São muitos os prejuízos decorrentes da atual crise na qual o Brasil está mergulhado. Inútil enumerá-los porque são bem sabidos e vivenciados por todos. Todos, mesmo. Um desses prejuízos, contudo, tem sido relativamente pouco visualizado. Refiro-me à desilusão que atinge os jovens integrantes da força de trabalho que chega ao mercado, a cada ano. O crescimento vegetativo da população vem crescendo, segundo o IBGE, a uma media anual de 1,24%. É uma taxa significativa e, obviamente, o crescimento da população entre 18 e 30 anos não para aumentar. Enquanto isto, as oportunidades de engajamento no mercado de trabalho estão escassas ou quase nulas, em certos segmentos. Um desespero para quem investiu duramente numa formação profissional e cai nesse ambiente hostil, no qual se fala mais de desligamentos do que de admissões.
Resultado
disso tudo é que os que fazem parte dessa parcela da sociedade estão sendo
empurrados para um limbo (entendo que se trata de um lugar marginal, sem luz e
sem futuro certo), no dizer do cientista Ricardo Henriques (Economista do
Instituto Unibanco) em entrevista ao jornal Valor
Econômico de 16.08.17. Nesse limbo perambulam tateando em busca de uma
solução de sobrevivência e organização do futuro. É, portanto, uma geração
prejudicada cuja perspectiva é de um tempo de dificuldades ilimitadas.
Sem soluções
econômicas imediatas, esses jovens em desespero, se lançam quando bem
“sucedidos” em atividades informais, geralmente
muito diferente da formação acadêmica que tiveram e sem as garantias que a
formalidade lhe assegura. Alguns vencem. Outros se perdem no meio do caminho.
Serão brasileiros frustrados nos seus projetos de vida e integrantes do já
grande contingente de cidadãos revoltados com a instabilidade do país.
Ela estudou muito, mas, caiu no mercado informal. |
Há também os
que fogem para outros países, onde esperam iniciar uma vida mais digna e
produtiva. Naturalmente que essas fugas não são nada fáceis haja vistas para
aqueles que escolhem, por exemplo, os Estados Unidos – que exerce um poder de atração fantástico
– e se lançam em aventuras arriscadas, inclusive a da entrada clandestina, via
México, pelas mãos dos chamados coyotes. Muitos perdem a vida na travessia.
Outra
parcela desses jovens, aqueles com melhores condições econômicas, se aventuram
de forma honesta, dão adeus ao Brasil e se organizam noutros países onde passam
a viver com mais tranqüilidade, segurança e dignidade, ainda que na maioria dos
casos sem exercer a profissão para a qual se preparou. São jovens inteligentes,
com capacidade de por mãos à obra e que poderiam empreender no país de origem,
mas, não encontram ambiente propício. As políticas de promoção do
empreendedorismo na sua grande maioria não passam de retórica. E quando dão
sinais de viabilidade, esbarram nas dificuldades do famigerado Custo Brasil.
Faltam financiamentos, subsídios, juros civilizados, carga fiscal digna e bem
aplicada, capacitações específicas,
segurança jurídica, infra-estrutura, entre outros itens. Falta quase tudo! Nem
a vontade resta! Isso sem esquecer que a cultura da corrupção reinante se constitui
num pano de fundo desta onda de desilusão.
Tenho tido oportunidade
de ver muitos jovens arrumando as malas e se despedindo para sempre. Jovens com
formações superiores e revoltadas por ter que partir para construir uma nova
vida, abandonando família, amigos e a boa vida de Pindorama.
Dois países
se destacam como destinos mais procurados: Austrália e Canadá. Este faz com
alguma freqüência promoção de boa vida e empregos abundantes, aqui no Brasil.
Aqui no Recife, inclusive. São levas de brasileiros por lá. Conheço alguns.
Já na
Austrália, por onde ando vez por outra, encontro muitos jovens brasileiros
trabalhando em bares, restaurantes, parques, entre outros locais, felizes por
estarem distantes desses imbróglios político-sociais brasileiros, da insegurança,
dos baixos salários, do desrespeito ao trabalhador e das inúmeras outras
desvantagens corriqueiras no dia-a-dia por aqui. Jovens advogados,
administradores e engenheiros brasileiros preferem servir em restaurantes e
bares australianos, sendo bem pagos por hora, do que receber salários
miseráveis no mercado brasileiro.
Esta semana, por exemplo, fiquei pasmo com a
definição, pela OAB, do piso salarial de um advogado aqui no Brasil, que é de
R$ 2,0 mil. É quanto se paga a um desses jovens, quando empregado numa banca
bem estruturada. Isto se quiser! Caso contrário, vá bater noutra porta ou mude
de ofício. Ou então vai ser garçom em Sydney, Melbourne ou Perth.
A grande
maioria vai e não deseja voltar. Vão ficando, se radicando e pronto! Quanta
inteligência perdida. Quanta insensatez desses nossos governantes.
NOTA: Ilustrações obtidas no Google Imagens.
3 comentários:
Como sempre, excelente o texto.
Ina Melo
Permita-me salientar que Vosmecê deixou de considerar os que "se formam em política" e vão ganhar milhões apenas assinando o ponto. Esses jamais sairão da Terra Brasilis... Parabéns por mais um texto lúcido e enxuto.
Parabéns Girley, enorme percepção do real problema Brasileiro, vale enfatizar que os R$2.000,00 como salário base do advogado em Pernambuco agora é lei estadual, mas mesmo assim ainda haverá os "jeitinhos", além de ficar bem aquém do que se possa dizer "digno"
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