, nomeou um representante para resolver a questão, que ofereceu um espaço (pequeno, certamente) no Museu Cais do Sertão para colocar, algumas peças. Que absurdo! Não deu outra, veio o Governo da Paraíba e negociou, sem
alardes e tranquilamente, com a família do artista e lá se vai a obra de Abelardo da Hora para um museu já pronto, no vizinho estado.
Francamente! Chamo isto de ignorância administrativa-cultural imperdoável. Perdemos a preciosa chance de ganhar outro museu que testemunharia os valores
culturais de Pernambuco. Sinto profunda vergonha. Quer saber mais sobre o artista? Clique em: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa21706/abelardo-da-hora
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Abelardo da Hora com uma das suas obras. |
Quem fez certo foi Ricardo Brennand que, com próprio cacife, ergueu seu próprio museu - mais deslumbrante de Pernambuco - eleito um dos mais bonitos do mundo, no
Instituto Ricardo Brennand, nas terras da família, no bairro da Várzea (Oeste do Recife) reunindo joias da arte mundial. Não me
canso de visitá-lo. Veja mais em: http://www.institutoricardobrennand.org.br/
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Vista aérea do Instituto Ricardo Brennand |
Outra coisa,
que me ocorre lembrar agora, é da coleção de artesanato brasileiro (sobretudo do Nordeste) que pertence ao meu amigo e primo Carlos Augusto Lira. Tomara
que o Estado saiba, um dia, preservá-la. É outra coisa de valor inestimável. Pode
render um belíssimo museu. Ainda bem que, precavido, Carlos Augusto já fundou o
Instituto Lira para salvaguardar seu acervo, aqui no Recife.
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Pequena amostra do acervo do Instituto Lira |
É isso aí, fiquemos vigilantes porque agindo desse modo as autoridades pernambucanas, aos poucos,
apagam os melhores testemunhos da nossa história cultural e entram nela de modo negativo. Estou de olho!
NOTA: Fotos obtidas no Google Imagens
5 comentários:
Alguns vão gostar, como Brennand e Carlos Augusto. E outros, com certeza não, como nosso governador. É o preço. Abraços.
Adorei seu blog.Muito pertinentes suas colocações!
Girley,
Quando no Jornal do Commercio, via Ricardo Leitão, tomei café da manhã, com o Governador Miguel Arraes, disse que
íamos contar a História do Estado, em 30 capítulos, sob o título “Pernambuco Imortal”. De pronto aprovou, dizendo:
-“Para mim, é uma felicidade sem tamanho patrocinar a História de Pernambuco porque, vou lhe dizer Giovanni, o ruim
do meu exílio foi que a comunidade que estava não tinha história..e, Pernambuco tem!!, e linda, é com prazer que vou pa-
trociná-la”. Girley, só contei para mostrar a grande diferença..e, ele, nem pernambucano era.
Girley, Bom Dia.
Parabéns pelo artigo.
Severino Araujo
Girley, obgdo pelo envio do seu blog, sempre uma excelente leitura que contribui para aumentar meus conhecimentos. Grande abraço
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