segunda-feira, 26 de agosto de 2024

Democracia, onde estás que não te vejo?

Tem sido impossível manter o propósito de evitar a pauta de ordem politica no Blog. A dinâmica dos desmandos e as atitudes antidemocráticas que se multiplicam, ao nosso redor, conduzem a uma única saída que é a do protesto. Noutras palavras, quem cala consente! Até quando a Democracia será tratada com tanta vileza e aos olhos e ouvidos dos seus naturais defensores. Mais que isso e tristeza dolorosa é vê-la sendo usada como máscara de regimes autoritários e massacrante aqui, ali e alhures. Sexta-feira passada, amanheci lendo uma das páginas mais bem escritas, em defesa da Democracia (D maiúsculo) assinada pelo ilustre jurista pernambucano, Dr. José Paulo Cavalcanti Filho, (ex-Ministro da Justiça), no Jornal do Commércio, do Recife, no qual, de modo competente, fundamentado e didático joga luzes sobre as arbitrariedades que vêm sendo cometidas pelo Superior Tribunal Federal - STF do pais, sob o titulo de Sobre os Ritos do STF e a Nossa Voz. Ao final da leitura, que bateu forte na minha consciência de cidadão republicano, decidi repercutir neste post, fugindo assim do tal proposito mencionado. Indiscutivelmente, já passa da hora de usarmos da nossa voz e do nosso poder de cidadão real defensor da Democracia e não dessa coisa do “faz de conta” que se pratica no Brasil de agora e com pretensões claras de se perpetuar. Cavalcanti alertou, com realce e que destaco, para um dos mais absurdos atos que vêm sendo corriqueiramente praticados pelos nossos ministros superiores que é o da decisão monocrática. Segundo o articulista, este é o único tribunal superior do mundo que admite esse tipo de decisão, muito embora o Art.97 da Constituição Federal reze que “somente pelo voto da maioria absoluta de seus membros... poderão os tribunais declarar a inconstitucionalidade de lei”. Em tom desafiador, Cavalcanti pergunta: “Por que fazem, sabendo que não podem fazer?” engrossando, assim, o coro dos que acompanham e denunciam os desmandos de um Poder que existe para preservar e fazer valer os termos da Constituição Federal. Enfim, tanto Cavalcanti, quanto qualquer cidadão que tenha noção dessas anomalias que se praticam no atual STF, há de registrar o lamentável distanciando que se cristalizam dos verdadeiros referenciais de uma sociedade democrática e com bases republicanas. Pobre Brasil! Democracia, onde está que não te vejo?
Se o “faz de conta democrático” é uma preocupação para muitos brasileiros, o que dizer da situação desesperadora que vive o povo venezuelano? Não obstante, a repercussão internacional negativa do resultado proclamado das eleições de 28 de Julho passado, o Ditador Nicolás Maduro – que garante ser um democrata – dá uma de “tô nem aí” se mantendo firme e forte no comando da nação vizinha, principalmente após a ratificação da sua “vitória” pelo Tribunal Supremo de Justiça – TSJ, ao longo da semana finda. Os protestos populares se repetem, mas, temo que percam a força inicial porquanto a opressão policial sufocante das forças do Ditador se intensifiquem, como se vê noticiada pelo mundo afora. O Brasil (!) e a Colômbia não reconheceram a vitória de Maduro e se mantêm naquela de cobrar as atas emitidas nas sessões eleitorais, a serem submetidas à uma auditoria internacional. Como visto, se trata de uma demanda radicalmente negada pelos órgãos dos poderes venezuelanos – Conselho Nacional Eleitoral (CNE) e Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) – manobrados pelo Ditador e, consequentemente, sem independência e imparcialidade. Esse rolo ainda promete. Democracia, onde estás que não te vejo? Subindo, um pouco acima da linha do Equador, mais um Ditador dá as ordens com mão de ferro (e ferro quente!) na pequena Nicarágua. Daniel Ortega, de herói nacional no passado se tornou num dos mais sanguinários ditadores que se tem conhecimento. Ele governou na década de 1980, após uma vitoriosa revolução sandinista e desde 2007 regressou ao poder sempre sendo reeleito por votações nunca reconhecidas pelos Estados Unidos e União Europeia, além de inúmeros organismos internacionais. Em 2018, após protestos contra seu regime ditatorial, Ortega incrementou seu “arsenal” jurídico e massacrou a população resultando em mais de 300 mortos, segundo as Nações Unidas. Agora, na segunda-feira (19) passada, o Ditador, através do seu Ministério do Interior cancelou registros jurídicos de, aproximadamente, 1.500 ONGs e avisou que vai confiscar suas propriedades. Ora, esse regime está apertando e a pressão esquenta ainda mais. Segundo o UOL, foi o maior fechamento em massa de organizações que, somadas com anteriores, já chegam ao total de 5.100! Detalhe importante a destacar é que as organizações fechadas são principalmente religiosas – as mais perseguidas por Ortega – associações de caridade, desportivas, indígenas, ou as ligadas ao regime sandinista. Fiquei pasmo ao tomar conhecimento de que, entre essas cassações foram incluídos os clubes de Rotary nicaraguenses. Francamente. Ai, pergunto: Democracia, onde estás que não te vejo? NOTA: Ilustração obtida no Google Imagens.

terça-feira, 20 de agosto de 2024

A vida é um Sopro

Quando criança, uma das minhas rotinas semanais, tardes de sábado, era frequentar a Escola de Catequese que funcionava na capelinha da Pequena Cruzada de Pernambuco, localizada no bairro da Tamarineira, aqui no Recife. Era divertido. Além do catecismo, havia recreação e lanches apetitosos. Desse tempo, guardo uma memória que sempre me deixou curioso e, até mesmo, intrigado ao lembrar-me que as catequistas que se revezavam nunca perdiam oportunidade de narrar, com muita segurança, que Deus, quando criou o mundo em sete dias, transformou – com um sopro – um boneco de barro dando origem ao primeiro ser humano (Adão?) e de uma costela dele criou a mulher (Eva?). Ouvindo aquilo, sempre imaginei a dor que o sujeito sentiu. Essa historia do sopro era um mistério danado na minha cabeça de criança. Nem preciso dizer que tentei dar uma de Criador – não sei se com respeito ou medo – soprando um boneco de barro que engendrei nas bandas de Fazenda Nova (PE), durante as férias, na casa dos meus avós. Acredito que fiquei decepcionado ou aliviado, com o resultado. Sei lá... Depois que cresci e que tomei conhecimento das origens e evolução do ser humano, o Homem de Neandertal etc, e tal, senti no intimo algum alivio. Saudades do inocente que fui e dos tempos bons de criança. Passou... Curioso é que essa ideia de sopro povoou, de repente, minha cabeça de cidadão idoso, nesses últimos dias, diante de episódios que foram noticias em todas as mídias do país. O acidente aéreo no interior de São Paulo e as mortes repentinas de conhecidos levaram-me a concluir que a vida é um sopro.
Acidentes acontecem de modos dos mais diversos. Seja lá como seja, a realidade é dura e cruel. Um acidente aéreo, como o da semana passada, é sempre muito comovente, dado o número de vitimas que provoca. Acompanhei com imenso pesar todas as reportagens da tragédia e senti como se fossem pessoas conhecidas. Habituado a voar por toda minha vida e tendo filhos que vivem no ar (um deles viajou, dia seguinte, numa aeronave idêntica ao do acidente em São Paulo e outro já voou, até poucos meses, mais de um milhão de quilômetros), batem forte na minha cabeça de pai e avô dedicado. Dói-me lembrar que, como num sopro, aquelas pessoas que faleceram no acidente sentiram, seguramente e com pavor, o fim da vida num instante. Assim como num sopro. Simples e doloroso. Quantos sonhos e projetos foram deletados naquele sopro. O que dizer do jovem casal que se dirigia a um longo estágio num país da Europa? E do casal de idosos que iam visitar um neto recém-nascido no Rio de Janeiro? Da professora que retornava de uma missão no interior paranaense? Não há respostas! Muito difícil de entender. Falha humana é o que alguns dizem. Nesses casos a culpa tende ser sempre do piloto. Maldade. Foi desse modo que concluíram o processo sobre o avião da Air France que mergulhou na costa brasileira, anos atrás. O profissional, por mais competente que haja sido considerado em vida, termina sempre sendo apontado como culpado. Parece ficar bem mais fácil, para os legítimos culpados, do que procurar apontar os verdadeiros responsáveis. Pior ainda quando já surgem narrativas mais honestas e dão conta de que a empresa aérea paulista não vem procedendo as revisões e manutenções regulares das suas aeronaves. A primeira versão, inclusive, de congelamento da fuselagem prejudicando a sustentabilidade do voo pode, muito bem, ser considerada como uma prova dessa má administração da empresa. Os inocentes pagando com suas vidas a incapacidade de manter uma empresa no ar. Mundo cão! A vida não passou de um sopro, também, para meu amigo que se engasgou com algum alimento, no café da manhã de ontem, vindo a óbito ali à mesa. Pense na situação. Cidadão vivo e bulindo e, num átimo, ser dado como morto. Desesperador. Pior foi saber que muitos são promovidos à eternidade desse modo. Recordo que há dois anos perdi outro amigo na hora que jantava. Esse desabou da cadeira e já caiu morto. Assustador. Já outro faleceu enquanto dormia. Com todo respeito foi daqueles casos que o povão sai dizendo que “fulano acordou morto”. A esposa desse caso, embora dormindo ao seu lado, nada percebeu e só descobriu ao tentar acordá-lo para tomar o desjejum. Feliz, mesmo,foi Silvio Santos que partiu na calma de um hospital, rodeado de familiares, nadando em dinheior e abalou o Brasil. Como diz o ditado popular “para morrer basta estar vivo”. Deus nos dê boas horas finais. Amém.

Cenas Hilárias

Nada melhor do que uma boa risada. Ainda que em momento episódico não seja cabível, passado o momento fica impossível segurar. Bom mesmo é ...