segunda-feira, 10 de junho de 2024

Rumos da Educação

Perdi as contas de quantas vezes atribui à falta de Educação de base do povo brasileiro pelos renitentes problemas estruturais da nossa sociedade. No âmbito politico, no trato da saúde pública, no manejo do meio ambiente, na preservação do meio urbano, na insegurança, no desrespeito ao próximo, enfim uma infinidade de aspectos que resultam numa insatisfação coletiva. É verdade que o analfabetismo vem caindo e já há registros de muitas diferenças entre os informes nas décadas recentes. Contudo, é doloroso saber, por exemplo, que a taxa do Nordeste ainda é o dobro da media nacional, muito embora uma melhoria expressiva nos últimos 12 anos, conforme dados do Censo de 2022 do IBGE. Hoje, no Brasil como um todo, apenas 7% da população é de analfabetos. Mas, no Nordeste essa taxa chega aos 14,2%. É na Região Sul onde se encontra a melhor taxa de alfabetizados, 96,5%. É doloroso tomar conhecimento de que 50 municípios brasileiros têm índices de analfabetismo iguais ou superiores a 30%. E que 48 desses estão no Nordeste. Os dois restantes são no estado de Roraima, Norte do País. Os piores registros de analfabetismo foram colhidos em Alagoas (17,7%) e no Piauí (17,2%). São dados, também, do Censo de 2022. Isto posto é duro saber, contudo, que o número de alfabetizados escondem uma realidade desanimadora visto que, nessa população dita alfabetizada, de 15 anos ou mais, o mais comum é encontrar jovens que não sabem ler e escrever a contento, não sabem redigir uma simples mensagem, nem interpretam um texto que lhe seja apresentado. Agregue-se a isto o fato de que são incapazes de dominar as mais simples das operações aritméticas. Geografia e História são coisas que passam distantes das suas imaginações. Ou seja, estamos às voltas com um sistema educacional de base falho e incapaz de preparar o cidadão do futuro de forma adequada e exigido pelo mundo em evolução galopante. Ouço muitas vezes falar em compras de equipamentos atualizados, computadores, tabletes, entre outros, a serem distribuídos com a meninada matriculada nas escolas publicas, mas, além de ficar curioso quanto ao uso devido, tenho dúvidas dos corretos destinos desses equipamentos. Mesmo porque, em última instancia, os agentes operadores dessas distribuições podem ser oriundos dessas levas de cidadãos mal formados e sem escrúpulos. É um desafio... desafiante.
Semana passada tive a oportunidade de assistir a uma conferencia proferida pelo Professor Cristovam Buarque (foto acima), de passagem pelo Recife. Considero se tratar de um dos maiores pensadores a respeito da Educação no Brasil. Idealizador do Programa da Bolsa Escola (depois transformado em Bolsa Familia) terminou fazendo história. Não foi à toa que exerceu o cargo de Ministro da Educação (primeiro governo Lula). Buarque fez, como ninguém, um resumo da situação vexatória do setor no país e, como de se esperar, arriscou algumas propostas a serem discutidas e, quem sabe, adotadas. A primeira assertiva do ex-Ministro, naquela noite, foi alertar de que o Ministério da Educação é o ministério das Universidades. De fato, esse Ministério pouco se liga na formação de base do cidadão, à medida que as responsabilidades institucionais são delegadas aos governos estaduais e municipais. Ora, meu Deus, com tantas precariedades de administração e pobreza financeira desses níveis de governos pouco se tem a se esperar. Num ambiente assim, o analfabetismo pode até ser superado, mesmo no Nordeste, mas a formação de cidadania continuará, por longo tempo, a desejar. Serão formadas levas e mais levas de analfabetos funcionais (¹). Para Cristovam Buarque o melhor caminho para solucionar este grave problema de base é federalizar o ensino básico do país. Sugeriu até mesmo a criação de um Ministério da Educação de Base. O ex-Ministro foi enfático ao cravar uma frase taxativa, e de efeito, ao afirmar que “não adianta fazer planos nacionais de educação enquanto a execução for municipal”. Buarque fechou sua conferencia no Recife detalhando uma proposta de 10 passos para viabilizar a federalização da educação de base, a saber: criar o Ministério da Educação de Base; Definir três pisos nacionais para a Educação (salario do professor/equipamentos e instalações/conteúdo programático; garantir a universalização da educação fundamental; garantir a universalização do ensino médio; ter uma Lei de responsabilidade Educacional; Jornada de 6 horas em todas as escolas do país; Criar um Cartão Escolar de acompanhamento Federal; Promover um ambiente educacional; montar um Sistema Nacional de avaliação, acompanhamento e fiscalização e, finalmente, ampliar as dotações orçamentárias da União para o setor. Não tenho duvidas de que seria uma verdadeira revolução no Setor. Mas, é preciso ser um educacionista (assim que Buarque se intitula) renitente para, nos dias de hoje, num Brasil “doente’ politicamente, pensar num nirvana desse. Vou morrer torcendo pelo sucesso desse projeto de Buarque e, enquanto isso, amargar a vida num ambiente tão dispare da atualidade mundial. (¹) Analfabetos funcionais são pessoas que mesmo sabendo ler e escrever não têm capacidade para interpretar um texto e realizar operações aritméticas. São pessoas com poucas chances de progresso e participação social a contento. NOTA: Foto obtida no Google Imagens.

Os inocentes pagam pelos pecadores

Nesta Sexta-Feira (30/08), postado confortavelmente diante da TV, taça de vinho ao alcance da mão e a bordo da minha poltrona favorita, apre...