Dias
recentes uma notícia alarmante chamou atenção dos brasileiros e, certamente, de
estrangeiros ligados às coisas do Brasil. Refiro-me ao resultado de uma
pesquisa realizada pelo Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS) em
parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG e publicado no que eles
denominam de Anuário da Segurança Assistencial Hospitalar no Brasil dando
contas de que em torno de 829 brasileiros morrem – diariamente – nos hospitais públicos e privados do país por
causas perfeitamente evitáveis. É algo assustador! Equivale dizer que a cada
cinco minutos morrem 3 brasileiros por motivos banais e irresponsáveis. É a
segunda maior causa de morte, atrás somente das doenças cardiovasculares.
Segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia, aproximadamente, 950 pessoas morrem
por dia por esta causa.
Imaginem que
por essa conta, em 2016, 302.610 brasileiros morreram por “evento adverso”,
como denominam esses casos, no meio médico. Os motivos apurados foram coisas do
tipo: erros de dosagens administradas, troca de medicamentos, medicamentos
vencidos ou deteriorados, uso incorreto de equipamento, negligencia de
profissionais, infecção hospitalar, entre outras causas inadmissíveis e banais.
Coisas perfeitamente evitáveis, segundo os pesquisadores.
Aí está o
que sempre venho dizendo: falta de profissionalismo do brasileiro. Tanto no
meio médico como em várias outras atividades. Não tenho – pelo menos hoje – parâmetros
mundiais para fazer uma comparação do caso em tela. Mas, nem por isso será
motivo de relevar essa absurda constatação. Até quando viveremos nessa cultura
do tô-nem-aí ?
E tem mais:
fora os óbitos contabilizados, outro contingente de enfermos se salvam da morte,
mas, restam com sequelas que os impedem retornar às atividades comuns, gerando
frustrações e desequilíbrios psíquicos, além de elevado custo assistencial.
Segundo a Pesquisa, em 2016, dos 19,1 milhões de internados nos hospitais
brasileiros 1,4 milhão “recebeu alta” com sequelas irreparáveis.
por outro lado, entre os “eventos
adversos”, um deles se destaca e se refere à “praga” da infecção hospitalar! São
responsáveis por 14,7% das ocorrências indesejáveis. É doloroso saber que nos
casos de óbitos, nos quais as infecções são mais comuns, resultam num alto grau de gravidade pelo seu caráter
sistêmico. Ou seja, altamente transmissíveis e difícil de ser erradicada. Conheço pessoas que temem muito
mais uma infecção hospitalar do que uma moléstia grave.
Há exatos
dois anos fui submetido a uma cirurgia de grande porte para re-vascularizar meu músculo
cardíaco. Sofri um infarte e fui levado dias depois à mesa de cirurgia. Da operação
em si, posso afirmar que tudo me ocorreu às mil maravilhas e dada a competência da Equipe Médica. Não senti uma dor,
por mínima que fosse, e hoje conto a história. Meu drama do pós-operatório ficou
por conta de um “inferno” chamado UTI e, mês depois, uma tremenda infecção
hospitalar de dentro para fora da minha caixa torácica. Uma desagradável surpresa,
misturada a uma revolta sem tamanho. Como um hospital de referencia, no polo
médico do Recife (tido como o segundo do país) pode ocasionar tamanha
barbaridade? Operado em Novembro, somente em Março do ano seguinte fui tido
como livre da “praga”. Lembro que na fase de recuperação, num apartamento do
Hospital, o entra-e-sai de
assistentes era simplesmente irritante. Aferiam minha pressão arterial
incontáveis vezes por dia e tiravam meu sangue para medir a glicemia de duas em
duas horas. A propósito disso, meus dedos ficaram iguais à tábua dos pirulitos
de Seu Biu, que passava na minha casa, quando criança. Injeções e comprimidos? perdi a conta! E, no meio dessa “balburdia”,
a mulher da limpeza, com um acintoso par de luvas infectadas de sujeiras
hospitalares, claro, passava a mão na mesma maçaneta da porta que a enfermeira
me prestava seus serviços de atenção e administração de medicamentos. Coisa de
louco. Minha esposa que é Médica, e não me largou um só instante, querendo dar
jeito nessa confusão insalubre, “declarou guerra” às assistentes e, não precisa
dizer, angariou muita antipatia. Vai ver que a infecção que tive foi maldade
das “profissionais” revoltadas. Sorte que minha primeira decisão pós-operatório foi
acatar o “convite” de ir pra casa, formulado pelo cirurgião assistente que me
deu alta no quinto dia de operado. Um alívio! (leia também: http://gbrazileiro.blogspot.com.br/2016/01/a-qualquer-momento-tudo-pode-mudar.html )
Mas, a propósito
de “inferno” chamado UTI, li na semana passada um depoimento de Cláudio Moura Castro, que transcrevo trecho,
sob o titulo Abelhas... E quatro dias na
UTI (Veja, Edição 2557, ano 50, Nº 47, 22.11.17, pp71) a respeito de sua
passagem, de quatro dias, por uma dessas Unidades de um certo Hospital João XXIII.
Não sei de onde. Isso, após ter sido atacado
de forma mortal, por um enxame de abelhas, certamente da espécie africana, num
passeiozinho campestre, no dizer dele. Pois bem, a tal UTI descrita me fez
lembrar a que vivi três dias, aqui no Recife. Segundo Moura Castro, “Dia e
Noite brilhavam as luzes. Como os pacientes estão quase todos entubados e
parecendo mais pra lá do que pra cá, as dezenas de funcionários e médicos
conversavam, sem nenhum esforço para moderar o volume. Alguns falavam de
medicamentos, uma do biquíni novo, outra da troca de turno com a colega.” Igualzinho
à “minha” UTI. Relembrei minha fatídica experiência, em 2015. Não desejo a
ninguém passar pelo que passei.
Os profissionais da área médica brasileira precisam urgente receber um choque de gestão
hospitalar humanizada, respeitando o paciente e fazendo da sua profissão um nobre
sacerdócio.
NOTA: Ilustrações obtidas no Google Imagens
8 comentários:
Passei por isso duas vezes, na primeira passei 10 dias na UTI, e o inferno foi exatamente esse que você descreve. Na segunda, após um transplante hepático, o médico me deu alta no terceiro dia com medo da infecção hospitalar. Lamentável!
Nunca imaginei que os índices de mortalidade, nesses casos, fossem tão altos.
António Jose de Melo
Parabéns de novo, muito providencial, justamente por conta da falta de eficiência dos serviços públicos, seja na questão da prestação do serviço de saúde, seja na fiscalização dos prestadores privados.
Ricardo R. Barros
Girley ,estive com minha irma na UtI de um hosppital em Sao Paulo e ela passou por exatamente o mesmo q v.A falta de respeito e compaixão pelo doente,que esta naquela situacao tao vulnerável é impressionanete.Odoentenao ficoudoente do cerebro pq fez um procedimento coronario ou pq está co. fibrose no pulmão ,no caso da minha irmã ,eles conversavam sobre sua morte co. a maior sem cerimônia. Vá reclamar pro Papa.
Syderia Moreda
É difícil primo!
António Carlos Neves
Que horror! Compartilho.
Maria Regina Pinto Ferreira
E OS EMPRESÁRIOS DA EDUCAÇÃO & CULTURA BRIGAM PARA ABRIR MAIS E MAIS ESCOLAS DE MEDICINA DO TIPO "PAGOU, PASSOU"... "E NÓS QUE SE LASQUE", COMO DIZ UM ESTUDANTE DO ENEM... SAÚDE E PAZ, GIRLEY. ABRAÇO.
Sobre a sua observação,(... ) do não cumprimento das normas de qualidade e tbm de profissionais ñ preparados, exige uma aparelhagem e pessoas com maior sensibilidade esquecemos o ser humano, que possa exercer suas funções com maior qualidade! Abraço Romero Marques
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