A inauguração do
Polo Automotivo Jeep, foto abaixo, primeiro projeto conjunto da ítalo-americana FCA –
Fiat/Chrysler Automobiles, hoje (28.04.15), aqui em Pernambuco, tem sabor de
sonho realizado. Senti na pele esta experiência ao participar da solenidade de
inauguração. Era um desejo antigo do estado e somente agora realizado. Acompanhei
de perto, ao longo dos últimos 30 anos, as investidas e esforços aqui
realizados na busca da realização deste sonho.
Recordo do final da década de 80, quando a SUDENE – no auge dos ares de redemocratização do país – anunciava um audacioso plano de consolidação da indústria regional. Fruto de um intenso trabalho participativo da sociedade organizada, a proposta da agencia federal de desenvolvimento, além de surpreender seu publico alvo, pré-estabelecia regras criteriosas para o uso da bateria de incentivos fiscais e financeiros por ela administrados, além de servir como referencial de orientação para potenciais investidores privados. Os 20,0 Bilhões de Dólares projetados para que a proposta saísse do papel foi considerado, à época, audacioso, sobretudo por se tratar do pobre e coitadinho Nordeste. “Quanta audácia!” “O que essa gente está pensando?!” “Perderam a noção de grandeza das cifras?” Foram criticas ouvidas fora da Região.
Tive o privilégio, no posto de Coordenador de Planejamento Industrial da própria SUDENE, de mobilizar e animar atores sociais em todos os estados da Região, discutir com eles as vocações e potencialidades locais e, enfim, “orquestrar” a elaboração da tal “ambiciosa” proposta. Para tão inédita tarefa reuni uma equipe de bons e experientes técnicos da Casa e alguns consultores especialistas convidados e com eles realizamos um trabalho gratificante, de crescente entusiasmo e, tenho prá mim, uma das melhores experiências na vida profissional de cada integrante do grupo. Lembro-me que ao entregar o texto final ao Superintendente do Órgão assegurei-lhe, cheio de entusiasmo, que ali estava um desenho do Nordeste industrializado e capaz de contribuir para a desconcentração industrial do país, um objetivo claro naqueles tempos.
Numa perspectiva de Região o que resultou do esforço sugeria a distribuição espacial de projetos estruturadores em pontos estratégicos do Nordeste sudeniano e compatíveis com as vocações e disponibilidades naturais conhecidas. O quadro final previa investimentos em projetos capitais, voltados à dinamização da indústria local como um todo e colocar o Nordeste no mapa do Brasil industrializado. Os destaques ficaram por conta de uma megausina siderúrgica no Maranhão, aproveitando a disponibilidade elástica do minério de ferro da Serra dos Carajás, no Pará, produto até então exportado em estado bruto principalmente para o Japão. Dadas às ocorrências de petróleo nas costas do Ceará e Rio Grande do Norte a ideia mais lógica e sugerida foi a de implantar uma refinaria nas imediações fronteiriças destes dois estados. Mais embaixo, na Bahia, foi unanimidade a ideia de ampliar o Polo Petroquímico de Camaçari para atender a crescente demanda de matérias primas derivadas do petróleo. Aos vizinhos Sergipe e Alagoas a proposta foi de desenvolver o chamado eixo cloro-químico já em andamento na ocasião. E para Pernambuco... Bom, para Pernambuco, estado pobre em recursos naturais (sabe-se, apenas e até hoje, do gesso no Araripe), a saída encontrada foi de, capitalizar a experiência acumulada no segmento metal-mecânico, historicamente relacionado com a agroindústria sucro-químico-alcooleira regional, buscando atrair investimentos para produção de bens de capital, caldeiraria moderna, produtos da linha branca, uma laminadora de aços planos e, por fim, uma montadora de veículos. Lembro-me bem que esta última proposta foi defendida com entusiasmo pelo empresariado local tendo em vista seu poder estruturante e germinativo. No ambiente instalado, o Sindicato Patronal do Setor, em Pernambuco – o Simmepe – atento ao referido entusiasmo e sabedor das intenções de nomes importantes da indústria automobilística mundial em se instalar no Brasil, deflagrou uma campanha e investiu politicamente entrando na “briga” por uma fabrica de veículos no estado. A campanha era bem sugestiva e se espalhou com um marcante slogan “Pernambuco quer uma montadora para andar”. (Foto abaixo, com reprodução de noticia na imprensa local). Mas, não foi daquela vez. A Ford – alvo das investidas dos pernambucanos – se “penerou” pras bandas do Rio Grande Sul, onde não obteve os incentivos que queria e terminou escolhendo a Bahia como localização graças a um forte esquema político e de incentivos do governo baiano. Mudou a cara da indústria baiana e é absoluto sucesso nos dias de hoje.
Aquele plano acima descrito, no final das contas, caiu no esquecimento e virou obra literária de planejamento industrial nas estantes da velha e finada SUDENE.
O tempo passou, o século 21 chegou mais rápido do que imaginávamos e uma verdadeira revolução industrial eclodiu num só lugar do Nordeste. Onde? Em Pernambuco, o estado pobre de recursos naturais e sem chances de se desenvolver industrialmente falando. Graças à força de suas lideranças políticas, os maciços investimentos em áreas de interesses específicos (Suape, por exemplo) e a participação de obstinados empresários, o estado se transformou num imenso canteiro de obras que delineiam uma radical transformação do aparelho industrial regional. Bom para o estado e para a região, naturalmente. Os investimentos previstos, naquele Plano da Sudene, com uma distribuição espacial cercada de “lógicas”, não vingou porque a componente vontade política é o que sempre prevalece. Em Pernambuco vingou e o estado terminou recebendo tudo que era desejado para muitos. Refinaria, Petroquímica, Montadora de veículos, polo vidreiro, polo de fármacos e, de quebra, investimentos nunca antes pensados como o Polo de Construção Naval e o de geração de Energia Eólica. Aqueles 20,0 bilhões de dólares previstos nos finais de 80 parecem irrisórios nos dias de hoje. Mesmo pensando nas taxas de inflação de lá pra cá.
Recordei tudo isso percorrendo a mega fábrica da Jeep esta tarde. Foto abaixo. Revisei o passado e vivi o presente. Coisa de quem consegue viver tempos um pouco mais elásticos. Eu vivo... e acho ótimo.
Nota: Fotos do arquivo pessoal do Blogueiro, exceto a primeira que é de divulgação da própria Jeep.
Recordo do final da década de 80, quando a SUDENE – no auge dos ares de redemocratização do país – anunciava um audacioso plano de consolidação da indústria regional. Fruto de um intenso trabalho participativo da sociedade organizada, a proposta da agencia federal de desenvolvimento, além de surpreender seu publico alvo, pré-estabelecia regras criteriosas para o uso da bateria de incentivos fiscais e financeiros por ela administrados, além de servir como referencial de orientação para potenciais investidores privados. Os 20,0 Bilhões de Dólares projetados para que a proposta saísse do papel foi considerado, à época, audacioso, sobretudo por se tratar do pobre e coitadinho Nordeste. “Quanta audácia!” “O que essa gente está pensando?!” “Perderam a noção de grandeza das cifras?” Foram criticas ouvidas fora da Região.
Tive o privilégio, no posto de Coordenador de Planejamento Industrial da própria SUDENE, de mobilizar e animar atores sociais em todos os estados da Região, discutir com eles as vocações e potencialidades locais e, enfim, “orquestrar” a elaboração da tal “ambiciosa” proposta. Para tão inédita tarefa reuni uma equipe de bons e experientes técnicos da Casa e alguns consultores especialistas convidados e com eles realizamos um trabalho gratificante, de crescente entusiasmo e, tenho prá mim, uma das melhores experiências na vida profissional de cada integrante do grupo. Lembro-me que ao entregar o texto final ao Superintendente do Órgão assegurei-lhe, cheio de entusiasmo, que ali estava um desenho do Nordeste industrializado e capaz de contribuir para a desconcentração industrial do país, um objetivo claro naqueles tempos.
Numa perspectiva de Região o que resultou do esforço sugeria a distribuição espacial de projetos estruturadores em pontos estratégicos do Nordeste sudeniano e compatíveis com as vocações e disponibilidades naturais conhecidas. O quadro final previa investimentos em projetos capitais, voltados à dinamização da indústria local como um todo e colocar o Nordeste no mapa do Brasil industrializado. Os destaques ficaram por conta de uma megausina siderúrgica no Maranhão, aproveitando a disponibilidade elástica do minério de ferro da Serra dos Carajás, no Pará, produto até então exportado em estado bruto principalmente para o Japão. Dadas às ocorrências de petróleo nas costas do Ceará e Rio Grande do Norte a ideia mais lógica e sugerida foi a de implantar uma refinaria nas imediações fronteiriças destes dois estados. Mais embaixo, na Bahia, foi unanimidade a ideia de ampliar o Polo Petroquímico de Camaçari para atender a crescente demanda de matérias primas derivadas do petróleo. Aos vizinhos Sergipe e Alagoas a proposta foi de desenvolver o chamado eixo cloro-químico já em andamento na ocasião. E para Pernambuco... Bom, para Pernambuco, estado pobre em recursos naturais (sabe-se, apenas e até hoje, do gesso no Araripe), a saída encontrada foi de, capitalizar a experiência acumulada no segmento metal-mecânico, historicamente relacionado com a agroindústria sucro-químico-alcooleira regional, buscando atrair investimentos para produção de bens de capital, caldeiraria moderna, produtos da linha branca, uma laminadora de aços planos e, por fim, uma montadora de veículos. Lembro-me bem que esta última proposta foi defendida com entusiasmo pelo empresariado local tendo em vista seu poder estruturante e germinativo. No ambiente instalado, o Sindicato Patronal do Setor, em Pernambuco – o Simmepe – atento ao referido entusiasmo e sabedor das intenções de nomes importantes da indústria automobilística mundial em se instalar no Brasil, deflagrou uma campanha e investiu politicamente entrando na “briga” por uma fabrica de veículos no estado. A campanha era bem sugestiva e se espalhou com um marcante slogan “Pernambuco quer uma montadora para andar”. (Foto abaixo, com reprodução de noticia na imprensa local). Mas, não foi daquela vez. A Ford – alvo das investidas dos pernambucanos – se “penerou” pras bandas do Rio Grande Sul, onde não obteve os incentivos que queria e terminou escolhendo a Bahia como localização graças a um forte esquema político e de incentivos do governo baiano. Mudou a cara da indústria baiana e é absoluto sucesso nos dias de hoje.
Aquele plano acima descrito, no final das contas, caiu no esquecimento e virou obra literária de planejamento industrial nas estantes da velha e finada SUDENE.
O tempo passou, o século 21 chegou mais rápido do que imaginávamos e uma verdadeira revolução industrial eclodiu num só lugar do Nordeste. Onde? Em Pernambuco, o estado pobre de recursos naturais e sem chances de se desenvolver industrialmente falando. Graças à força de suas lideranças políticas, os maciços investimentos em áreas de interesses específicos (Suape, por exemplo) e a participação de obstinados empresários, o estado se transformou num imenso canteiro de obras que delineiam uma radical transformação do aparelho industrial regional. Bom para o estado e para a região, naturalmente. Os investimentos previstos, naquele Plano da Sudene, com uma distribuição espacial cercada de “lógicas”, não vingou porque a componente vontade política é o que sempre prevalece. Em Pernambuco vingou e o estado terminou recebendo tudo que era desejado para muitos. Refinaria, Petroquímica, Montadora de veículos, polo vidreiro, polo de fármacos e, de quebra, investimentos nunca antes pensados como o Polo de Construção Naval e o de geração de Energia Eólica. Aqueles 20,0 bilhões de dólares previstos nos finais de 80 parecem irrisórios nos dias de hoje. Mesmo pensando nas taxas de inflação de lá pra cá.
Recordei tudo isso percorrendo a mega fábrica da Jeep esta tarde. Foto abaixo. Revisei o passado e vivi o presente. Coisa de quem consegue viver tempos um pouco mais elásticos. Eu vivo... e acho ótimo.
Nota: Fotos do arquivo pessoal do Blogueiro, exceto a primeira que é de divulgação da própria Jeep.